Temporada de balanços: o que esperar dos resultados das empresas?
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A temporada de balanços do segundo trimestre de 2025, que começou nesta terça-feira (22) com a Neoenergia (NEOE3), deve mostrar discrepâncias entre setores: com juros e câmbio elevados, além da inflação pressionada, analistas projetam notícias pos|itivas para exportadoras e um cenário desafiador para varejistas, por exemplo, enquanto os bancos devem ligar o sinal de alerta em relação à inadimplência. No panorama geral, a percepção é a de que os bons resultados de trimestres anteriores podem estar chegando ao fim, e os dados do 2T25 devem marcar essa virada.

Apesar do Ibovespa ter subido 6,60% no segundo trimestre, o plano de fundo macroeconômico observado entre abril e junho é marcado pela Selic em patamar ainda elevado, a 15% ao ano; inflação pressionada, com IPCA acumulado em 2,99% neste ano e câmbio relativamente estável em torno de R$ 5,55, além de tensões geopolíticas como o tarifaço de Trump.
Portanto, em relação aos balanços, enquanto algumas empresas (como as exportadoras) podem se beneficiar da alta do dólar, outras (como varejistas) podem sentir os efeitos negativos do crédito caro e da queda no poder de compra das famílias, por exemplo.
A seguir, confira as principais perguntas e respostas em relação aos balanços do segundo trimestre.
O que esperar dos resultados 2T25?
Malek Zein, analista da Eleven, afirma que o Brasil vem crescendo seu PIB há três anos, impulsionado sobretudo por crédito e gastos públicos. Diante dessa alavancagem, diz ele, os resultados das empresas vêm sendo muito bons, mas esse cenário pode estar perto do fim.
“Os balanços do 2T25 ainda devem refletir um pouco esse panorama, com uma deterioração esperada a partir da próxima temporada. O último dado de IBC-BR já mostra isso, e os dados de varejo começaram a desacelerar. Então esperamos uma temporada ainda boa, mas já está todo mundo olhando para uma piora a partir do segundo semestre”, afirma.
O Morgan Stanley projeta um segundo trimestre de 2025 com resultados fracos, em dólares, para as empresas brasileiras. A estimativa do banco é de queda de 1% na receita, recuo de 11% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) e crescimento de 31% no lucro líquido, número que cai para -1% se excluirmos a Petrobras (PETR3; PETR4).
Já o Santander trabalha com números em reais e prevê, na comparação anual, um aumento médio de 9% na receita líquida, queda de 1% no Ebitda e crescimento de 58% no lucro líquido para o 2T25. Para os setores domésticos, o banco estima crescimentos de 11% na receita líquida, 14% no Ebitda e 5% no lucro líquido.
Na análise de balanços do segundo trimestre, a instituição destaca que a economia brasileira seguiu resiliente no segundo trimestre, mas começa a dar sinais de desaceleração. Após um crescimento de 1,4% no PIB no 1T25 (puxado pelo setor agrícola), a projeção da equipe macro é de alta de apenas 0,4% no 2T25.
O Bradesco BBI, por sua vez, também projeta desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, motivada pela Selic alta, mas pondera que os efeitos ainda não devem ser visíveis nos resultados do 2T25.
A casa espera um crescimento de 14% nos lucros domésticos em relação ao 2T24, número um pouco abaixo dos 16% registrados no 1T25. Além disso, os analistas estimam que o lucro por ação do índice MSCI Brasil deve crescer 36% na comparação anual. Isso se dá principalmente por uma base fraca no 2T24, especialmente nos setores de petróleo e gás (afetados por eventos pontuais da Petrobras )e no setor industrial, que agora podem apresentar os maiores avanços em 12 meses, diz o BBI.
Como a inadimplência impacta balanços trimestrais dos bancos?
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos explica que a Selic a 15% tem diferentes efeitos. Os bancos, como Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3), veem receitas de crédito crescerem, especialmente no rotativo e cheque especial. Contudo, o risco de calotes aumenta se o desemprego ou o superendividamento subirem, diz ele.
Justamente nessa linha, em relatório, a XP projeta uma alta na indadimplência dos bancos, à medida que o ambiente de juros elevados começa a surtir efeito. O NII de mercado, que diz respeito ao lucro do banco proveniente de suas operações de empréstimo e captação, também pode continuar pressionado pelo mesmo motivo, diz a casa, que ainda assim espera uma temporada de resultados para os bancos privados.
Como os juros altos afetam as empresas?
