Petrobras (PETR4): governo avalia congelar preços dos combustíveis; ações despencam 7%

Em ano eleitoral, o mercado já avaliava os possíveis riscos para as ações da Petrobras (PETR4) em meio à escalada dos preços dos combustíveis em 2021. A situação se agravou neste ano com o cenário de guerra entre Rússia e Ucrânia, que pressiona os valores da cotação do petróleo, visto que o país de Vladimir Putin é um grande exportador do óleo.

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Se o petróleo já estava caro, nesta segunda (7) o barril Brent, referência de preços para a Petrobras, subiu ainda mais com o anúncio dos EUA de que pretendem discutir com aliados um veto à comercialização do petróleo russo. Com isso, a cotação fechou o dia em US$ 123,21 – muito acima da marca significativa de US$ 100 e se aproximando do recorde histórico de US$ 147, registrado em 2008.

Neste cenário, estão pressionados os bolsos dos brasileiros – com o encarecimento da gasolina, gás de cozinha, etanol, entre outros aumentos que pegam carona – , e as chances de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, com a insatisfação da população diante da alta de preços.

Para tentar amenizar os ânimos, o governo estuda anunciar, ainda nesta semana, um novo programa de subsídio aos combustíveis, com validade de três a seis meses, para compensar a alta do petróleo no mercado internacional e evitar o repasse do preço para a bomba. Esse subsídio temporário pode custar cerca de R$ 37 bilhões.

Segundo fontes do Estadão que participam das discussões, o que está na mesa de negociação é reeditar o modelo adotado em 2018, quando o governo do então presidente Michel Temer subsidiou o consumo de diesel e congelou os preços, dando fim à greve dos caminhoneiros.

“São os investidores prevendo uma intervenção”, crava Rodrigo Barreto, analista da Necton. O movimento também pesou sobre o Ibovespa, que acentuou as perdas para 2,52%, aos 111.593 pontos.

Em paralelo, a equipe econômica de Paulo Guedes defende uma solução via Senado, com a aprovação de um projeto de lei para mudar a tributação dos combustíveis.

Petrobras perde R$ 29 bilhões de valor mercado desde a sexta (4)

A Petrobras já perdeu R$ 29 bilhões de valor mercado desde a sexta (4), em meio ao debate político para impedir a escalada dos preços de combustíveis. Nesta segunda, técnicos de ao menos três ministérios se reuniram para debater uma forma de evitar que a disparada do preço do petróleo no mercado internacional chegue às bombas de combustíveis no País.

“Hoje o noticiário traz exatamente as possibilidades que muita gente temia, de alteração na política de preços da Petrobras por iniciativa do governo. Em todo e qualquer governo esse receio paira, mas os medos vem se tornando realidade nesse”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Sanchez calcula que, ao término da semana passada, mesmo com o câmbio cotado a R$ 5,06 o dólar, a Petrobras já tinha cerca de 25% de defasagem para corrigir. Caso o dólar permaneça nesse patamar e a gasolina suba os 7% que o Brent vai avançando hoje sobre o último fechamento, a defasagem estará em 35%.

Já segundo a consultoria StoneX, o preço do diesel está 51% abaixo do mercado internacional e da gasolina, 35%.

A proposta de subsídio será debatida em uma reunião amanhã (8) entre os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque. O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, também foi convidado.

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Críticas de Bolsonaro e possível congelamento derrubam ações da Petrobras

Nesta segunda-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro criticou mais uma vez a política de preços da Petrobras. Bolsonaro afirmou que a paridade internacional do preço do petróleo é resultado de uma “legislação errada” e que “não pode continuar acontecendo”.

Segundo o presidente, os sucessivos aumentos na cotação não podem ser repassados inteiramente para o preço dos combustíveis. Atualmente, a disparidade entre os preços internacionais e os praticados pela Petrobras nas refinarias é de 30%, a maior dos últimos dez anos, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

“Leis feitas erradamente lá atrás atrelaram o preço do barril produzido aqui e o preço lá de fora. Esse é o grande problema, nós vamos buscar solução para isso de forma bastante responsável”, afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Folha, de Roraima.

