Travel Tech aposta na retomada do turismo apesar dos custos explosivos e concorrência

A venda de passagens aéreas emitidas por milhas de terceiros virou um filão do mercado de viagens na internet, favorecido pela busca dos consumidores por bilhetes mais baratos. Um dos players mais antigos desse segmento no Brasil, a travel tech MaxMilhas, criada em Belo Horizonte em 2013, faz planos para a retomada desse mercado após ver praticamente a paralisação do seu negócio com a pandemia em março de 2020, quando as fronteiras foram fechadas e as restrições à mobilidade frustraram planos de férias, levando muitos viajantes a trocarem suas milhas perto do prazo de vencimento por outros produtos.

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Diante do novo momento com a diminuição da pandemia, a companhia mineira voltou a apostar na recuperação das vendas, embora 2022 ainda se mostre repleto de desafios para um setor que passou a enfrentar um aumento explosivo de custos, além de forte concorrência, redução de margens e disputas judiciais com clientes e fornecedores, muitas delas herdadas dos cancelamentos do período de pandemia. A empresa é alvo de queixas de consumidores no site ReclameAqui e enfrenta concorrentes mais consolidados e maiores, como o Decolar e a 123milhas.

A MaxMilhas já percebeu uma melhora na demanda por passagens aéreas no mês de março, após um certo desânimo provocado no setor pela variante ômicron desde o último trimestre de 2021, disse o CEO da companhia, Max Oliveira, de 36 anos, que começa a preparar os próximos passos no seu plano de crescimento. A estratégia incluiu a criação de novos produtos, como pacotes (aéreo e hotel), e aprimoramento de funcionalidades na plataforma digital.

“O fim do ano poderia ter sido melhor se não fosse a ômicron. Muitas pessoas desistiram de viajar. Ômicron impactou, mas março foi mais forte do que fevereiro e janeiro. Acreditamos que 2022 pode ter uma retomada acima do nível pré-pandemia”, disse Oliveira, sem fornecer previsões de números de faturamento, em entrevista à Bloomberg Línea.

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O reajuste das passagens aéreas e o aumento de custos do setor são obstáculos à esse movimento, segundo o CEO. “O preço do petróleo está subindo, e a passagem está mais cara. Os preços estão ficando mais elevados. O doméstico está 20% mais caro, enquanto o internacional está mais de 50% mais caro, porque ainda não voltou a malha aérea totalmente. Há previsão para isso em abril e maio”, disse.

A Gol (GOLL4), por exemplo, anunciou o retorno das operações para os EUA a partir de maio, a partir do aeroporto internacional de Brasília, com os voos para Orlando (dia 13 de maio) e para Miami (dia 17 de maio). Levantamento do buscador de viagens Kayak aponta que, em março, as tarifas para destinos nacionais tiveram um aumento de até 45%. Nos últimos meses, Azul, Gol e Latam reajustam, além dos bilhetes, as tarifas para despacho de bagagem.

O CEO da Maxmilhas reconhece que o brasileiro ainda viaja muito pouco na comparação com outras nacionalidades e que um dos culpados por essa realidade é o preço elevado das passagens aéreas. Ele recomenda que os viajantes usem a tecnologia a seu favor na hora de procurar pechinchas.

“Somos uma empresa de inteligência de compra de passagem. Nossa plataforma acha passagem mais barata, sabe quando ela fica cara e quando ela fica barata. Em 2022, o desconto médio que o consumidor faz comprando passagem na MaxMilhas está em 27%”, afirma Oliveira.

MaxMilhas começou em 2012 a operar uma plataforma de venda de passagens aéreas adquiridas com milhas de terceiros

Hotelaria

O uso de milhas para a compra de uma passagem aérea ainda é o carro-chefe da tech travel, mas nos últimos anos a MaxMilhas tem diversificando sua fonte de receita, apostando na oferta de hotelaria e pacotes de viagem.

“A gente entrou no negócio de hotel e pacote. Começamos o Max Experiências em 2021, após fazer uma aquisição. O cliente pode negociar a tarifa de sua hospedagem. Se a diária está em R$ 500, você pode negociar para R$ 400, por exemplo. Tem um sistema na plataforma que faz essa negociação da diária de um hotel, há um range de valores”, exemplifica o empresário.

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Investir em publicidade é outro caminho planejado pela empresa para a fase de retomada em 2022. “Vamos voltar a posicionar a marca. Antes da pandemia, já fizemos propaganda no aeroporto, na TV. Durante a pandemia, com todo mundo morrendo, não era o momento de estimular viagens. Depois da ômicron, minha tese é que o vírus tende a ficar mais fraco com o tempo, é a evolução dele. Além disso, o brasileiro tem a cultura de vacinação”, avalia.

