PIB, juros e inflação: veja as avaliações de Campos Neto e de diretor do Banco Central sobe o ano de 2023

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 21, que não é verdade que o juro nominal recuou e o juro real não caiu. “O esforço monetário, ou distância para taxa neutra, é mais importante que juro real”, defendeu, em dia de divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

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Ele reiterou que o Brasil fez um esforço monetário maior do que outros países e destacou que a maior parte da surpresa para baixo na inflação em 2023 foi no último trimestre. Por isso, ele defende que o ritmo de queda da Selic é apropriado para convergência saudável da inflação.

Já o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse que a desancoragem das expectativas é fator de preocupação e exige Selic contracionista.

Taxa de juros neutra

O presidente do Banco Central disse que o cálculo de taxa de juros neutra não é um exercício exato e considera que a taxa do BC, de 4,5%, e a do mercado, de 5%, estão próximas.

“Tem várias formas de fazer que não são exatamente iguais. Tem formas de olhar isso de modelos mais estruturais. Considero que taxas estão bastante próximas, 4,5% e 5%”, afirmou Campos Neto.

Riscos à inflação

O presidente do Banco Central disse que há uma preocupação inflacionária se houver um consumo consistentemente subindo e investimentos caindo. “Se tiver consumo consistentemente subindo e investimento consistentemente caindo em algum momento você terá condições piores em termos de análise prospectiva de inflação”, comentou.

Ele pontuou que o consumo é mais afetado pelos juros de curto prazo e investimento, por de longo prazo.

Campos Neto disse que, apesar da queda de investimentos, houve elevação em 2021 e 2022, o que não gera tanta preocupação pelo efeito cumulativo.

Relação entre área fiscal e expectativas de inflação

O presidente do Banco Central reforçou que existe relação entre o cenário fiscal e as expectativas de inflação, mas que nada é mecânico. Segundo ele, essa é uma das principais mensagens a serem fixadas.

Durante entrevista coletiva, o presidente do Banco Central ponderou que se o cenário fiscal for um pouco pior, mas o governo seguir fazendo reformas, o mercado vai entender que há um esforço para o controle da dívida.

Campos Neto ponderou que nos Estados Unidos houve esforço generalizado do Federal Reserve, o banco central do país, em corrigir a interpretação dos investidores sobre o corte de juros, e que a reação do Banco Central à política monetária americana também não é mecânica.

Câmbio

O presidente do Banco Central pontuou que o câmbio não tem tido muita volatilidade e que o real tem se mostrado uma moeda resiliente. “O real tem se mostrado uma moeda bastante resiliente, o fluxo melhorou bastante”, disse.

Para ele, o Brasil é forte candidato a fluxos de investimentos mais perenes, e o câmbio tende a se beneficiar.

Ele disse que a parte agrícola e de petróleo também tem ajudado fluxo cambial. “Não fazemos previsões de câmbio, mas de fato tem sido variável melhor”, comentou.

Reformas

O presidente do Banco Central disse que o país teve boas notícias na aprovação de reformas no Congresso nesta semana, com a promulgação da tributária e aprovação da medida provisória que regulamenta a subvenção estadual na base de cálculo de tributos federais.

Ele também destacou o grande esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na relação com o Congresso para a votação de reformas.

Ao longo do ano governo enxergou o quão técnico é o trabalho do BC, diz Campos Neto

Também nesta quinta-feira, 21, o presidente do Banco Central disse que ao longo do ano o governo entendeu quão técnico é o trabalho da autoridade monetária, o que melhorou o relacionamento entre as partes após um início de ano com muitas críticas à condução da política monetária pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Esse foi o primeiro teste da autonomia, um teste em que a gente aprendeu muito, de todos os lados, o BC convivendo com o governo novo”, disse Campos Neto em dia de divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Ele destacou que com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a interação foi crescente ao longo de 2023. “Temos boa relação com o governo e esperamos que o relacionamento melhore”, disse.

Ciclo de juros

O presidente do Banco Central reiterou que a autoridade monetária considera o ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual na Selic adequado e que “próximas reuniões” significam duas reuniões, portanto, com sinalização até março.

De acordo com Campos Neto, as estimativas de inflação para 2024 ficaram praticamente paradas desde a última reunião do Comitê de Política Monetária Copom). Ele reforçou que a autoridade monetária olhou de forma especial para a inflação de serviços e viu melhora.

