Petrobras (PETR4): além da governança, agenda ambiental está atrasada

A Petrobras (PETR4) além de ficar para trás nas últimas semanas na questão da governança, ao ter seu diretor-executivo (CEO) Roberto Castello Branco demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, também enfrenta desafios na frente ambiental, principalmente na questão das novas matrizes energéticas, impulsionadas em 2020 com a pandemia do coronavírus.

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Neste quesito, a petroleira está na contramão de seus pares internacionais. A Shell (RDSA34), por exemplo, anunciou no início de fevereiro deste ano que a sua produção de combustíveis fósseis teve “o seu pico” em 2019 e que só vai cair daqui para frente.

A empresa projeta que sua produção de petróleo diminuirá de 1% a 2% ao ano. Além disso, a Shell anunciou investimentos de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões a cada 12 meses em energias limpas, cerca de 10% do número total.

Já a BP, antiga British Petroleum, que trocou seu nome há cerca de 20 anos para se desvincular do combustível fóssil, estipulou a meta de diminuir em 40% sua produção de petróleo nos próximos dez anos, investindo US$ 5 bilhões em energias renováveis por ano.

As americanas ExxonMobil e a norueguesa Equinor seguem trilha semelhante, apostando mais em gases naturais, considerados menos poluentes.

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Endividamento impede Petrobras de investir

Já a brasileira Petrobras não possui planos nesta frente e continua focando na extração de óleo. No final do ano passado, 85% do seu portfólio era de petróleo e apenas 15% gás. Em 2020, dos US$ 8,5 bilhões investidos, US$ 6,5 bilhões foram para a exploração e produção de petróleo, US$ 947 milhões para o refino e US$ 353 milhões para o segmento de gás e energia.

O problema é que a empresa ainda tem uma dívida pesada que dificulta investimentos nas áreas de energia limpa.

“A Petrobras não pode se permitir jogar dinheiro fora. Temos um endividamento pesado, muitas sequelas do passado, não vamos nos meter a fazer o que não sabemos”, afirmou o então presidente Castello Branco em entrevista à Revista Piauí, em setembro do ano passado, ao se referir a energias renováveis.

O argumento de Castello Branco é confirmado por especialistas do meio. “A empresa ainda carrega uma dívida muito pesada, que suga sua capacidade de investimento ou de mais endividamento para financiar novos estudos”, afirma Edmar de Almeida, professor da UFRJ e pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio.

Pandemia acelerou mudanças

O que a Petrobras passa, com uma dívida líquida de US$ 63,2 bilhões de dólares, não é algo inédito no setor.

A BP, que vem há anos tentando se desassociar da imagem de petroleira, após um acidente no Golfo do México em 2010, quando esteve no centro do maior vazamento de óleo do mundo, vendeu seus ativos de energias renováveis e focou no combustível fóssil para bancar os gastos com reparação e se levantar.

O momento agora, entretanto, é diferente de 2010. “A pandemia reforçou a tendência de saída dos combustíveis fósseis porque muitos países e empresas viram a queda na produção como uma oportunidade para realizar uma transição. Para realizar uma retomada com um propósito político, mobilizando a sociedade em uma agenda positiva”, afirma Almeida.

Em 2020, porém, a Petrobras foi na direção contrária. A companhia se desfez, através da sua subsidiária Petrobras Biocombustível (PBio), de 50% da BSBios, empresa proprietária de duas usinas de biodiesel.

Ao mesmo tempo, vendeu boa parte dos seus ativos de transporte de gás natural, que, apesar de não ser totalmente sustentável, é considerado menos poluente, vendendo, por exemplo, a Liquigas por R$ 4 bilhões.

“É de se estranhar que a Petrobras não tenha mantido uma linha de produto alternativo ao petróleo. No gás, por exemplo, ela se mantém como produtora, mas saiu da distribuição e do transporte. É um contrassenso para o longo prazo, apesar da migração para novas matrizes ser demorada”, diz Marcus D’Elia, sócio diretor da Leggio Consultoria.

A decisão da Petrobras vai, inclusive, na direção contrária das atitudes do Governo Federal, seu controlador. Marcus pontua que o próprio Estado brasileiro vem incentivando a adoção de medidas mais sustentáveis.

O RenovaBio, implementado em 2020, propõe, entre outras coisas, uma adição gradual do biodiesel nas misturas vendidas em postos, devendo chegar a 15% volume total do composto comercializado em 2023 e podendo avançar mais no futuro.

“A mudança na matriz será longa, mas, a partir de agora, todo o crescimento deve ficar para o mercado de biocombustíveis”, diz D’Elia. A Petrobras pode surfar, no primeiro momento, em um novo superciclo das commodities, que parece estar surgindo no horizonte, e no fato de várias companhias estarem diminuindo suas produções de combustíveis fósseis, mas, no futuro, terá de encarar a mudança.

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“Dois terços do produto interno bruto mundial já têm carbono regulado. Isso sem considerar os Estados Unidos, onde um democrata acabou de assumir e que deve voltar para essa linha. Não adianta o Brasil e as empresas brasileiras acharem que podem manter suas posições”, afirma Fabio Alperowitch, co-fundador da FAMA Investimentos e pioneiro do ESG no Brasil.

Petrobras perde oportunidade de ser destaque

O gestor ainda pontua que a Petrobras e outras empresas brasileiras perdem oportunidades nesse sentido. “No macro, o Brasil está atrasado na questão da sustentabilidade. Aproveita-se pouco algo em que poderíamos estar liderando. É um país que tem 40% das florestas do mundo. Tem uma matriz energética boa. Temos várias vantagens competitivas que os países desenvolvidos não têm. Era para o Brasil ser protagonista”, completa.

Além de vender seu braço de biocombustível, a Petrobras se desfez de vários outros ativos de energia renovável. Nas últimas semanas, finalizou a venda do parque Mangue Seco, de energia eólica, localizado no Rio Grande do Norte. Pouco antes, interrompeu projetos pilotos como o do campo de Ubarana, de energia eólica offshore, no mesmo estado.

Empresas de energias renováveis avançam

Enquanto a Petrobras se desfaz dos seus ativos, empresas focadas em energias renováveis chamam a atenção do mercado. A Aeris (AERI3), que produz equipamentos para o setor de energia eólica, estreou na bolsa de valores brasileira no início de dezembro de 2020 e, desde então, acumula alta de quase 50%.

Vendo o interesse do mercado sobre o setor, duas companhias de energia sustentável, a Rio Energy e a Rio Alto Energias, protocolaram recentemente documentos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para abrirem seus capitais.

Na teleconferência de resultados do quarto trimestre de 2020, ao ser indagada sobre as movimentações e o freio na transição energética, a diretora financeira da Petrobras, Andrea Almeida, afirmou: “acho que após mais dois anos de trabalho árduo a empresa será mais competitiva e estará preparada para concluir quais serão as áreas competitivas em renováveis”.

A estatal, então, se desfez dos seus projetos de anos e só daqui algum tempo deve voltar a investir em mudar sua matriz energética. “A Petrobras é uma empresa símbolo, que deveria estar nessa transição energética e não está. Está virando uma empresa jurássica. Não é impossível buscar o atraso, mas, nesse mundo acelerado, você sabe o que representa largar com cinco anos de defasagem”, finalizou Alperowitch.

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Vitor Azevedo

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