Copom deve confirmar redução da Selic na primeira reunião do ano. Como será o ritmo dos próximos cortes?

Um dos eventos mais aguardados da agenda da semana no Brasil, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), iniciada nesta terça (30), pode confirmar amanhã (31), na primeira reunião do ano, mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa de juros, a Selic. Atualmente, ela está em 11,75% ao ano. Analistas e economistas também discutem o ritmo de cortes do BC para os próximos encontros.

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Na última reunião de dezembro, o Copom anunciou o quarto corte seguido da taxa Selic em 2023. A taxa caiu para 11,75%, na oitava reunião do ano. A decisão era majoritariamente esperada pelo mercado e foi unânime, contando com o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, 63 de 64 instituições financeiras consultadas acreditam que a decisão do Copom manterá o plano de voo do comitê e fará mais um corte de 0,50 ponto, para 11,25%, enquanto uma casa aposta em um corte mais agressivo, para 11,00% ao ano. Para 56 entre 60 (93%), o colegiado seguirá nesse ritmo também nas reuniões de março e maio.

No encontro de dezembro, o Copom repetiu que antevê redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic nas próximas reuniões e que seria o ritmo apropriado para “manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Segundo Boletim Focus divulgado na manhã desta terça-feira (30) pelo Banco Central, a estimativa para a taxa de juros segue em 9% ao final deste ano. 

Ainda de acordo com a pesquisa, para 2025, o mercado espera que a taxa de juros termine em 8,50%, mesma projeção da semana anterior. Para 2026, a expectativa é de que a Selic também chegue a 8,50%.

Paralelamente, ainda conforme o Focus desta semana, o mercado espera que o IPCA, principal indicador de inflação, termine 2024 em 3,81%, abaixo da projeção da semana passada (3,86%) e das últimas quatro semanas (3,90%).

Para a primeira reunião do ano, a Warren Investimentos espera que o comitê reduza a meta Selic em 0,50 ponto percentual, para 11,25%, em linha com o sinalizado na reunião anterior e a visão consensual do mercado.

“Consideramos ainda como mais provável que o comunicado repita a mensagem de que os membros do Comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, aponta Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da casa.

Ainda para Goldenstein, desde a última reunião, não houve alterações relevantes da dinâmica inflacionária, das projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos que justifiquem uma sinalização divergente das anteriores.

“Levando em consideração as projeções de inflação acima da meta, as surpresas altistas recentes de ‘serviços subjacentes’, as expectativas desancoradas e o hiato do produto estreito, consideramos como mais correto que o Copom mantenha uma postura cautelosa, seguindo com o ritmo de 0,50 p.p, o que reduz o risco de uma desancoragem adicional das expectativas num ambiente de incertezas acima do usual, notadamente com relação à política fiscal em 2024”, completa.

Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, avalia que apesar da estreia de dois novos diretores indicados pelo governo Lula – acumulando quatro indicações no total – o comunicado da última reunião do Copom apontou claramente na direção da manutenção de cortes de 50 pontos-base para as reuniões de janeiro e março. Nesse sentido, a decisão deve ser unânime pelo corte de 50 pontos.

“Quanto ao cenário para duas reuniões à frente (maio em diante), os últimos dados de inflação têm apontado para um repique da inflação de serviços, o que inviabiliza a aceleração do ritmo de cortes de 50 para 75 pontos-base”, destaca.

“Em termos do que pode ser alterado, achamos que o Copom deveria comunicar a divulgação de dados mais recentes apontando para uma economia norte-americana mais resiliente do que o esperado, o que pode impactar tanto no início do ciclo de corte de juros por lá como na taxa terminal da Fed Funds Rate (FFR), o que pode restringir o ciclo de afrouxamento monetário da taxa Selic no Brasil”, completa.

Para o Bank of America, o Copom também deve reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25%, por unanimidade. De acordo com o banco, existem ligeiros riscos descendentes para as previsões de inflação em 2024 no modelo do Banco Central. “A incerteza em relação às contas fiscais e ao ambiente externo manterá o BC confortável com o ritmo de flexibilização”, pontua a instituição.

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BC manterá atual plano de voo da política monetária, diz Gustavo Sung, da Suno

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também espera que o Copom corte a taxa de juros em 50 pontos-base nesta próxima reunião. 

Em comparação a reunião de dezembro, Sung acredita que a economia não sofreu grandes alterações, o que possibilita o Banco Central (BC) manter o atual plano de voo da política monetária. Ainda para ele, nas últimas semanas, não houve grandes declarações ou sinalizações dos membros do Comitê que trouxessem alguma surpresa. 

Já em relação à inflação, a expectativa é de que ela termine o ano em 3,90%, diz o economista-chefe da Suno. Contudo, existem fatores que podem impactar a inflação neste ano e influenciar as decisões do BC.

“Alguns riscos altistas para os preços merecem destaque, como o ambiente externo desafiador, os incentivos à economia brasileira – entre os quais o aumento do salário-mínimo, precatórios e gastos públicos -, os impactos do El Niño sobre os alimentos e as incertezas fiscais no Brasil”, pontua.

“Por outro lado, há pressões baixistas como a acomodação das cotações das commodities e uma possível valorização cambial, caso as incertezas globais e domésticas se dissipem. A materialização desses riscos e os efeitos sobre os preços podem prolongar ou reduzir o atual ciclo de cortes”, completa.