No caso do hiato do produto, que é super importante, ele destacou que houve um ligeiro fechamento, “mas muito marginal, não mudou muita coisa”.

Argentina

O presidente da autoridade monetária também comentou que já conversou com argentinos, defendendo que uma agenda reformista cria tempo para países em dificuldade com o fiscal. Ele aproveitou para frisar que no Brasil também há preocupação do mercado com o fiscal, mas a sinalização de reformas e a perseguição dessas metas também têm efeito relevante.

O presidente da Argentina, Javier Milei, assinou na quarta-feira uma série de decretos que promovem uma desregulamentação da economia, como revogações de leis nos setores imobiliários, de abastecimento e de controle de preços.

PIB voltou para linha de tendência de alta do período pré-pandemia, diz diretor do BC

Já o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 21, que o PIB voltou para linha de tendência de alta do período pré-pandemia. Ele mostrou que apesar de um efeito cíclico estrutural e da pandemia, o PIB do País voltou ao cenário anterior à covid-19.

Ele reforçou a surpresa com o desempenho da economia brasileira em 2023, já que a pesquisa Focus apontava, ao final de 2022, expectativa de PIB de 1% e agora se aproxima de 3%. “No primeiro trimestre, tivemos surpresa no agro e no segundo trimestre, a resiliência na parte do consumo”, disse.

A resiliência do consumo, inclusive, foi citada como a surpresa da última divulgação do PIB. Guillen pontuou que o BC já discutiu em várias comunicações as razões, que estão ligadas ao aumento de renda, benefícios sociais e a desinflação elevando a renda disponível. A diminuição da atividade no terceiro trimestre já era esperada, pontuou.

Guillen disse que um outro lado deste cenário é a queda de investimento, que diminuiu após a elevação de 2021 e 2022. “Agora mais recente, o investimento caiu. Isso é acompanhado por importação de bens de capital, insumo de produção, que corroboram o cenário de investimento mais sensível a incertezas e expectativas econômicas”, disse.

Núcleos de inflação ainda estão mais elevados do que no pré-pandemia, diz diretor do BC

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 21, que os núcleos de inflação ainda estão em níveis mais elevados do que no período pré-pandemia. Ele reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou que o cenário externo está em situação menos adversa e volátil e do que na reunião anterior e que há sinais incipientes de desinflação.

“É interessante ver o processo acontecendo, a volta da desinflação. Isso reforça argumento de desinflação em dois estágios, puxada pelos voláteis, administrados, e entrando no segundo estágio como os núcleos, como caracterizado no Brasil, ainda rodando em níveis mais elevados do que no pré-pandemia”, disse o diretor, durante coletiva de imprensa de apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Ele também destacou o debate de sinais correntes de desinflação, os desafios e as fontes de desinflação do futuro.

Commodities

O diretor de Política Econômica do Banco Central destacou ainda que desde a última reunião do Copom houve recuo no índice de commodities (IC-Br).

O IC-Br caiu por todo o primeiro semestre do ano e subiu nos quatro meses seguintes, mas voltou a baixar fortemente em novembro. Segundo o BC, a retração foi de 5,09% no mês passado.

O indicador passou de 376,14 pontos em outubro para 356,99 pontos em novembro. Com isso, o indicador acumula redução de 8,64% nos 11 primeiros meses de 2023. Em 12 meses, a queda do IC-Br é de 10,64%.

Surpresas da inflação

O diretor de Política Econômica do Banco Central explicou também que a surpresa para baixo de 0,40 ponto porcentual na inflação no trimestre até novembro decorre de petróleo e industriais.

“Olhando para trás, tivemos surpresa com petróleo, com gasolina, a parte de bens industriais, e um efeito mais forte de Black Friday”, disse Guillen.

Ele também destacou o impacto do El Niño em alimentos, como já frisado na ata do Copom.

EUA

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que cerca de dois terços da desinflação de núcleos nos Estados Unidos já ocorreu, e ainda falta um terço para que seja compatível com o atingimento das metas no País.

“É um cenário de processo de desinflação: a inflação ainda não rodando em níveis compatíveis, ao mesmo tempo com rendimentos que ainda não estão nas máximas. Tem esse risco de ficarem em nível que estavam no pré-pandemia em função do mercado de trabalho apertado”, destacou ele durante a coletiva de imprensa de divulgação do Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central.

(Com informações de Estadão Conteúdo)

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João Vitor Jacintho

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