Taurus (TASA4) está preparadíssima para o futuro, diz presidente

Nos últimos 24 meses, as ações da fabricante de armas Taurus (TASA3; TASA4) vivenciaram verdadeiras montanhas russas. Se nos primeiros 9 meses de 2018 o título navegou plácido por volta dos R$ 2,00, em outubro decolou para R$ 12,00, para fechar no Natal em R$ 3,00. Menos de 15 dias depois duplicaram de valor, para voltar antes do carnaval no novo normal de R$ 3,20, retomar para R$ 6,30 em janeiro de 2020 e desabar para R$ 2,60 em março.

Definitivamente, quem investiu em papeis da Taurus não sofreu de tédio nesses últimos meses. Entretanto, muitas vezes a Bolsa de Valores é tomada por euforias ou pânicos irracionais. E para desvendar esses sentimentos é necessário entender o que está acontecendo com a empresa. Como estão suas contas. Por onde a diretoria está levando a fabricante.

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“A Taurus está preparadíssima para enfrentar a concorrência”, salientou o presidente da fabricante de armas, Salesio Nuhs, em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias, resumindo a condição atual da empresa.

Entrevista exclusiva do presidente da Taurus (TASA4), Salesio Nuhs, sobre a situação da fabricante de amas. Clique aqui para saber mais.
O presidente da Taurus (TASA4), Salesio Nuhs

Segundo Nuhs, a Taurus está se reinventando para consolidar sua posição no Brasil e se tornar uma das maiores produtoras de armas do mundo. Confira alguns trechos da entrevista.

Como o Sr. definiria a condição atual da Taurus no momento?

Estamos em uma fase de mudanças estruturais, iniciadas em 2018. Quando os novos controladores compraram a empresa realizamos importantes avanços. Por exemplo, tínhamos três unidades fabris, centralizamos todas em um único prédio. Criamos um processo robusto de produção que garantiu e garante para a empresa uma estabilidade de produção. Algo que até então a Taurus não tinha, pois existiam problemas com fornecedores, já que a empresa tinha dificuldades financeiras.

Estruturamos a mudança em quatro diretrizes:

  • Estabilidade de entrega
  • Produtividade
  • Qualidade
  • Logística

Criamos um sistema de qualidade integrada, do fornecedor até o consumidor final.  Isso tudo para garantir nosso ponto forte: o melhor custo benefício do mercado de armas em nível mundial. E já ganhamos reconhecimentos internacionalmente por isso.

E além da parte produtiva, como está sendo a estratégia comercial?

Fizemos uma grande lição de casa. Ajustamos inteiramente a produção. Reformulamos todo nosso portfólio de produtos, não só os lançamentos novos, mas também realçamos produtos antigos que mantivemos em portfólio. Feito isso começamos a explorar mercados. E os EUA são o maior mercado de armas do mundo. Qualquer empresa de armas se não tiver 70% das vendas nos EUA não vai para frente.

Por isso, focamos no mercado americano, mudamos o CEO local, ajustamos a operação mudando a fábrica da Flórida para a Geórgia. Um processo parecido com o que fizemos no Brasil, mas com uma participação muito grande do governo da Geórgia, que nos deu uma fábrica perfeitamente funcionante. Um investimento de aproximadamente US$ 40 milhões (cerca de R$ 220 milhões). E agora nossa produção local é de 400 mil armas, mas logo chegará a 800 mil por ano.

Além disso, reformulamos a área de marketing e comercial internacional para participar das maiores licitações de armas do mundo. A maioria desse mercado é na área das licitações públicas, e estamos muito presentes lá. Ganhamos licitações dia sim e dia não.

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Acabamos de ganhar um contrato muito grande com o Oman, de 10 mil armas, outro de 20 mil armas para as Filipinas, e para Bangladesh outro contrato importante para fornecimento de pistolas.

Sob o perfil da internacionalização, como procede a joint-venture com a indiana JindaI?

O parceiro na Índia é muito ambicioso. A Jindal é um dos maiores produtores de aços inoxidáveis do mundo. Nosso objetivo era começar a produção local a partir do segundo semestre, mas esse projeto foi adiado um pouco por causa das restrições que o governo indiano impôs por causa do coronavírus. Escolhemos um parceiro bastante forte para realmente aproveitar o que acharmos que vinha pela frente em termos de demanda.

Achamos que a Índia é o mercado mais promissor do futuro para nosso setor. Por isso, antecipamos isso e conseguimos fazer essa joint-venture. Mas a Índia é um projeto diferente dos EUA, onde temos a fábrica há 39 anos. A Índia não é apenas uma planta, é aporte de tecnologia. E o aporte financeiro da Taurus nessa joint-venture com a Jindal é justamente a transferência de tecnologia, dentro do projeto “Make in Índia”. Uma iniciativa do governo indiano para que a Índia possa ter domínio tecnológico. Agora é tendências os países demandem o controle da tecnologia militar.

Como está a operação no Brasil? O coronavírus está atrapalhando?

Graças a Deus e graças à natureza de nossa operação estamos produzindo em pleno regime. Isso graças ao fato que somos uma empresa estratégica para o governo e não sofremos nenhuma sanção. Investimos muito em bem estar e segurança de nossos funcionários na base das diretrizes do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das secretarias estadual e municipal de saúde. Estamos com 2.100 funcionários aproximadamente e temos muito critério sobre a necessidade que, caso se manifeste qualquer sintoma da Covid, o funcionário tem que ser imediatamente afastado. Mas tivemos um único caso: um funcionário casado com uma profissional da saúde que já voltou a trabalhar após o afastamento.

Como está o mercado de armas no Brasil?