Patzlaff explica que a Selic em patamar elevado faz com que as empresas em geral sofram com custos de financiamento em alta. Debêntures, empréstimos e LCIs/LCAs ficam mais caros, reduzindo capacidade de investimento e ampliando despesas financeiras. Mesmo exportadoras de commodities podem enfrentar limitações, afirma o especialista, já que o juro encarece projetos de infraestrutura, indústria e varejo
“A temporada de balanços deve trazer resultados discrepantes por setor. Acredito que exportadoras e bancos devem apresentar números resilientes, sustentados por câmbio favorável e juros elevados. Por outro lado, varejistas, indústria e empresas com endividamento devem sinalizar desaceleração de demanda e pressão de custos”, afirma.
Dólar alto é boa notícia para exportadoras?
Jhonatas Deodato, especialista em investimentos CEA, também projeta um alto contraste entre os setores. Segundo ele, o dólar alto continua ajudando algumas exportadoras, mas as novas tarifas de Trump sobre o aço e outros produtos industriais podem afetar diretamente setores como mineração – que engloba a Vale (VALE3) e a CSN Mineração (CMIN3) – e siderúrgia – que envolve Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3) – sobretudo companhias que têm forte exposição aos Estados Unidos.
“Por outro lado, empresas com exportação mais pulverizada ou ligadas a alimentos, papel e celulose – como Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB11) – e proteínas ainda têm boas chances de mostrar números fortes. Também vale olhar para setores mais resilientes, como energia e saneamento, que seguem entregando resultado mesmo com toda a instabilidade macro”, afirma.
Qual é o panorama para as commodities?
Com a China demandando minério de ferro e petróleo, Patzlaff projeta uma boa temporada para empresas de commodities, o que inclui a Petrobras (PETR3, PETR4). A expectativa do especialista é a de que, mesmo com custos de empréstimos altos, a receita cambial dessas companhias mitigue impactos.
“Infraestrutura e logística, ainda que penalizadas por juros, beneficiam-se de reformas fiscais e de investimentos em exportação, com possível retomada ao final do ciclo de aperto e atração de capital privado”, complementa.
Já o Santander espera que as siderúrgicas brasileiras apresentem resultados modestos, com queda nos preços do aço compensada por volumes estáveis e redução de custos. Para as mineradoras, a expectativa é de números mais fracos, em função da queda nos preços realizados, ainda que parcialmente compensados por recuperação de volumes e ganhos de eficiência.
Em relação às taxas de Trump, a casa afirma que acompanhará o sentimento das empresas nas teleconferências de resultados, especialmente para avaliar sinais iniciais de desaceleração e possíveis efeitos setoriais, que devem afetar apenas um grupo restrito de companhias, segundo os analistas.
Sobre o petróleo, o Santander cita que os preços da commodity caíram 12% em dólar no 2T25 (13% em real), o que, somado a um desempenho operacional mais fraco da Petrobras e de outras produtoras, deve resultar em um trimestre negativo para o setor.
Inflação deve travar os resultados do varejo?
Já setores como o do varejo, com empresas como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3) e o da construção civil, como Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Direcional (DIRR3) devem apresentar resultados pressionados, afirma o Deodato, uma vez que os juros altos, o crédito caro e o consumo travado continuam pesando para esses segmentos.
Apesar do ambiente macroeconômico desafiador, a Eleven vai na contramão e afirma que o setor de construção civil deve apresentar bons resultados no 2T25, impulsionado por fatores como o crescimento do PIB no início do ano e a expansão do crédito, especialmente nos programas habitacionais de base.
Doedato complementa que afrimando que as varejistas de itens essenciais, como alimentos e farmácias, contudo, devem apresentar um pouco mais consistência. Já as de bens duráveis, que dependem de crédito, provavelmente terão mais dificuldade.
Alta dos preços impacta outros setores?
Nessa esteira, o Safra espera uma desaceleração nos volumes para as adquirentes, como a Stone (STOC31), em linha com a queda no consumo. A inflação faz com que as empresas apresentem esforços contínuos de reajuste de preços, o que sustenta a expansão da receita, mas dificulta a sustentação da base de clientes, diz a casa.
O aumento dos preços também é um ponto de destaque para as empresas de proteína animal, como a JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e BRF (BRFS3), complementa o Safra, uma vez que os custos com o gado superaram os preços da carne, apesar da demanda global ainda sólida.
Custos mais altos também impactam as geradoras de energia, segundo a XP, que devem sentir um cenário de preços spot voláteis nos submercados. Segundo a casa, o setor de energia – com empresas como Eletrobras (ELET3), Taesa (TAEE11) e Cemig (CMIG4) – e o de saneamento – que inclui a Sabesp (SBSP3) – deve apresentar um trimestre misto, refletindo uma combinação de desafios operacionais e condições de mercado favoráveis.
Os preços elevados de energia, diz a casa, devem beneficiar companhias com saldo de energia não contratado, gerando resultados incrementais positivos na temporada de balanços do 2TRI25.