Kepler e os fundos imobiliários

Os seres humanos tomam decisões influenciadas por diversos fatores, entre eles o sistema de crenças vigente em seu meio. No campo dos investimentos isso não é diferente. O tempo todo somos bombardeados por conselhos que nem sempre tem lastro na lógica.

Vá a uma agência bancária e peça orientações ao gerente sobre onde você pode alocar seu capital. Ele provavelmente lhe ofertará uma gama de produtos de renda fixa atrelada ao CDI ou algum índice de correção inflacionária.

Porém, se você consultar algum arquiteto ou engenheiro, certamente ouvirá deste profissional que investir na construção de imóveis para vender ou alugar é uma ótima forma de obter renda complementar. Sou arquiteto e por muitos anos argumentei neste sentido com total convicção.

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Ocorre que em investimentos não podemos nos prender em dogmas e paradigmas. Muitas vezes eles nos afastam das melhores oportunidades para geração de renda passiva e aumento de patrimônio. Pouquíssimos brasileiros investem através da Bolsa de Valores, pois acreditam que este ambiente é muito arriscado e complexo.

Se você pertence a este grupo de pessoas que desconfia da Bolsa e dos aportes em renda variável, proponho que estude a trajetória de Johanes Kepler (1571-1630). Não, ele não era um investidor alemão, mas um matemático e astrônomo em conflito com sua fervorosa fé protestante. Se houve alguém que passou a vida lidando com dogmas e paradigmas foi Kepler.

Vencendo as verdades impostas

Nos estertores da Idade Média as pessoas simplesmente viviam inseridas numa cultura teocêntrica, isto é, com Deus no centro do Universo. Isso era inquestionável. O Sol, a Lua e as estrelas se alternavam no firmamento como atores de teatro num cenário onde a Terra era plana.

Quando Nicolau Copérnico (1473-1543) propôs que a Terra não apenas era uma esfera, mas girava em torno do Sol, apresentando o heliocentrismo, obviamente aquilo soou como um escândalo. Foi preciso que outros estudiosos viessem a público, ao longo dos anos, para que o sistema de Copérnico fosse paulatinamente aceito. Kepler foi um deles.

Sem renunciar a sua fé, Kepler estabeleceu uma analogia onde Deus era representado pelo Sol, a humanidade era representada pela Terra, e o espaço entre ambos era a representação do Espírito Santo. Recorrendo a princípios de Pitágoras, o alemão tentou por anos decifrar o que ele acreditava ser um plano geométrico e divino, composto de polígonos regulares e progressivos que amarravam os seis planetas, conhecidos até então, a um sistema de movimentos perfeito em torno do Sol.

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As três leis de Kepler

Kepler acreditava que a Terra descrevia uma circunferência perfeita em torno do Sol, mas suas observações astronômicas o contradiziam. Reconhecer que não havia um rigor geométrico na órbita dos planetas só aumentava seus conflitos com suas crenças religiosas, até que Kepler descobriu que a Terra na verdade descrevia uma elipse em torno do Sol, e que e o Sol não ficava no centro dela.

Enfim, Kepler elaborou três leis científicas que perduram até nossos dias:

1ª Lei de Kepler – Lei das Órbitas: os planetas descrevem órbitas elípticas em torno do Sol, que ocupa um dos focos da elipse.

2ª Lei de Kepler – Lei das Áreas: o segmento que une o Sol a um planeta descreve áreas iguais em intervalos de tempo iguais.

3ª Lei de Kepler – Lei dos Períodos: o quociente dos quadrados dos períodos e o cubo de suas distâncias médias do Sol é igual a uma constante k, igual a todos os planetas.

Logicamente Kepler não chegou às definições de tais leis de modo isolado. Suas pesquisas foram influenciadas pelos também astrônomos e matemáticos Tycho Brahe (1546-1601) e Erasmus Reinhold (1511-1553). Porém, talvez seu maior feito não tenha sido propriamente redigir estas leis, mas lidar com o peso de seus dogmas e paradigmas num mundo onde muitos passam as vidas regidas pelas imposições de antepassados.

