No 1º pregão de 2024, Ibovespa fecha em queda de 1,11%, aos 132 mil pontos; bancos caem e Azul (AZUL4) lidera baixas

Após ter renovado máximas históricas de fechamento em sete das últimas dez sessões de 2023, o Ibovespa fechou o primeiro pregão de 2024 com queda de 1,11%, aos 132.696,63 pontos. O índice oscilou entre a mínima de 132.094,61 e a máxima de 134.194,94 pontos. O volume financeiro do dia foi de R$ 19,6 bilhões.

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Mais cedo, e até o meio da tarde, os carros-chefes das commodities na B3 – Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) – eram a exceção positiva nesta abertura de ano entre as ações de maior peso e liquidez. Em nota, a Guide Investimentos aponta que o minério reagiu positivamente a novas promessas de estímulo econômico pelo governo chinês, assim como a dados de atividade melhores no país asiático.

Os preços do petróleo – que mudaram de direção e se firmaram em baixa ao longo da tarde – a princípio avançavam na sessão, com a notícia de que o Irã enviou um navio de guerra para a região em resposta ao afundamento de três barcos da milícia Houthi, do Iêmen, por forças militares dos Estados Unidos, no Mar Vermelho. Assim, após terem chegado a subir cerca de 2% no ponto mais alto do dia, os contratos futuros de petróleo fecharam com perdas.

“O dia foi de realização de lucros no Ibovespa hoje depois da forte alta de dezembro. É normal ter um início de ano com um pouco mais de acomodação, em um dia de maior cautela aqui como também no exterior em relação aos próximos passos, ao que tem para vir aí pela frente, especialmente no exterior. Assim, a alta dos rendimentos dos Treasuries, na sessão, acabou pressionando também os ativos de renda variável como ações”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacando a forte agenda de indicadores na semana, especialmente o relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano, na sexta-feira.

No contexto doméstico, o Ibovespa acentuou a realização de lucros nesta primeira sessão do ano a partir do meio da tarde, pouco depois, também, de o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, deputado Danilo Forte (União-CE), ter emitido nota em que critica a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar trechos da regra orçamentária, entre os quais o cronograma de pagamento de emendas parlamentares.

“Recebi com preocupação os vetos anunciados, uma vez que afetam o grande objetivo da LDO de minha relatoria, que é conferir um nível maior de previsibilidade, transparência e de execução do Orçamento Federal”, disse Forte, na nota divulgada à imprensa.

O veto presidencial ocorre em momento delicado na relação entre Planalto e Congresso, após o governo ter proposto, no apagar das luzes de 2023, por Medida Provisória (MP), uma solução contrária à prorrogação da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia até 2027, após Senado e Câmara terem mostrado força e derrubado veto de Lula que encerrava o benefício – em meio a iniciativas da Fazenda para recompor receitas, visando ao cumprimento da meta de déficit fiscal zero em 2024.

“Internamente, o mercado está de olho também na MP da Compensação, que não agradou aos parlamentares. Haddad já avisou que, caso o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco devolva a MP, vai acabar judicializando a questão, o que é ruim. Mais um motivo para esse dia que tivemos, de realização de lucros”, diz Moliterno, da Veedha.

“O Ibovespa pegou uma tração de queda mais forte à tarde, nesse primeiro pregão do ano. Na sexta-feira, quando não houve negócios na B3, já prevalecia nos mercados internacionais um ceticismo maior sobre o crescimento da economia global – principalmente, Estados Unidos -, enquanto a crise no mercado imobiliário chinês também volta à atenção dos investidores”, diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

“Nada, por enquanto, tão relacionado a Brasil, que refletiu hoje essa aversão que vem de fora”, acrescenta o operador, observando também que, mais cedo, tanto Vale como Petrobras contribuíam para segurar um pouco a Bolsa, amenizando as perdas do Ibovespa, que se agravaram com a guinada da mineradora – a ação de maior peso no índice – para baixo. A Vale caiu 0,19%, a R$ 77,05.

Maiores altas e baixas do Ibovespa

Hoje, entre as maiores altas do Ibovespa, ações da CSN Mineração (CMIN3) lideraram, subindo 1,64%. Enquanto no campo negativo, a Azul (AZUL4) caiu 8,18%.

Por aqui, os investidores repercutiram também o Boletim Focus, divulgando que a expectativa para a inflação anual em 2023 seguiu em 4,46%. Um mês antes, a mediana era de 4,54%. Para 2024, foco da política monetária, a projeção de IPCA mudou levemente, de 3,91% para 3,90%. Há um mês, estava em 3,92%.

Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, que estabelece a meta de déficit zero para o resultado primário das contas públicas. 

A Lei Orçamentária de 2024, publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira, admite um intervalo de tolerância para o cumprimento da meta fiscal que tem como limite superior um superávit primário de R$ 28,756 bilhões e o limite inferior de déficit primário de R$ 28,756 bilhões.

No radar do mercado também esteve o desempenho das bolsas de Nova York, que operaram sem direção única. Além da alta no rendimento dos Treasuries. 

Os contratos futuros de petróleo fecharam em queda nesta terça-feira (02). O barril do WTI fechou em baixa de 1,77%, a US$ 70,38, enquanto o do Brent para março caiu 1,49%, a US$ 75,89. Neste contexto, a Petrobras (PETR4) ficou no terreno positivo, com altas de 0,97% nas ações ordinárias e 1,45% nas preferenciais.

Os bancos caíram em bloco:

  • Banco do Brasil (BBAS3): -1,14%
  • Itaú (ITUB4): -1,28%
  • Santander (SANB11): -0,77%
  • Bradesco (BBDC4): -1,99%

No mercado externo, as Bolsas da Europa fecharam sem sinal único, acompanhando perspectivas para a política monetária e com impulso de petroleiras, que subiram com foco no acirramento de tensões geopolíticas. O dia contou ainda com a publicação de indicadores de atividade no continente, que deram diferentes indicações sobre a economia na região. O índice pan-europeu Stoxx600 fechou em baixa de 0,16%, a 478,23 pontos.

As bolsas asiáticas fecharam em desempenho misto, com as chinesas  em queda após dados da atividade manufatureira no país.  As Bolsas dos Estados Unidos terminaram também mistas:

  • Dow Jones: +0,07%, aos 37.715,04 pontos;
  • S&P 500: -0,57%, aos 4.742,83 pontos;
  • Nasdaq: -1,63%, aos 14.765,94 pontos.

Por lá, o mercado reagiu aos novos dados divulgados hoje da S&P Global. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial dos Estados Unidos caiu de 49,4 em dezembro a 47,9 na leitura final de dezembro. 

Nesta terça-feira, o dólar à vista encerrou com alta de 1,29%, cotada a R$ 4,9158.

Maiores altas e baixas

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O que movimentou o Ibovespa hoje?

Segundo Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, o dia foi marcado por uma aversão a risco globalmente, depois de fortes altas na Bolsa em dezembro.

Para Duarte, os mercados passam por um ajuste à espera dos próximos dados que vão sair nos Estados Unidos. “É normal depois de uma alta forte no final de ano, a gente ter algum ajuste agora, um movimento de aversão a risco, e dá pra notar claramente o reflexo disso no dólar”, explica o analista.

Em relação ao Brasil, o setor financeiro puxou para baixo a Bolsa, com os papéis de Bradesco, Itaú, Banco do Brasil em queda. Fora Petrobras (PETR4), a maioria dos outros papéis ficou no terreno negativo.

“Vale destacar que a Bolsa inteira está caindo, com exceção dessa parte de commodities. E não vi nada específico do setor financeiro de novidade para puxar uma queda mais pesada. Acho que é mais um ajuste, depois de uma alta forte no mês passado. É um setor que também tem uma sensibilidade à curva de juros”, diz Duarte.

Ao olhar a curva de juros, relata Duarte, é percebido uma subida em reflexo da aversão a risco por conta dos dados que devem vir do exterior. No Brasil, o receio continua sobre a questão fiscal e se o governo vai conseguir manter o déficit zero para 2024.

“Em relação ao cumprimento da meta, o mercado tem uma dificuldade, desde o ano passado, em acreditar que o governo vai cumprir a meta zero. Apesar da última declaração do Haddad ter reforçado a busca pelo déficit zero e também estar buscando medidas para tentar fechar o orçamento”, comenta Duarte.

Assim, o mercado deve ficar de olho nas próximas declarações, principalmente do presidente e do ministro da Fazenda, até porque Câmara e Senado estão de recesso até fevereiro, informa Duarte.

“Se a meta for descumprida, é muito importante observar a comunicação, como vai ser feita. Se ela vai ser feita buscando explicar com seriedade que houve, de fato, uma tentativa para fazer esse cumprimento e que acabou não conseguindo, ou se vai ser feita de uma maneira um pouco menos polida”, conclui o analista.

Último fechamento do Ibovespa

No último pregão de 2023, o Ibovespa fechou próximo da estabilidade, com queda de 0,01%, aos 134.185,24 pontos, após quatro recordes seguidos.

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Vinícius Alves

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