O Brasil é um mercado muito pequeno se comparado com dos EUA. A Taurus vende no Brasil apenas 8-10% do total. Cerca de 70-80% vai para os EUA e o resto para outros países do mundo.

Agora, se até pouco tempo atrás estávamos vendendo apenas 2-3% de nossa linha no Brasil, agora vendemos toda nossa gama de produtos. Isso especialmente graças aos decretos do atual governo que liberalizaram a compra de armas, mas continua sendo algo muito complicado de se obter.

Entretanto, as vendas da Taurus já estavam dando sinais positivos mesmo antes das eleições de 2018. Em 2005 em ocasião do referendum a pergunta foi feita capciosamente para confundir os brasileiros. Conseguimos estruturar uma operação de esclarecimento para mostrar para a população o que estava sendo de fato perguntando e o brasileiro votou a favor da legitima defesa, ou seja, contra a proibição.

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Entretanto, por causa dos governos de esquerda, até 2016 o brasileiro ficou na dúvida. E essa questão voltou à tona na eleição passada. A mídia começou a falar disso, e a população descobriu que podia ter o direito a se defender, e foi comprando armas. O mercado começou a se aquecer. E para a Taurus foi uma consagração. Agora o brasileiro pode comprar exatamente aquilo que o norte-americano pode. E tem já muita gente que comprou 20-30 armas pois gosta do setor.

E como ficou o mercado brasileiro após o decreto que tirou o monopólio da Taurus?

Precisamos entender melhor essa questão de monopólio. Ainda hoje estamos sendo acusados disso. É uma visão míope. Nos éramos a única empresa o Brasil exatamente pelas condições do Brasil. Um mercado extremamente controlado, com impostos elevadíssimo, 70% de carga tributária, além de uma burocracia imensa. Então na verdade no Brasil não somos monopólio, somos a única fábrica que consegue operar com essas condições. Nenhum estrangeiro aguenta.

A fabricante italiana Beretta saiu do Brasil, existe uma fábrica pequena em Florianópolis, mas ninguém consegue sobreviver no mercado brasileiro com essas condições regulatórias e burocráticas. Para vender uma arma eu demoro dois anos. Temos uma fila de produtos para serem homologados no Brasil que demorará 20 anos.

Ninguém tem coragem de vir para o Brasil. Por isso a Taurus é uma empresa corajosa duas vezes: por estar no Brasil e por ter ido nos EUA. Estamos no maior e mais competitivo mercado do mundo. A abertura do mercado para nós não é um problema. Estamos competindo dia sim e dia não de licitações e ganhando bastante

Agora, a reflexão a fazer é: ninguém vai vir produzir no Brasil. O que todo o mundo quer é exportar para o Brasil. Pois exportar é um grande negócio. Pois mesmo uma fábrica estrangeira de fundo de quintal não tem controle nenhum. Enquanto quem produz aqui é vexado por impostos e burocracia. Por isso transferi para os EUA uma linha de produção de pistolas que vai servir uma licitação grande que ganhamos nas Filipinas. E não estou aumentando a linha de produção no Brasil, mas aumento nos EUA por causa dessas restrições regulatórias.

O mercado brasileiro vai ser tornar um balcão de vendas. Enquanto o mundo inteiro está preocupado em ter tecnologias na área militar, o Brasil parece não estar preocupado. Então, para concluir, essa abertura não vai prejudicar a Taurus, vai prejudicar ao Brasil. A Taurus está preparadíssima.

Uma das críticas a gestão da empresa é o endividamento, que chegou a 6,5 vezes a geração de caixa. As coisas mudaram?

O balanço que será divulgado esse semestre mostra essa mudança já. Não posso falar tudo ainda pois ele ainda não foi auditado. Mas o que podemos dizer é que cumprimos todos os nossos compromissos, pagamos todos os juros mensalmente, estamos com as contas em dia.

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Temos dois ativos que foram disponibilizados para a venda para pagar a dívida. Um terreno em Porto Alegre, antiga sede da companhia, e outra planta antiga. Mas imobiliário da região sul do Brasil está em forte crise, e decidimos esperar para vender.

Além disso, racionalizamos as operações. As operações de defesas pessoal vão ser descontinuadas, e vendemos todas as participações em outras empresas que não são nosso core business. Isso deu margem de manobra contábil.

Como estão os investimentos em pesquisa e desenvolvimento?

Uma coisa que eu tenho feito na Taurus desde que assumi a presidência é investir na área de pesquisa, desenvolvimento e de novos produtos. Em uma empresa em crise tudo fica em segundo plano. Por isso, no passado os investimentos nesse setor basicamente morreram na Taurus. Tivemos que correr atrás do prejuízo.

Reforçamos muito nossa área de engenharia, unificamos as engenharias nos EUA e no Brasil que trabalhavam de forma desconexa. Agora a engenharia dos EUA é subordinada a engenharia no Brasil. Coordenamos as respostas para as solicitações que vem do mercado e fazemos tudo que é possível para dar celeridade ao processo de desenvolvimento em nosso centro integrado no Brasil. Investimos muito no processo de capacitação das pessoas.

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Investimos em impressoras 3D, seja para plásticos que para outros tipos de materiais. Agora podemos fazer protótipos diretamente em casa, sem ter que usinar fora. E tudo isso vai dar uma agilidade muito grande. A Taurus está levando adiante um tripé extremamente importante, focando na pesquisa e desenvolvimento. Nosso mercado vive de novidade. E nos EUA sem novidades a empresa morre.

Isso tudo está até desenhado dentro da fábrica. Transformamos a Taurus em uma empresa que pensa no futuro e está focada em projeto e processo.

Carlo Cauti

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