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Robinhood: conheça a corretora que está gerando polêmica nos EUA

A lenda de Robin Hood conta que o ladrão inglês roubava dos ricos para distribuir aos pobres. Baseados nessa mesma premissa, a corretora norte-americana Robinhood promete uma revolução no mercado de capitais americano, aumentando a presença dos pequenos investidores em meio aos grandes afortunado e empresas.

Mas, a facilidade exagerada ao acesos a produtos sofisticados e o apelo aos jovens, que acessam a Robinhood apenas por meio de um smartphone, vêm causando polêmica nos EUA em meio a pandemia causada pelo coronavírus (covid-19) como uma combinação perigosa.

A conjunção da quarentena obrigatória, a diminuição da renda, a distribuição de dinheiro pelo governo para combater os efeitos da crise e a interrupção das apostas esportivas são apontados por especialistas como causas desse boom de jovens operando ações, opções e contratos futuros -operações que, tradicionalmente, possuem maior volatilidade e risco.

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O que parecia a democratização do mercado, agora, traz problemas graves, principalmente dado a falta de conhecimento dos jovens em relação ao mercado de capitais e a possibilidade fácil de grandes prejuízos.

Robinhood apostou em tecnologia e geração Z

A Robinhood foi criada em 2013 por Vladimir Tenev e Baiju Bhatt, dois ex-estudantes da Universidade de Stanford que, após se formarem, foram trabalhar no mercado financeiro, vendendo softwares para empresas do setor.

Em Nova York, perceberam um nicho que poderia ser aproveitado: pessoas físicas que não estavam dispostas a desembolsar qualquer quantia em comissões para comprar e vender ações.

Atravessaram os EUA e, na Califórnia, criaram a Robinhood, que prometia ser uma corretora de taxa zero e baseada em tecnologia. De acordo com o site “Crunchbase”, a fintech captou US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) de fundos como Sequoia, Iconiq e Capital G (do Google) até agora para se desenvolver.

Na plataforma, que pode ser acessada de forma simples em qualquer smartphone, é possível negociar, sem grandes dificuldades ou alertas, ações, opções, fundos, ouro, criptomoedas e até mesmo ganhar um percentual por deixar o dinheiro na conta.

Como não existe serviço (e almoço) grátis, a Robinhood ganha dinheiro operando o montante deixado nas contas abertas, segundo um analista ouvido pelo SUNO Notícias, que preferiu não se identificar.

“Eles investem no float, ou seja, ganham dinheiro e juros sobre o montante não investido na sua conta e te pagam um pequeno percentual disso para que você mantenha o dinheiro lá”, disse.

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Há também poucas funcionalidades pagas, como obter auxílio de um especialista ao vivo antes de uma operação.

Não demorou até que a empresa se tornasse um sucesso entre a nova geração. A Robinhood possui, atualmente, dois milhões de usuários ativos diariamente, com 13 milhões de contas ativas neste ano, principalmente entre as gerações X e Z. A possibilidade de comprar ativos fracionados, com pouco dinheiro, também auxilia essa expansão crescente.

Tanta facilidade e volume, porém, trouxeram problemas e pode estar gerando, além de uma bolha financeira, com fundamentos extremamente esticados, uma epidemia de ansiedade e até alguns suicídios de jovens endividados.

Tecnologia, day-trade, quarentena e dívidas

Nem só de boas notícias a democratização do mercado financeiro vive. A combinação de tais facilidades e gratuidade no uso do aplicativo também trouxe malefícios aos agentes do mercado.

Pior quando há uma combinação de fatores, formando uma tempestade perfeita ao caos, como o que acontece agora, em meio a pandemia causada pelo coronavírus (covid-19).

Com a necessidade de ficar em casa, o número de investidores da Bolsa de Valores nos EUA cresceu de forma exponencial. Segundo Guilherme Giserman, estrategista internacional na XP, em texto publicado, a captação de novos usuários aumentou de 600 mil por trimestre para 1,7 milhão de clientes no primeiro trimestre deste ano, e volume mensal de depósitos 17x maior que a média.

Além disso, o coronavírus também encerrou as atividades esportivas que, só em apostas, movimentam cerca de R$ 30 bilhões por ano. Com a pausa nas apostas, parte dessas pessoas foram à Bolsa apostar que o day trade poderia devolver tal adrenalina.

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A possibilidade de estímulos financeiros, anunciados pelo governo dos EUA, de cerca de US$ 1.200, também ajudou nessa ida à Bolsa de Valores. Com dinheiro a mais e a necessidade de recuperar perdas salariais projetadas pela crise, também anabolizam esse mercado.

Assim, a Robinhood se alinhou perfeitamente com a tempestade. A plataforma oferece, de forma simples e inicial, investimentos destinados a pessoas mais avançadas no mercado, como opções.

Existe também a possibilidade de se alavancar, ou seja, emprestar dinheiro para operar. Há vídeos na plataforma “Youtube” mostrando pequenos e jovens investidores se alavancando em até cem vezes e em alguns perdendo até US$ 100 mil.

“É dar a possibilidade de operações que demandam anos de experiência para alguém que começou a operar em poucos dias”, disse o analista.

Além disso, a Robinhood é desenvolvida para que o usuário observe os preços das ações de minuto a minuto, aumentando a percepção de que o investimento é uma aposta ou um certo tipo de jogo.

A polêmica da corretora ganhou contornos trágicos após um cliente da corretora de 20 anos cometer suicídios ao descobrir que, após operações que não deram certo, estava devendo US$ 730 mil.

“É exatamente por isso que devemos ter cuidado com aquilo que oferecemos. Não é só dinheiro. É todo um contexto que, caso não seja trabalhado da forma correta, pode acabar em tragédia”, disse um operador sobre a Robinhood.

Vinicius Pereira

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