Formado em engenharia de produção, com passagem pela Ambev (ABEV3) e pela Vale (VALE3), ele teve a ideia de criar a MaxMilhas graças a um motivo pessoal. “Em 2012, fui comprar uma passagem aérea no site da Gol que estava custando R$ 100, deu um problema no site, a passagem subiu para R$ 500, fiquei indignado com aquilo. Eu já tinha arranjado uma vez umas milhas de um tio para um viagem ao exterior. Eu já sabia que era possível viajar com milhas de outras pessoas, mas não era especialista. Quando percebi que a passagem aumentava em dinheiro e não em milhas, opa, acho que tem uma oportunidade aí. Aí tive a ideia: poderia existir uma plataforma online em que a pessoa com milhas e que não vai usar poderia colocar à venda”, relembra o CEO.

A experiência de intercâmbio na Europa foi importante para seu insight. “Viajava muito pelos países da Europa. A passagem era muito barata devido às companhias de low cost”, conta Oliveira, acrescentando que, após a temporada morando no exterior, começou a MaxMilhas como um hobby, com um amigo desenvolvedor e outro responsável pela operação administrativa.

Travel tech MaxMilhas: concorrência

A data de fundação da companhia em 2013 foi simbólica: dia 6 de janeiro, dia mundial das milhas. “Comecei como hobby, falando com os amigos, entendendo se havia interesse. Muita gente tinha milha, não sabia e perdia. Usava cartão de crédito e podia transformar em milhas”, recorda.

Questionado se um dia poderia vender o negócio, ele responde: “Quem sabe um dia sim pode ser?! Mas nossa estratégia para 2022 é investir no nosso core business, que é a venda de passagem aérea barata, com vantagens competitivas. O cliente quer duas coisas: preço e conveniência, facilidade para chegar ao melhor preço”.

Ele diz que as companhias aéreas são parceiras e também concorrentes, já que buscam fazer seus clientes utilizarem suas milhas dentro de seus programas para compra de passagens, e não por meio de intermediários. No Congresso, ainda não avançou um projeto para regulamentar essa atividade de venda de milhas para terceiros. Oliveira cita a Viajanet, a Decolar e a 123milhas como sites que disputam o mesmo cliente que a MaxMilhas.

Sobre o ritmo ideal de crescimento da travel tech, Oliveira faz referência aos unicórnios. “No Vale do Silício, existe um artigo que fala: para virar unicórnio, startups que crescem mais, em dois anos tem de faturar poucos milhões de dólares, você tem de triplicar, triplicar, dobrar, dobrar, dobrar, ou seja, três, três, dois, dois, dois. A gente demorou dois anos faturar poucos milhões de reais, mas depois quadruplicou, quadruplicou, triplicou e veio a pandemia”, diz.

Dados da Similarweb, empresa que monitora o tráfego na internet, a MaxMilhas subiu uma posição no ranking dos sites de turismo mais acessados do país, do 21º lugar em janeiro para 20º em fevereiro e março, com uma participação de mercado de 1,16%, equivalente a 2,817 milhões de visitas.

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Criptmoedas

A busca por inovação é outra estratégia da MaxMilhas. O mercado de criptoativos está no radar do CEO da empresa de tecnologia de viagem. “Ficou bem de olho nesse mercado, que pode revolucionar o turismo. Sou investidor de uma empresa que trabalha com NFT. Acho que o nosso mercado ainda não está pronto para isso. Não temos ainda nada para anunciar no curto prazo, para o mês que vem, por exemplo. Conseguimos passar bem pela pandemia, estamos crescendo forte de novo. Olhamos para outras travel techs no exterior. Nosso foco agora é desenvolver nosso site, deixar fácil o fluxo de compra para o cliente”, resume.

Reclamações

No site ReclameAqui, que mede a avaliação de reputação de companhias, a MaxMilhas tem 9.727 reclamações registradas desde o dia 1 de março de 2021, com uma nota de 8,2 numa escala de 1 a 10. Os últimos relatos dos consumidores apontam para queixas sobre cancelamento de voos, dificuldades de entrar em contato com a empresa e de receber reembolsos.

Em uma reclamação postada na quarta-feira (6), às 14h33, um cliente de Avaré (interior paulista) relata: “Eu sempre comprei passagem da MaxMilhas, porém, atualmente o site não disponibiliza nenhuma forma de cancelamento imediato da passagem. Ou seja, se você escreve a data errada ou o sistema emite com a data errada já era!! Vai totalmente contra o direito do consumidor! Emiti uma passagem que saiu com a data errada e somente depois de fazer uma reclamação aqui eles entraram em contato comigo mas menos assim não resolveram. Querem cobrar quase o dobro da passagem para remarcar. Um absurdo! Não comprem passagem na MaxMilhas. Não é seguro”.

Na entrevista à Bloomberg Línea, o CEO disse que a companhia está trabalhando para melhorar a experiência do consumidor em sua plataforma. “As pessoas ficam ansiosas. Queremos tirar a dor desse processo”.

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Bloomberg Línea

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