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Copom eleva taxa Selic para 6,25% ao ano e prevê novo ajuste na próxima reunião

Selic: Copom eleva taxa. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Selic: Copom corta taxa. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta (22), em Brasília, na sexta reunião do ano, aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, atingindo o patamar de 6,25% a.a.

Foi o quinto aumento consecutivo dos juros – no início de agosto a alta também foi de 1 ponto e, nas três decisões anteriores, o BC subiu a taxa em 0,75 ponto porcentual.

A decisão, unânime entre os integrantes do comitê. era aguardada pelo mercado. A expectativa maior era em relação ao comunicado do comitê do BC. Com a alta da inflação nos últimos meses, a previsão das instituições financeiras era de que a Selic deveria subir de 5,25% ao ano para 6,25% ao ano, nesta reunião. A expectativa de alta estava no Boletim Focus, pesquisa divulgada toda semana pelo BC. Para o final de 2021, o mercado prevê que a taxa fique em 8,25% ao ano.

O próprio Copom, no comunicado da última da reunião em 4 de agosto, havia sinalizado que previa novo aumento de 1 p.p no encontro dos diretores do comitê neste 22 de setembro.

O Copom justificou no comunicado desta quarta: “Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista. O Copom diz que vai avançar para contrair a economia para segurar a inflação,”

Mais: prevê mais uma correção de +1p.p. na próxima, para 7,25% “Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude.”

O Copom também sinaliza que pode mudar ritmo para garantir o cumprimento da meta de inflação.

“Passos futuros dependerão de atividade, balanço de riscos e projeções para inflação. Ritmo de ajuste atual é o mais adequado para convergência de inflação à meta. Não há mudança relevante em cenário de recuperação robusta no 2º semestre”, acrescenta o comitê.

Alta de preços e elevação da taxa de juros

O comitê do BC menciona a pressão inflacionária como um dos motivos para a elevação da Selic: “Persistem pressões sobre alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica. Pressões refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas.”

O comunicado explica: “Preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas nos últimos meses, o que era esperados. Alta nos preços industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo.”

A XP projeta que o Copom elevará a taxa Selic até 8,50%, dois pontos percentuais acima do patamar considerado neutro (6,5%). “Esperamos mais duas altas de 1,0 pp, seguidas de uma alta de 0,75pp em dezembro e uma alta final de 0,5pp no início de 2022”, diz relatório da XP.

O BC fez menção no texto que acompanha a decisão sobre a taxa Selic às reformas que estão tramitando no Congresso: “Questionamento sobre reformas e alterações nas contas públicas podem elevar o juro estrutural.”

Com a decisão, a Selic supera o patamar verificado em agosto de 2019, quando a taxa estava em 6%. De agosto do ano passado a março deste ano, a taxa se manteve no mínimo histórico de 2% ao ano. A partir daí, o Banco Central recomeçou a elevar a Selic, numa tentativa de controlar a inflação.

O aumento do juro básico da economia se reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

O Copom fixa a taxa básica de juros com base no sistema de metas de inflação. Neste ano, a meta central é de 3,75%, mas o IPCA, a inflação oficial do País, pode ficar entre 2,25% a 5,25% sem que a meta seja formalmente descumprida. Para 2022, a meta central é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.

Em agosto, o IPCA ficou em 0,87%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E no acumulado em 12 meses chegou a 9,68%. O resultado, puxado pela disparada nos preços da gasolina e dos alimentos, foi o maior para um mês de agosto em 21 anos.

Analistas repercutem o aumento da taxa Selic

Martin Iglesias, professor e especialista líder em Investimentos e Alocação de Ativos do Itaú Unibanco (ITUB4), disse que “a já esperada alta de 1 pp, a Selic em 6,25% traz a perspectiva de que os produtos pós-fixados (DI) voltem a projetar juros reais positivos para os próximos 12 meses, fato não observado há algum tempo.”

Iglesias complementa: “Essa situação pode indicar o início de um redirecionamento das alocações, migrando da renda variável para produtos mais conservadores de renda fixa, que é o chamado ‘efeito portfólio’. A alta da Selic não deve ter impactos relevantes nos títulos de renda fixa mais longos, pois são menos sensíveis à mudança na taxa de curto prazo.”

O professor observa ainda: “Pode trazer também algum impacto no câmbio, com possível depreciação do dólar, provocada por eventual movimento de atração de investidores estrangeiros de renda fixa para o mercado brasileiro. Porém, é importante notar que a variação cambial também é influenciada por outros fatores como o cenário global, aumento de juros em outros países, além de preocupações ligadas à situação fiscal do Brasil.”

Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, analisa: “A alta da Selic influencia no mercado de renda fixa porque ela fica mais interessante. Os pós-fixados imediatamente começam a render mais com a alta da Selic. Já para o prefixado e prefixado atrelado ao IPCA acredito que não vai mudar muita coisa, pois essa alta de juros já foi precificada anteriormente.”

O investidor já deveria ter se antecipado, diz Jansen, já que o mercado “está dando há um tempo algumas boas oportunidades no prefixado com taxas elevadas. Fundos imobiliários e ações tendem a performar pior. Obviamente com os juros subindo, o investidor acaba sendo atraído a trocar a renda variável por uma renda fixa com uma taxa muito melhor do que estava em janeiro, por exemplo.

Cenário afetado pela economia chinesa e risco da crise hídrica

João Beck, economista e sócio da BRA Investimentos, falou sobre o ajuste do Copom e a reação do BC à inflação: “Temos dois destaques bem importantes no comunicado. Primeiro, o reconhecimento do Banco Central de que achou a nova velocidade de aperto, ou seja, de aumento da taxa de juros. Esse aumento de 1 ponto percentual é a velocidade adequada para todo balanço de risco atual.”

O BC agora entende, segundo o economista da BRA, “que essa velocidade é a nova velocidade de cruzeiro das altas subsequentes e já sinaliza alta de mais um ponto para reuniões seguintes. Isso é interessante porque o mercado imaginava que essa aceleração seria de 1,25% e o Banco Central afirmou que continua sendo de 1%.”

Beck notou que a crise impulsionada pela possibilidade de calote da incorporadora Evergrande, o que pode afetar as exportações do Brasil, foi lembrada pelo Copom:  “O Banco Central não faz nenhuma citação direta ao que está ocorrendo na China. Mas cita que no balanço de risco está considerando uma desaceleração das economias asiáticas por causa da variante Delta. Em outro momento, considera uma redução do preço das commodities como fator favorável para a inflação brasileira.”

Ele pondera: “No curto prazo, a alta de juros de 1 ponto percentual não agita tanto o mercado, pois já é um aumento projetado e também sinalizado no comunicado da penúltima reunião. O tipo de risco que ainda não está resolvido no Brasil é o hidrológico. Isso ainda é uma incógnita. O volume de chuvas daqui para frente vai determinar se teremos mais inflação e combinada com eventual racionamento e desaceleração da economia por conta desse risco.”

Fernanda Consorte economista chefe do Banco Ourinvest, lembra que o comunicado do BC adotou o mesmo tom mais firme do texto que acompanhou a decisão de agosto: “Deixa claro que o quadro fiscal pode ser um empecilho para a inflação futura. E acrescentou que a alta de preços pode vir do cenário externo. por causa da recuperação pós-pandemia.”

Davi Lelis espécialista da Valor Investimentos, diz que a decisão veio em linha com o que o mercado esperava como política para conter a inflação: “Mas vale fica de olho na próxima ata do Copom, na semana seguinte. O documento pode indicar a temperatura das próximas reuniões. Se vai continuar fazendo aumentos contínuos e sucessivos em 1 p.p ou se vai haver um aperto monetário mais agressivo, de 1.25 pp. ou até de 1.5 pp. O Copom pode tentar buscar nas próximas reuniões uma Selic acima das taxas de inflação.”

Comunicado do Copom na íntegra

Veja o comunicado de hoje na íntegra:

Em sua 241ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 6,25% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

No cenário externo observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes. No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes. O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes;

Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre;

A inflação ao consumidor segue elevada. A alta nos preços dos bens industriais – decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens – ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo. Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,3%, 4,1% e 3,25%, respectivamente; e

No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,25*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 8,5% para 2021, 3,7% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,25% a.a. neste ano e para 8,50% a.a. durante 2022, e reduz-se para 6,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,7% para 2021, 4,2% para 2022 e 4,8% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 6,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

O que o mercado esperava sobre a decisão do Copom sobre a Selic

Antes de sair a decisão, estimativas de oito casas consultadas pelo Suno Notícias elevavam a taxa Selic em 1 p.p na reunião desta semana. Confira quais são:

De um total de 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 44 esperavam pela elevação da Selic em 1,00 ponto porcentual, para 6,25% ao ano. Para o fim de 2021, a mediana das projeções indicam uma Selic a 8,25% e, para o fim de 2022, em 8,50%.

O economista Gustavo Sung, responsável pelo relatório de Macroeconomia da Suno Research, lembrou, antes do comunicado anunciado hoje, que recentemente “tivemos a divulgação do IPCA de agosto de 2021, que não foi nada promissor. O índice foi o maior resultado para o mês de agosto desde 2000 e no acumulado de 12 meses registra alta de 9,68%.”

