Ibovespa fura o teto e inaugura a era dos 158 mil pontos, com VAL3 puxando a fila das blue chips

Num pregão em que o “vento de fora” encontrou a “força de dentro”, o Ibovespa estreou no inédito patamar dos 158 mil pontos, impulsionado pela arrancada de VAL3, pela disparada dos bancões e pelo apetite global por risco. O índice subiu 1,70%, marcou máxima intradiária em 158.714 pontos e fechou o dia com recorde histórico de 158.555 pontos, deixando para trás a resistência dos 155 mil que segurou o mercado nos dias anteriores.

O movimento brasileiro ganhou ainda mais brilho em Nova York: o EWZ saltou 2,81%, desempenho muito superior ao ETF de emergentes, que avançou 0,72%. A influência externa veio principalmente do otimismo com cortes de juros nos EUA, que derrubaram as treasuries e fortaleceram ativos de risco pelo mundo.

O que destravou o rali histórico

A força das commodities fez diferença logo pela manhã, com o minério de ferro em alta e VAL3 avançando 1,49%, reforçando o peso da mineradora no índice. Logo depois, os bancões assumiram o volante do rali: Bradesco PN subiu 3,01%, e ações ligadas ao setor financeiro, como B3, recuperaram parte das perdas recentes.
Segundo operadores, o fluxo comprador mirou liquidez e empresas de grande peso, aproveitando um pano de fundo externo muito mais amigável.

Esse bom humor veio do Federal Reserve. Com treasuries recuando, indicadores de atividade mais fracos e dirigentes com tom mais suave, renovaram-se as apostas de que o Fed corte juros já em dezembro. Bolsas americanas reagiram em bloco — Nasdaq subiu 0,82%, S&P 500 ganhou 0,69% e Dow Jones avançou 0,67% — e o clima atravessou fronteiras até desembarcar na B3.

Bruno Perri, economista-chefe da Forum Investimentos, resume o papel do ambiente externo: “O apetite ao risco colaborou com a queda das taxas longas, favorecendo a bolsa brasileira. As bolsas americanas reagiram a sinais mais dovish do Fed, e esse movimento contaminou positivamente os emergentes.”

Fiscal no radar e IPCA-15 tirando parte do brilho

Apesar do rali, nem tudo foi euforia. O IPCA-15 subiu 0,20% em novembro — ligeiramente acima da mediana — e trouxe uma composição que incomodou analistas. Perri destaca que o dado veio “qualitativamente ruim”, puxado por serviços, o que respingou na parte curta da curva de juros e manteve o tom de cautela no mercado doméstico.
Além disso, tensões em Brasília continuam no pano de fundo. A “pauta-bomba” no Senado, associada à indicação para o STF, elevou o desconforto fiscal e limitou parte do otimismo na ponta curta dos juros.

Hapvida esteve entre as maiores quedas do dia, pressionada por rebaixamentos sucessivos após o balanço do terceiro trimestre, enquanto o restante da Bolsa surfava o bom humor global.

Câmbio respira e juros se dividem

O dólar caiu para R$ 5,3346 (-0,78%), puxado pelo enfraquecimento global da moeda americana e pelo movimento de busca por risco. Para Bruno Shahini, especialista da Nomad, a melhora no exterior, a recuperação das techs nos EUA e a alta das commodities abriram espaço para uma correção no câmbio. “Com núcleos e serviços em linha, o cenário de desinflação no Brasil continua bem ancorado e dá suporte ao real”, afirma.

Na curva, os juros longos recuaram acompanhando o alívio das treasuries, enquanto os curtos subiram por causa da inflação e do fiscal. O volume negociado pelo Ibovespa alcançou R$ 18,7 bilhões, um pouco acima da média anual, mas ainda aquém da intensidade do rali — sinal de que, caso o ambiente siga favorável, há espaço para mais fluxo comprador.

Maíra Telles

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