Ata do Copom: não há evidência para intensificar cortes da Selic além do necessário para a convergência da inflação

Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (26), o Banco Central (BC) afirmou, em relação à decisão de redução da Selic de 13,25% para 12,75%, de que não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta, e que o cenário ainda inspira cautela. 

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“Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência. Ainda que não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado”, pontuaram os membros do Copom no documento.

A decisão tomada na semana passada – que foi unânime – não surpreendeu o mercado. Com os votos de todos os membros do comitê (Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes), de 0,5 p.p, o mercado já apostava em uma intensificação do ritmo de ajustes dos juros.

O Boletim Focus desta semana trouxe estimativas que apontavam para uma Selic a 11,75% no final do ano, mesma previsão do documento divulgado antes da decisão do Copom.

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O que o Copom avalia?

O Copom avaliou que o ambiente externo mostra-se mais incerto, com a continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países, com os bancos centrais das principais economias determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas.

O conjunto de indicadores recentes indica um cenário de maior resiliência da atividade econômica. Os membros do Comitê destacaram que os dados referentes à atividade econômica do segundo trimestre, em particular a divulgação do PIB, indicam que setores não cíclicos da economia mantiveram dinamismo, mas também se observou um crescimento no componente da demanda referente ao consumo das famílias. 

De modo geral, nos indicadores setoriais, observou-se alguma desaceleração no setor de comércio, moderada reaceleração na indústria e estabilidade do crescimento no setor de serviços, após ritmo mais forte nos trimestres anteriores. 

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, sinaliza a ata.

Copom: redução da taxa é estratégica para convergência da inflação

Sobre a decisão em reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,75% a.a, o Copom observou que ela é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. 

O comitê reforçou, ainda, que essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O grupo considerou que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária, reforçando a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Ainda segundo o Comitê, a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Expectativas de inflação seguem sendo fator de preocupação, diz Copom

Sobre as expectativas de inflação, após apresentarem reancoragem parcial, o Copom acredita que elas seguem sendo um fator de preocupação. Segundo o texto, o Comitê seguiu avaliando que, entre as possibilidades que justificariam observar expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal, receios com a desinflação global e a possível percepção, por parte de analistas, de que o Copom, ao longo do tempo, poderia se tornar mais leniente no combate à inflação.   

“Desse modo, o Comitê avalia que a redução das expectativas virá por meio de uma atuação firme, em consonância com o objetivo de fortalecer a credibilidade e a reputação tanto das instituições como dos arcabouços econômicos”, pontuou o grupo.

Assim, em seus cenários para a inflação, o Comitê listou os que fatores de risco permanecem em ambas as direções. No caso dos riscos de alta, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, além de uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada, em função de um hiato do produto mais apertado.

Já entre os riscos de baixa, o Copom ressaltou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, além dos impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

Decisão sobre redução da taxa foi consensual 

Segundo a ata, alguns membros do Copom se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de metas desancoradas por um período longo. No texto, o Comitê afirma que um grupo enfatizou em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços.

Enquanto isso, diz o Copom, outros membros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente. 

Assim, após a análise do cenário, todos os membros concordaram que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de forma a ajustar o grau de aperto monetário prospectivo.

A seguir, é possível comparar as projeções da Selic desde janeiro de 2023. Confira:

DATA DA ATADECISÃO
26/09Corte de 0,5 ponto percentual
08/08Corte de 0,5 ponto percentual
27/06Manutenção da taxa em 13,75%
09/05Manutenção da taxa em 13,75%
28/03Manutenção da taxa em 13,75%
07/02Manutenção da taxa em 13,75%

A próxima reunião do Copom será nos dias 31 e outubro e 1º de novembro de 2023. No final do segundo dia, o grupo vai divulgar o novo percentual da Selic.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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