Sung acrescentou: “O dado é preocupante pois as pressões estão vindo de vários setores – combustíveis, energia, alimentos, bens industriais e serviços – e os núcleos de inflação se encontram acima do limite superior da meta. Com a piora dos índices de inflação e possível desancoragem das expectativas, acreditamos que o Banco Central poderia ser mais ativo e elevar a taxa de juros de forma mais significativa, 1,25 p.p. com uma mensagem dura e clara. Esse comportamento evitaria uma perda de credibilidade e reduziria uma contaminação dos preços deste para o próximo ano.”

“Além disso, uma boa comunicação reduz ruídos no mercado financeiro. Banco centrais com mensagens claras e estratégias mais transparentes dão maior estabilidade e previsibilidade. Isso reduz incerteza e gera menos volatilidade nos ativos financeiros”, complementou Sung.

O economista da Suno Research lembrou a recente declaração do presidente do BC Roberto Campos Neto. O executivo do Banco Central disse que a instituição “levaria a Selic até onde fosse preciso”. Sung comentou: “Para retomar as rédeas da inflação e a credibilidade, o BC terá que aumentar a taxa de juros para um nível muito maior do que necessário. ”

“Observando os últimos comunicados do Copom, vemos uma mudança de tom de forma acertada. Retirou o ajuste parcial e em seguida anunciou que levaria a taxa a níveis acima do neutro. Logo, a declaração do presidente do BC sobre levar a Selic para onde for preciso, mas não alterar a condução da política monetária a cada dado novo de inflação, não contribui para a previsibilidade da política monetária e só aumentam as incertezas”, observou Sung.

Ponderou: ” O BC deve mandar uma mensagem clara e ser incisivo com a inflação. O descontrole de preços trará prejuízos sérios à atividade e à renda dos brasileiros, principalmente nas classes mais vulneráveis – que já sofrem com a pandemia. Alguns riscos que podem conturbar ainda mais o cenário inflacionário no curto prazo são uma possível desvalorização cambial, por conta do aumento das incertezas políticas e fiscais, e o repasse maior dos custos das termelétricas aos consumidores.”

Sung concluiu: “A pressão sobre os alimentos e a perspectiva de retomada dos serviços podem pressionar a inflação no segundo semestre. Além disso, a lentidão na normalização das condições de oferta aumenta o impacto sobre os preços dos produtos. Com mais três reuniões até o fim do ano e com a tendência de alta dos juros, o comportamento da inflação e os dados de atividade dos próximos meses serão fatores importantes para determinar o patamar da Selic deste e do próximo ano.”

Sinuca de bico

Como aponta o BTG Pactual (BPAC11) em relatório, o Copom está em uma sinuca de bico.

Caso se mantenha muito dovish (postura voltada à atividade econômica), olhando mais para o Produto Interno Bruto (PIB), a inflação tende a ser ainda mais pressionada.

Por outro lado, se for hawkish (mais pessimista, preocupada com a inflação), o PIB do ano que vem deve sofrer impactos negativos.

A única saída, segundo a instituição, portanto, é seguir a orientação já passada após a última reunião, de alta de 1%, levando a Selic para 6,25%.

Ciclo de altas

Os membros do Copom também disseram, na ata da última reunião, que devem manter a elevação da Selic no mesmo patamar de 1 ponto percentual, com uma política monetária mais contracionista diante da piora recente dos índices de preços.

Dessa forma, a Selic continua em um ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegou a 6,5% ao ano, em março de 2018.

Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até chegar ao menor nível da história em agosto de 2020, em 2% ao ano. Começou a subir novamente em março deste ano, quando avançou para 2,75% ao ano e, no início de maio, foi elevada para 3,5% ao ano. Em junho e agosto, subiu para 4,25% ao ano e 5,25% ao ano, respectivamente.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas podem conter a atividade econômica. Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

Entretanto, as taxas de juros do crédito não variam na mesma proporção da Selic, pois a Selic é apenas uma parte do custo do crédito. Os bancos também consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

Selic e pressão inflacionária

Para 2021, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior é 5,25%.

No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial do país, fecharia o ano em 5,82% no cenário base, com Selic em 6,25% ao ano e câmbio em R$ 5,05. O novo relatório será divulgado na semana que vem, com a previsão atualizada, considerando a taxa Selic que será definida pelo Copom nesta semana e os aumentos inflacionários dos últimos meses.

Em agosto, puxada pelos combustíveis, a inflação subiu 0,87%, a maior inflação para o mês desde o ano 2000, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o indicador acumula altas de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses, o maior acumulado desde fevereiro de 2016, quando o índice alcançou 10,36%.

A projeção do mercado é de uma inflação fechando o ano em 8,35%, de acordo com o último boletim Focus. É a 24ª alta consecutiva da previsão das instituições financeiras –o que deve manter o ciclo de alta da Selic.

Com Agência Brasil e Agência Estado

 

 

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