Com as declarações de Bolsonaro e a possível estratégia do governo de congelar temporariamente os preços dos combustíveis, as ações da Petrobras foram na contramão da cotação do petróleo hoje e fecharam em queda. Os papéis ON (PETR3) caíram 7,66%, avaliados em R$ 34,14, enquanto as ações PN (PETR4) perderam 7,10% do valor, para R$ 31,80. Já o barril do petróleo Brent fechou em alta de 4,32%, a US$ 123,21.

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Congelamento de preços

O que o governo federal está estudando é um congelamento de preços pela Petrobras, estabelecendo um valor fixo de referência para a cotação dos combustíveis e subsídios para a diferença entre esse valor e a cotação internacional do petróleo.

O pagamento dos subsídios seria feito a produtores e importadores de combustíveis. A diferença em relação à medida tomada em 2018 é que, desta vez, não será possível usar o dinheiro do Tesouro. O que está sendo estudado é utilizar os dividendos pagos pela Petrobras à União para bancar os subsídios.

Petrobras P-68. Foto: Divulgação/Agência Petrobras.
Petrobras P-68: O que o governo federal está estudando é um congelamento de preços, estabelecendo um valor fixo de referência para a cotação dos combustíveis. Foto: Divulgação/Agência Petrobras.

Também pode entrar na conta o dinheiro da participação especial que funciona como os royalties, mas incide apenas sobre a produção de grandes campos de petróleo, como os do pré-sal.

Em 2021, a Petrobras teve lucro recorde de R$ 106,67 bilhões e vai pagar R$ 38,1 bilhões para o governo em dividendos.

O problema é que esse dinheiro já teria um destino “carimbado”: educação e saúde. Para resolver esse impasse, o governo cogita alegar que o País passa por um período de excepcionalidade, provocado pela guerra.

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Pressão para a Petrobras

Com o subsídio, o governo espera evitar o desabastecimento interno de combustíveis, uma alta ainda maior da inflação e também a pressão sobre o caixa da Petrobras, que, hoje, paga a conta pelo congelamento dos preços da gasolina e do óleo diesel em suas refinarias, que não são reajustados desde 12 de janeiro.

Acontece que, com os preços da estatal congelados, a participação de concorrentes fica inviabilizada, porque nenhum deles tem fôlego para congelar seus preços, como faz a Petrobras, prejudicando a atuação dos importadores.

Com isso, recai sobre a estatal a obrigação de garantir o abastecimento interno de combustíveis, ainda que isso consuma bilhões de reais do seu caixa. A pressão sobre a empresa só não é maior porque ela tem estoque de petróleo e derivados suficiente para segurar o abastecimento até o fim de março.

De acordo com a Petrobras, os produtos foram comprados há cerca de dois meses, quando as cotações ainda não estavam tão elevadas. Entretanto, segurar os preços internos ainda não está sendo tão custoso quanto deve ser a partir do próximo mês.

O governo sabe que o peso sobre a empresa é grande, assim como o risco de desabastecimento. Além disso, uma disparada da inflação pode fragilizar mais a economia, num ano de eleição. O presidente da República, Jair Bolsonaro, vem manifestando publicamente preocupação com o tema e já afirmou que o lucro da Petrobras em 2021 foi “absurdo”.

Na prática, a Petrobras seria a grande fonte de financiamento do subsídio. A diferença é que esse modelo de subvenção não vai estrangular o seu caixa, porque o dinheiro já é pago ao governo. O que deve mudar é a sua destinação – em vez de ir para educação e saúde, vai subsidiar o consumo de combustíveis, por um período.

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Com informações de Estadão Conteúdo. 

Monique Lima

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