Tendência de inflação no Brasil ainda é crescente, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, declarou durante palestra sobre cenário econômico promovida pelo Canal Agro+, nesta segunda-feira (21), que a tendência de inflação no Brasil ainda é crescente. O pico de alta dos preços deve ser visto em abril e maio, segundo ele.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/05/Lead-Magnet-1420x240-1.png

De acordo com o presidente do BC, a inflação no Brasil está “em linha com os pares”, mas é uma das mais altas do mundo. Um dos principais motivos, de acordo com ele, é a alta dos preços do setor de eletricidade. “O Brasil teve a maior inflação de energia do mundo em 2021”, mencionou.

Campos Neto comentou sobre um exercício feito pela autoridade monetária em relação ao tema. Se a inflação de energia no Brasil no ano passado fosse a média das taxas vistas em outros países, a inflação total doméstica também seria a média vista nesses pares. “É uma simplificação, mas houve pressão energética de vários lados”, disse, citando o aumento dos preços do petróleo no mercado internacional e a crise hídrica doméstica.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

Campos Neto repetiu o cenário de que, depois da crise da covid, haveria uma movimentação com a saída do lockdown consumindo mais serviços e bens e governos injetavam estímulos na economia. “Esta é a narrativa que temos adotado por entendermos ser a mais apropriada, mas isso não aconteceu”, afirmou. “Mas a recuperação rápida de serviços não ocorreu como esperado”, continuou.

Salientou também que houve uma coordenação grande e nunca vista antes não apenas dos governos como de ações simultâneas de política monetária e fiscal. Ele disse que a inflação começou a subir no mundo e os banqueiros centrais acreditavam que seria um movimento transitório. “O Banco Central brasileiro teve diagnóstico relativamente rápido e certeiro”, defendeu. O BC brasileiro foi um dos primeiros a iniciar a tendência de aperto monetário.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/Ebook-Acoes-Desktop-1.jpg

Na sequência, o presidente do BC destacou que o que se percebe agora é que não houve quebra de oferta, como se imaginava durante a crise, mas um deslocamento da demanda.

O presidente do Banco Central afirmou que, aliado ao deslocamento da demanda por bens, houve também um aumento dos gastos de energia.

“Geralmente quando o preços de energia sobe, o investimento também sobe, mas esta foi uma das primeiras vezes na história que o preço estava subindo e o capex caindo”, comparou. Isso pode ter respaldo, de acordo com ele, na intenção de aumentar a produção de energia limpa. Campos Neto salientou que tanto em países emergentes quanto em avançados, os preços de energia têm subido “bastante”.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Controle-de-Investimentos.png

Campos Neto: com mais juros e menor expansão, País entra trajetória fiscal pior

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu nesta segunda-feira, 21, que o movimento de aperto monetário iniciado no ano passado junto com a expectativa de menor crescimento econômico fará com que o Brasil entre em uma “trajetória fiscal pior”. “A questão fiscal não foi só inflação, como alguns apregoam, mas também não foi só estrutural. Foi um misto”, enfatizou durante palestra sobre cenário econômico promovida pelo Canal Agro+.

Ele fez a observação comentando que houve uma surpresa positiva relativamente grande na área fiscal no fim de 2021, e que boa parte disso se deu também ao aumento da arrecadação, salientando que houve um aumento do comércio eletrônico no País nos últimos tempos e que esse segmento é um dos que têm mais eficiência em captar receitas.

De qualquer forma, Campos Neto disse que o prêmio de risco fiscal do País continua grande na curva de juros. “O que está sendo mais questionado é sobre o tipo de crescimento estrutural que o Brasil vai ter”, disse, repetindo que, depois do auge da crise gerada pela pandemia, a retomada do País aconteceu em forma de ‘V’. “As projeções de crescimento estrutural têm caído, estamos em 1,5%”, acrescentou.

O presidente do BC enfatizou ainda que o crescimento estrutural alto é o ponto que mais traz investimentos aos países. “O dinheiro global procura países com crescimento estrutural alto e fiscal comportado”, revelou.

Taxa neutra

Campos Neto afirmou ainda que apenas no Brasil e na Rússia os juros básicos da economia já estão acima da taxa neutra, lembrando que o “livro texto” de economia indica que a taxa deve estar acima do nível de equilíbrio para levar a inflação para a meta. “Chile, Colômbia e México têm surpreendo nos últimos tempos, com ações muitas vezes mais (fortes) do que o esperado”, disse.

Ainda sobre o cenário macroeconômico, Campos Neto disse acreditar que começará um movimento de revisões para cima do crescimento em 2022. No último Relatório de Mercado Focus, houve manutenção na previsão mediana para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, que continuou em 0,30%. Há um mês, a estimativa era de 0,29%. Considerando apenas as 62 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB no fim de 2022 passou de 0,40% para 0,30%.

O presidente do BC comentou ainda sobre o mercado de crédito interno, salientando que continua a haver expansão no setor, mas de forma saudável. “O endividamento das famílias cresceu, mas não temos visto nada fora do previsto”, pontuou.

Campos neto avalia inflação dos Estados Unidos

Campos Neto fez uma avaliação do cenário inflacionário dos Estados Unidos, salientando que a maior potência econômica do globo é o “grosso do motor” do diferencial de taxas de juros para outros países. Durante a palestra, ele citou que a inflação americana 12 meses à frente segue muito alta e que há ainda inflação encomendada de aluguéis no País.

“Temos agora expectativa de cinco ou seis movimentos de alta de juros nos EUA”, previu, considerando que, pela teoria básica, EUA teriam que elevar mais os juros para pressionar a inflação para baixo. “Por essa ótica, o aperto nos EUA teria que ser mais rápido também”, ponderou. Campos Neto pontuou também que os EUA anunciaram a reversão rápida no seu balanço, o que causou estresse nos mercados de todo o mundo.

(Com informações da Agência Estado)

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2021/09/960x136-1-1.png

Bruno Galvão

Compartilhe sua opinião