Rainha Elizabeth foi “símbolo de estabilidade” em 70 anos de altos e baixos econômicos

Durante os 70 anos de reinado da rainha Elizabeth II, falecida nesta quinta-feira (8), a Inglaterra passou por altos e baixos no que se refere à economia.

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Além da morte da rainha Elizabeth, os ingleses têm hoje preocupações galopantes pesando no bolso: em agosto, a inflação no país atingiu 10%, a maior taxa desde 1982, enquanto a libra, moeda oficial do país, é cotada a cerca de US$ 1,14, menor valor em 37 anos. Mas, nem sempre, a situação foi assim.

Veja trajetória de Elizabeth II

Quando assumiu o trono, em 1952, a jovem Elizabeth encontrou um país que ainda se reerguia dos estragos causados pela Segunda Guerra Mundial e lutava para manter sua importância no comércio mundial.

Durante toda a primeira metade de seu reinado, a Inglaterra e todo o reino passaram pelo processo de fim do colonialismo, o que trouxe sérias dificuldades à nação que se beneficiava do sistema colonial — como sua influência no importante Canal de Suez até o fim da década de 50.

Nos anos seguintes, a indústria perdia competitividade e o desemprego se tornava uma ameaça de dois dígitos, principalmente durante a década de 70.

A situação só foi mudar de vez com a chegada de Margaret Thatcher assumindo como primeira-ministra, em 1979, e removendo subsídios estatais em diversos setores.

Dotado de poucas reservas naturais, o Reino Unido teve de buscar saída na exploração de setores como o petróleo do Mar do Norte e até na chamada indústria criativa, como cinema, música e turismo, além de serviços de alto valor agregado, como moda, inovação e setor financeiro.

A rainha Elizabeth viu ainda sua nação passar pela chamada “Quarta-Feira Negra” e a crise de 2008.

Rainha Elizabeth II.
Rainha Elizabeth II: em 70 anos de reinado, monarca viu altos e baixos na economia do Reino Unido

Na fatídica quarta-feira de 1992, o governo do Reino Unido teve que retirar a libra esterlina do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (ERM, em inglês) após uma tentativa fracassada de manter a libra acima do limite inferior de câmbio exigido pelo ERM.

Na ocasião, o empresário e economista George Soros ganhou 1 bilhão de libras esterlinas especulando a desvalorização da moeda.

Dezesseis anos depois, em 2008, o colapso da bolha imobiliária nos Estados Unidos abalou fortemente economias por todo o mundo.

Nas duas ocasiões, a nação da rainha Elizabeth se recuperou de forma relativamente rápida.

Os dilemas mais recentes envolveram os movimentos de saída do Reino Unido da União Europeia, os impactos causados pela pandemia e pela Guerra na Ucrânia.

Ao se retirar do bloco europeu em janeiro de 2020, o custo de tudo voltou a subir no país, que vive um aumento generalizado dos custos, com as novas taxas que precisam ser pagas para entrada e saída de produtos no país.

Como muitas outras nações europeias, o país está ameaçado por uma recessão em meio à desaceleração das atividades econômicas causadas pela suspensão no fornecimento de gás russo no contexto da guerra na Ucrânia.

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A Rússia cortou o fornecimento de gás
A Rússia cortou o fornecimento de gás – Foto: Reprodução/Kremlin/Sputnik

Rainha Elizabeth trazia estabilidade

Ter conduzido a nação por todos estes momentos carregando uma imagem de previsibilidade e estabilidade foi o que fez toda a diferença no legado deixado pela monarca, conforme analisam especialistas.

“O principal legado dela é que ela representava, mais do que qualquer outro personagem britânico a estabilidade e continuidade. Representava, inclusive, o país para fora, para investidores, trazendo previsibilidade”, diz Kai Enno Lehman, professor da Universidade de São Paulo.

Lehman acredita que a rainha não deixava de ser, igualmente, um símbolo cultural e político.

“O Reino Unido vem passando por uma época muito tumultuada que não mostra sinais de acabar. Desde 2010, teve quatro primeiros ministros, plebiscito para a saída da Escócia, plebiscito da saída da União Europeia, plebiscito sobre sistema eleitoral, o próprio Brexit. A rainha representava algo que no mundo político está faltando”, afirmou.

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Charles deverá ser “rei de transição”

Após a morte da rainha Elizabeth, o príncipe Charles se tornará rei aos 73 anos – ele tem permissão para escolher seu próprio nome e espera-se que se torne o rei Charles III.

Nesta fase, terá lugar uma reunião do Conselho de Adesão no Palácio de St. James e todas as formalidades terão lugar.

Para o professor da USP, fatos passados envolvendo a imagem de Charles devem fazer com que o monarca suba ao trono com uma imagem já formada na cabeça de muitos observadores.

“As expectativas são baixas e limitadas, pois muitos já têm uma imagem dele na cabeça a muito tempo e isso não vai mudar muito”, afirmou.

A vida pessoal do monarca divide a opinião pública, sobretudo no que diz respeito ao histórico de seu casamento com Lady Diana Spencer, marcado por desavenças públicas e escândalos.

“Ele certamente vai ser um rei de transição. As expectativas vão voltar a subir com a ascensão de William, quando acontecer”, disse o professor.

Apesar disso, o herdeiro da rainha Elizabeth terá o papel apaziguador sobre o Reino Unido, que vive situação política tumultuada e economicamente frágil. “O país está profundamente dividido e ele tem que assumir papel de unificador”, diz Lehman.

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Laura Intrieri

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