Grana na conta

Taxação de dividendos: tributação pode reduzir investimentos ou melhorar alocação de recursos?

Assunto recorrente na esfera econômica e política brasileira, a taxação de dividendos foi pauta durante as eleições presidenciais, em outubro, defendida pelos dois candidatos que disputaram o segundo turno. Esse tema vai mesmo voltar à discussão em 2023, com o novo governo? Em relatório o BTG mostra o impacto da medida, se implementada.

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Hoje, os dividendos são isentos de taxação do imposto de renda diretamente da fonte. Além disso, esses proventos não são incluídos na base de cálculo do IR.

Isso porque a atual legislação, que vigora desde 1995, diz que as empresas são tributadas quando obtêm lucros. Taxar os dividendos pode ser encarado com uma forma de “retributação”.

No entanto, o Projeto de Lei 2.337/21 (PL 2.337/21) foi aprovado pela Câmara dos Deputados em setembro de 2021 e seguiu para o Senado Federal — e, até o momento, permanece em tramitação. Nele, são propostas mudanças sobre o imposto de renda tanto da pessoa física quanto jurídica, além de propor a tributação de dividendos.

Mas, na prática, o quanto essa mudança, caso seja aprovada, pode afetar nos investimentos e até na alocação de recursos das empresas de capital aberto? A resposta ainda divide especialistas.

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BTG: lucros aumentariam para as empresas que não pagam JCP

Relatório do BTG Pactual (BPAC11), assinado pelos analistas Carlos Sequeira, Osni Carfi, Bruno Lima e Luiz Temporini, lembra que o novo governo pretende aumentar significativamente as despesas, especialmente para reforçar os programas sociais.

“Uma forma de aumentar a receita do governo seria taxar os dividendos (algo discutido há anos) e acabar com as isenções fiscais geradas pelo pagamento de juros sobre o capital próprio”, destacaram os analistas.

Desta forma, os analistas projetaram o impacto dos aspectos mais prováveis de uma reforma tributária. A simulação foi feita em 140 empresas cobertas pelo banco, em dois cenários:

  • Cenário A: 15% de imposto sobre dividendos, fim do JCP e sem redução do imposto de renda corporativo;
  • Cenário B: mesmas hipóteses do cenário anterior, mas com 5 p.p. de redução do imposto de renda das pessoas jurídicas.

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Ainda de acordo com os cálculos do BTG, o cenário A aumentaria as receitas do governo entre R$ 47-61 bilhões em 2023, e em R$ 50-65 bilhões em 2024. Além disso, as empresas que não fazem pagamentos de JCP podem ver seus lucros aumentarem se o governo reduzir a taxa de imposto.

“Considerando nosso segundo cenário (incluindo um corte de impostos de 5 p.p.), estimamos que os lucros para o varejo em geral, provedores de internet (ISPs) e empresas de alimentos aumentariam de 6 a 7% em 2024”, pontuam.

Ainda assim, os analistas frisam que, embora algumas empresas vejam seus lucros subirem, seus acionistas provavelmente receberão menos dividendos.

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Taxação de dividendos e alocação de recursos

Por outro lado, vale lembrar que o Brasil continua sendo um dos poucos países que não taxam os dividendos. Para se ter uma ideia, entre os países membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a alíquota média de tributação é de 41,4%, incidindo tanto diretamente na empresa quanto na pessoa física que recebe os proventos.

Junto a isso, o estudo “Impostos sobre dividendos e alocação de capital” dos pesquisadores Charles Boissel e Adrien Matray, da Universidade de Princeton, analisou a taxação de dividendos na França para entender se isso afastaria os investidores.

Embora a taxação de dividendos tenha saído de 15,5% para 46% no país em 2013, observou-se um cenário diferente do esperado. Apesar de os empresários terem reduzido a distribuição dos proventos, elevou-se capital para investir nas organizações e, posteriormente, mais lucros foram registrados.

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Janize Colaço

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