Entenda os riscos por trás do boom dos investimentos alavancados em Wall Street

As novas altas históricas em Wall Street, registrados nos últimos meses, são fruto de uma série de fatores: políticas monetárias e fiscais ultra-expansionistas, euforia dos investidores e recorde de investimento alavancado.

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Esse Bull Market de Wall Street foi alimentado também pelos mais de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 4 trilhões) em compras de ações que foram realizadas graças ao chamado “margin debt”. Comprando títulos com uma pequena margem. Ou, em bom português, endividando-se.

Quando tudo sobe, as compras alavancadas não são um problema. Mas  incógnitas aumentam em caso de queda do mercado. Pois o encerramento forçado dessas posições poderia criar um efeito dominó na lista de preços, aumentando drasticamente o nervosismo.

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De 2017 até hoje, a margem média da dívida sobre toda a capitalização do índice S&P 500 foi de 2,5%. Uma porcentagem em linha com os dados mais recentes.

No entanto, existe uma variável que difere do passado recente: a mudança da margem da dívida em base anual. Um fator inusitado.

Nos últimos dois anos, o desvio médio ficou em torno de -4%. O que significa que a margem da dívida cresceu menos que a capitalização de mercado.

Os números mudaram consideravelmente desde o início da pandemia do novo coronavírus (covid-19).

Em particular, desde novembro 2020 a diferença sempre foi de dois dígitos, basta pensar que em fevereiro a margem da dívida aumentou 49% em uma base anual em comparação com a alta de 31% do S&P 500.

Traduzindo: os traders estão endividando-se mais do que a alta do mercado.

De novo: enquanto tudo sobe, não há problemas. Em caso de correção, no entanto, um efeito dominó poderia ser muito rápido.

Fechar posições de margem aberta em um ritmo tão acelerado poderia amplificar as baixas.

Wall Street está amando essa tendência

Entretanto, em Wall Street todo o mundo parece estar amando essa situação.

As ações estão em suas máximas como jamais visto. Pela felicidade dos investidores.

E, para as corretoras, as compras de ações alavancadas é um ótimo negócio.

Isso pois, para operar com margem, a corretora recebe juros que servem de remuneração para os swaps que replicam o título objeto da compra da dívida (ou seja, com margem parcial em relação ao valor total da ação adquirida).

Em geral, os mesmos intermediários também compram o título subjacente.

Para a corretora, o ganho é dado não apenas pela comissão, mas também pelos juros que devem ser calculados ao longo do prazo do empréstimo.

Nos Estados Unidos, esse juro pode chegar a 8% ao ano. Um ótimo negócio em um país onde a taxa de juros está entre zero e 0,25% ao ano.

Quando a ação cai, mas não de forma suficiente para acionar a chamada de margem, a corretora leva para casa o desempenho negativo, mais a comissão e mais os juros da dívida.

Portanto, enquanto o mercado sobe e desce, mas a alavancagem não entra em colapso, esse é um bom negócio para a corretora.

Mas se a queda dos papéis for substancial, a corretora exige uma margem maior e, nesse caso, se o cliente não conseguir atender esse pedido, isso pode desencadear vendas forçadas no mercado ampliando as quedas.

Os casos da Gamestop e da Archegos nos últimos meses seguiram mais ou menos esse mecanismo.

Baixa volatilidade nos mercados

O que é importante ressaltar é que as posições alavancadas são resultado de diversos fatores, principalmente relacionados à baixíssima volatilidade.

A volatilidade para baixo é sinônimo de menor risco, e isso aumenta a exposição à alavancagem de acordo com estratégias bem definidas.

No ano passado a volatilidade diminuiu constantemente, com o Vix – o chamado “índice do medo” – que passou de cerca de 80 para 17 nos últimos dias.

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Os modelos de risco toleram maior exposição em face de menor volatilidade. Menos volatilidade significa mais posições alavancadas. Se a volatilidade aumentar, a corretora exige margens maiores e isso pode desencadear vendas forçadas em situação de excessos.

Portanto, a velocidade do aumento da volatilidade é o ponto chave. Se acontecer aos poucos as posições são geridas tranquilamente. Mas se há movimentos violentos desencadeiam-se vendas simultâneas com fortes reflexos no mercado. Um salto acima de 30 do Vix, por exemplo, poderia criar problemas.

Nos últimos dias, o Vvix – ou seja a volatilidade da volatilidade – voltou a subir. O que começa a deixar muita gente em Wall Street com receio do que estaria por vir.

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Carlo Cauti

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