Os mitos nossos de cada dia

Voltamos aos dogmas e paradigmas que envolvem os arquitetos e os investimentos. Como um deles, posso afirmar que somos educados para acreditar que o mercado imobiliário tradicional representa um porto seguro para investimentos. Muitos brasileiros que conseguem poupar algum dinheiro aderem a este princípio.

Nossos avós tinham em mente que comprar um terreno, construir uma casa ou uma loja, ou mesmo comprar um imóvel pronto para alugar, era uma ótima forma para complementar a aposentadoria que um dia chegaria.

Como arquiteto, testemunhei vários casos de sucesso neste sentido. Porém, este sucesso, comparado ao que a renda variável através dos dividendos de ações de empresas e cotas de fundos imobiliários podem retornar, com o mesmo capital empenhado, é apenas moderado.

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Quando comecei a investir em renda variável por meio da Bolsa de São Paulo, primeiramente em ações e depois também em fundos imobiliários, também tive que lidar com conflitos internos e enraizados após longos anos de faculdade e exercício profissional.

Sozinho, não teria chances de superar os dogmas e paradigmas relacionados com a cultura média do brasileiro, de ancorar seu futuro em imóveis tradicionais. Felizmente encontrei figuras memoráveis de minha época, e que me influenciaram positivamente.

Influenciadores positivos

Peço a permissão para me comparar a Kepler, e que me perdoem a presunção. Não tenho uma fração de sua genialidade, mas ao menos também sou luterano. Nesta analogia o Tiago Reis, fundador da Suno Research, é Copérnico; o professor Tycho Brahe é o professor Marcos Baroni e Erasmus Reinhold é Danilo Bastos.

Fui incumbido pelo Tiago Reis para editar o Guia Suno Fundos Imobiliários escrito justamente pelos especialistas neste tipo de investimento: Marcos Baroni e Danilo Bastos. Foi a primeira vez que editei um livro que não fosse de minha autoria e posso afirmar que este trabalho já faz parte de um capítulo importante da minha biografia.

Através dele consolidei minha libertação das amarras que me prendiam exclusivamente ao mercado imobiliário tradicional. Kepler nunca renegou sua fé e igualmente não precisamos refutar nossas crenças nos imóveis tradicionais. Apenas devemos abrir a mente para novas possibilidades, pois é deste modo que evoluímos não apenas como investidores, mas como pessoas.

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Superando os medos

Muitas pessoas que conheço sentem um medo profundo de investir em ações de empresas de capital aberto, por causa da volatilidade das cotações e de uma miríade de variações que elas não dominam. Respeito isso, mas trago, conforme aprendi, uma alternativa viável e inteligente de obter a mescla da segurança que o mercado imobiliário oferece, com rentabilidade maior oriunda do mercado financeiro: o investimento em fundos imobiliários.

Esta, inclusive, foi minha contribuição para o subtítulo do livro do Baroni e do Bastos: “Introdução sobre investimentos seguros e rentáveis”.

Como editor do Guia Suno Fundos Imobiliários, tive o privilégio de ser a primeira pessoa a ler a composição dos textos dos autores – afinal de contas, parte do meu trabalho foi costurar a junção deles em forma de diálogo, fazendo a mediação entre os autores. O prazer que tive em aprender com eles foi tamanho que desejo que cada leitor possa sentir o mesmo.

Não é meu objetivo aqui fazer um resumo da obra, mas reforçar que ela pode ajudar os leigos e os principiantes – no âmbito da renda variável – a derrubar mitos, se libertando de dogmas e paradigmas em torno do planejamento de uma carteira previdenciária.  Esta é uma tarefa bem mais suave do que o desafio que Kepler enfrentou durante a sua vida.

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    Jean Tosetto
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