IPCA: projeções acima da meta de 3% são preocupações para o BC, diz economista-chefe da Suno

Outro ponto importante destacado por Sung se refere às expectativas de inflação. Conforme o Focus desta semana, o mercado espera que o IPCA, principal indicador de inflação, termine 2024 em 3,81%, abaixo da projeção da semana passada (3,86%) e das últimas quatro semanas (3,90%).

“O problema é que todas as projeções estão acima da meta de 3% e isto é uma preocupação para o Banco Central, uma vez que seu objetivo principal é conduzir a inflação para o centro do alvo”, pontua.

Para uma maior ancoragem das expectativas, Sung avalia ser necessário reduzir o risco fiscal do país. Entretanto, segundo ele, a possibilidade de aumento de gastos públicos em um ano de eleições municipais e a redução dos esforços para atingir a meta de gasto primário complicam esse movimento. 

“Esses dois aspectos têm o potencial de desvalorizar a taxa de câmbio e aquecer a economia, exercendo pressão sobre os preços. Além disso, é importante lembrar que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, permanecerá no cargo até dezembro de 2024. Surgem dúvidas quanto ao perfil do futuro indicado pelo governo e se ele buscará ou não atingir a meta de inflação de 3,0%. Embora não seja o fator principal, está no radar dos analistas”, ressalta.

“Redução da taxa de juros nos EUA não tem relação direta com o Brasil” 

Para 2024, a Suno Research projeta uma taxa de juros terminal de 9,50% ao ano. De acordo com Sung, esse patamar deverá ser suficiente para garantir que a inflação siga para a meta, não desancorar as expectativas e evitar uma saída de capital do país.

“Nossa projeção está acima do Boletim Focus e de alguns analistas. Muitos argumentam que o início do afrouxamento monetário nos Estados Unidos pode facilitar o trabalho do nosso Banco Central para levar a taxa Selic a um nível mais baixo. Contudo, acreditamos que essa relação não é direta”, afirma o economista-chefe da Suno.

“Como vivemos em um regime de metas de inflação, nossa dúvida reside nos efeitos dos cortes de juros nos Estados Unidos sobre o Brasil, mais especificamente, na diferença entre as expectativas de inflação e a meta de 3,0% – não necessariamente ocorrerá uma convergência”, continua.

Ainda de acordo com Sung, o segundo motivo para ter uma projeção acima do Focus é com o risco fiscal, que deve elevar com a possível mudança na meta de zerar o déficit este ano. “As expectativas de inflação poderão ser impactadas”, diz.

Por fim, em relação aos próximos passos, o economista-chefe da Suno Research afirma que há algumas reuniões, o Comitê vem sinalizando que pretende manter o ritmo de cortes de 50 pontos-base. Para a reunião de março, essa é a expectativa da casa.

“No entanto, para a reunião de maio, é possível que neste comunicado o comitê retire a sinalização ‘próximas reuniões’ e deixe o cenário aberto a fim de compreender melhor a evolução dos dados. Importante ressaltar que existe uma gordura a ser queimada, e a autoridade monetária poderá manter esse ritmo de ciclo de cortes de juros pelo menos ao longo do primeiro semestre”, conclui Sung.

Grandes bancos brasileiros fazem projeções para a Selic; veja

Os economistas Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, da XP, pontuam que o fluxo de notícias desde a última reunião do Copom se mostrou balanceado para as perspectivas de inflação. O grupo acredita que, na avaliação dos membros do Copom, não há motivos para mudança no atual “plano de voo” de retirada gradual da restrição de política monetária.

“Logo, não prevemos mudanças relevantes no comunicado pós-reunião desta semana, com a orientação futura de que ‘os membros do Comitê antecipam, por unanimidade, novas reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões”, destacam.

A XP avalia, ainda, ser possível que o comitê opte por mencionar as tensões geopolíticas e a dinâmica do mercado de trabalho no Brasil para reforçar a necessidade de uma política monetária ainda restritiva adiante. 

“O Copom poderia mencionar também riscos fiscais e parafiscais, mas acreditamos que isso não será feito”, completam os analistas.

Já o Bradesco Asset Management passou a projetar um ciclo contínuo na redução da Selic, ao invés de um ciclo em duas etapas, levando em conta a aproximação do primeiro corte de juros nos Estados Unidos, previsto agora pela casa para junho e não mais em novembro.

A avaliação é de que o movimento do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve remover uma potencial restrição à trajetória da Selic. Assim, a gestora do Bradesco ainda prevê redução da Selic até a taxa terminal de 8,50%, porém com esta taxa já sendo alcançada em novembro, quando, estima, o ciclo será fechado pelo Banco Central (BC).

Antes, a aposta era de que a flexibilização monetária se daria em duas etapas, com a taxa Selic caindo para 9,5% ao fim deste ano, e recuando, numa segunda etapa, para 8,5% apenas em 2025, na esteira do relaxamento dos juros nos Estados Unidos.

Economistas da Anbima revisam projeção da Selic

O Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) reduziu a projeção da Selic para 2024. Segundo economistas, a taxa de juros do país deve encerrar o ano em 9,25% – antes a projeção era de 9,5%.

De acordo com a Anbima, o ritmo de queda da Selic está previsto em 0,50 pontos percentuais a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e deve prosseguir até agosto, com a taxa básica de juros se mantendo nesse patamar até dezembro. 

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Giovanni Porfírio Jacomino

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