Governo brasileiro admite negociação de tarifas com os EUA
O governo brasileiro começou a sinalizar qual será sua atuação efetiva em relação à guerra de tarifas decretada pelo líder norte-americano Donald Trump. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu um “processo de negociação” com os Estados Unidos sobre a imposição de tarifas de importação de produtos do Brasil. Lula disse que “somente o multilateralismo pode trazer um equilíbrio na relação comercial e política”.

A declaração do presidente brasileiro foi dada aos jornalistas no Palácio Itamaraty, pouco antes da recepção ao presidente chileno, Gabriel Boric, para um almoço no local.
“Eu acho que a gente vai ter que estabelecer um processo de negociação, por mais difícil que seja. A gente não pode desistir de acreditar que somente o multilateralismo pode trazer um equilíbrio na relação comercial e política. A nós brasileiros não agrada essa disputa estabelecida pelo presidente (dos EUA, Donald) Trump”, declarou Lula a jornalistas.
O presidente disse que a guerra comercial entre EUA e China não é conveniente às duas nações nem a qualquer outro país do mundo.
“O que queremos é estabelecer uma política de cordialidade comercial, em que a gente possa respeitar os direitos humanos, tratar os imigrantes com o respeito que merecem. O mundo precisa voltar a uma certa normalidade. Não pode ser induzido à raiva, ao ódio, ao preconceito. Não tem lógica. Espero que com a morte do Papa Francisco isso possa representar algum sinal de que os seres humanos precisam mudar para melhor”, afirmou Lula.
Tarifas, compra e venda
O presidente brasileiro afirmou não querer “guerra fria”, nem ter que fazer opção entre Estados Unidos e China. Segundo ele, o Brasil não quer ter preferência sobre um ou sobre outro.
“Eu quero vender e comprar”, disse Lula. “Eu não quero fazer opção entre Estados Unidos ou China. Eu quero ter relações com os Estados Unidos, quero ter relação com a China. Eu não quero ter preferência sobre um ou sobre outro. Quem tem que ter preferência são os meus empresários que querem negociar”, afirmou.
“Eu quero vender e comprar, vender e comprar, vender e comprar, fazer parceria”, completou o chefe do Executivo brasileiro. “Na hora que você tem um presidente da República de um país importante, como os Estados Unidos, que resolve estabelecer a discussão favorável à política protecionista, contrário a tudo o que foi falado para nós desde os anos 80, globalização e livre comércio, e de repente nada disso vale a pena, e o que vale a pena é o protecionismo”, contou.
Na avaliação do petista, o Brasil não tem que “disputar cargo” na América Latina. “O Brasil, por si só, já é grande. O Brasil não precisa dessa disputa. O Brasil precisa apoiar que as coisas sejam feitas pelas melhores pessoas possíveis”, comentou.
Lula ressaltou a necessidade de se buscar e diversificar os parceiros comerciais. “Senão vamos continuar mais um século pobre”, pontuou. Em sua avaliação, as instituições multilaterais não foram feitas para países pobres, mas para colonizadores.
Ao final da fala, Lula convidou Boric a comparecer à Cúpula do Brics deste ano. Além disso, sugeriu que o chileno vá à China para participar da Cúpula Celac-China, em Pequim. Ele, então, disse que o ex-chanceler Celso Amorim, hoje assessor especial, pode “conseguir” que Boric tenha uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping.
Mais trocas comerciais
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reforçou a disposição do Brasil de negociar as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A tese foi defendida durante evento com empresários da indústria de autopeças,
Ao mesmo tempo, ele ressaltou que o governo está atento à possibilidade de desvios de produtos em direção ao Brasil por conta da guerra comercial estimulada pela política tarifária norte-americana.
Ao relembrar as conversas que teve com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial do país, Jamieson Greer, Alckmin voltou a frisar que a balança de bens e serviços é superavitária do lado americano, de modo que o Brasil não deveria ser alvo de Trump.
O ministro acrescentou que oito dos dez produtos mais exportados pelos Estados Unidos ao Brasil não pagam tarifa para entrar no mercado brasileiro. Na média, pontuou Alckmin, a tarifa média cobrada pelo Brasil aos produtos americanos é de 2,7%.
“Por isso, o Brasil naquela decisão inicial ficou com a menor tarifa. E o caminho é de diálogo, o que nós estamos propondo é aumentar ainda mais a parceria, não fazer um perde-perde, mas um ganha-ganha para a gente poder ter mais trocas comerciais e complementaridade econômica”, comentou o ministro, em discurso na cerimônia de abertura da Automec, feira internacional do setor de autopeças.
Na sequência, ele disse que o ministério está, do outro lado, atento a produtos industriais que podem “indevidamente” ser deslocados para o Brasil em razão de barreiras comerciais e da guerra de tarifas.
Com Estadão Conteúdo