Nova ordem global: conflitos globais e rivalidade China‑EUA transformam investimentos dos brasileiros
A nova ordem global já mostra impacto nas carteiras dos brasileiros. Tensões entre Estados Unidos, Israel e Irã, guerra na Ucrânia e a disputa entre China e EUA geram riscos e oportunidades, especialmente para quem souber ajustar sua estratégia.

Afinal, como conflitos externos, dólar instável e demanda global por commodities impactam o Brasil? E o que muda na renda fixa, nas ações, no ouro e na diversificação internacional?
O objetivo da Semana Temática Internacional do Suno Notícias é fazer com que os investidores tenham acesso a informações relevantes para quem deseja posicionar melhor sua carteira em um contexto de grandes mudanças mundo afora.
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Quais conflitos estão moldando imediatamente o risco e a volatilidade nos investimentos?
Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, qualquer escalada, seja no Oriente Médio, na Ucrânia ou em uma nova guerra comercial, eleva a aversão ao risco dos investidores e aumenta a volatilidade nos investimentos. “O maior problema é o risco de escalonamento, que pode trazer mais instabilidade e impactar decisões de investimento”, afirma.
Ele lembra, no entanto, que a guerra da Ucrânia provocou uma volatilidade muito forte no início. Hoje, porém, o impacto nos mercados já é bem menor.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, acredita que o conflito recente mais impactante tenha sido a escalada entre Irã e Israel, por envolver possíveis ataques ao Estreito de Ormuz, que é uma rota vital para até 30% do petróleo mundial.
“A situação elevou o preço do Brent em junho”, diz Patzlaff. O Brent, para quem não lembra, é um tipo de petróleo extraído no Mar do Norte, usado como referência global para a precificação do produto.
Ao mesmo tempo, ele acredita que as tensões entre EUA e Irã, com ameaças mútuas envolvendo bases americanas, reforçam as perspectivas de volatilidade nos preços de energia, metais e moedas.
“A guerra comercial reacendida entre EUA e China também afeta dramaticamente cadeias de suprimentos globais e adiciona incerteza ao mercado”, afirma o planejador financeiro.
Como as oscilações no dólar e no petróleo afetam o mercado brasileiro?
Para Sung, momentos de turbulência podem abrir boas oportunidades. “Nesses momentos de ruído macro é possível encontrar empresas mais descontadas e fazer mais aportes para melhorar a alocação”, afirma.
Ele explica que o mercado não é afetado da mesma maneira pelo efeito do dólar ou do petróleo, por exemplo. “Se o petróleo sobe, empresas do setor podem se beneficiar”, diz ele. Da mesma forma, o dólar mais alto pode favorecer as exportadoras, mas pressiona custos de importação e repasses para a inflação, o que pesa para o Banco Central.
Patzlaff entende que o impacto das oscilações do dólar e do petróleo na economia brasileira seja direto e imediato, e concorda que os impactos sejam diferentes de acordo com o setor. “A alta do dólar pressiona insumos importados, como fertilizantes, peças, maquinário, aumentando a inflação e reduzindo o lucro operacional”, explica.
Já o petróleo em alta pressiona preços de combustíveis, o que gera repasse ao consumidor final e impacta a Petrobras. “Por outro lado, exportadores de commodities podem ganhar com dólar forte e preços elevados dessas matérias-primas”, diz ele.
Que papel as empresas brasileiras de commodities desempenham diante da demanda global?
De acordo com Patzlaff, empresas nacionais de commodities ganham papel central nesse cenário. “A Petrobras (com sua receita dolarizada via exportações e hedge natural), mineradoras como a Vale e exportadoras agrícolas oferecem ganhos potenciais”, diz ele.
O especialista destaca que a Petrobras (PETR3; PETR4) lucrou R$ 36,6 bilhões em 2024, mesmo com queda nos preços de petróleo e produção. “Commodities energéticas seguem cada vez mais atraentes a investidores globais que veem o Brasil como fonte confiável de oferta”, completa.
Faz sentido realocar investimentos para a China? Quais são os riscos e benefícios?
Sung observa de fato um fluxo de saída dos Estados Unidos em busca de outros mercados, considerando a possível queda de juros no país e a redução daquele excepcionalismo da economia norte-americana. “O mercado brasileiro está se beneficiando do fluxo estrangeiro, assim como os mercados mexicano e chileno”, diz ele.
No entanto, para responder se esse movimento faz ou não sentido, é preciso entender qual é o perfil do investidor e quais são os seus objetivos. “Você aguenta a volatilidade e o risco embutido?”, questiona. “Porque não é tão simples você investir na Índia ou em outros países da América Latina”, alerta.
Patzlaff concorda que a ideia de deslocar investimentos para a China exige uma análise cuidadosa. “O mercado chinês oferece exposição a tecnologia, consumo doméstico e infraestrutura, áreas com potencial robusto”, diz ele.
“No entanto, está sujeito a riscos como rupturas regulatórias, desaceleração econômica, pressão de política monetária e a guerra comercial com os EUA, que elevam a volatilidade”, avalia.
Por isso, na sua opinião, pode ser razoável considerar uma realocação cautelosa, por meio de ETFs ou fundos geridos, limitando exposição. “Os benefícios são diversificação e acesso a crescimento complementar ao Brasil”, afirma. “Os riscos, porém, envolvem tensões bilaterais, regulação imprópria e risco cambial”, pondera.
Como o investidor brasileiro deve ajustar sua carteira?
O planejador financeiro Patzlaff acredita que seja interessante reequilibrar carteiras em renda variável. Vale priorizar setores que se beneficiam de dólar ou petróleo alto, com cash flows dolarizados e hedge natural, e reduzir exposição a empresas importadoras.
“Em renda fixa, vale a pena pensar em manter títulos atrelados à inflação e Selic, que oferecem proteção real contra pressões inflacionárias”, diz ele.
Na sua opinião, o dólar deve ter lugar estratégico como hedge contra riscos sistêmicos, mas a dica é evitar concentração excessiva. “Investir em ouro e fundos de ouro pode ser prudente como porto seguro em períodos de crise”, acredita.
Há sinal de desdolarização relevante?
Em geral, a opinião dos especialistas é que não existe uma desdolarização iminente. “Embora haja pressão de blocos como BRICS e China sobre novas moedas de liquidação, ainda não há mudança estrutural”, reforça Patzlaff.
Vale lembrar que a moeda norte-americana continua dominante nas transações globais e reservas internacionais, sem alternativa consolidada. “Portanto, para quem investe em dólar, não há atualmente sinal de substituição real, o que significa que o ativo permanece um seguro central em carteira”, afirma ele.
A diversificação via emergentes (Índia, Brasil, América Latina) é estratégia consolidada ou experimental?
Essa é uma boa pergunta, certo? E, para o Patzlaff, a resposta é clara. “A diversificação via emergentes já deixou de ser apenas experimental e tornou-se estratégia consolidada para proteger contra choques regionais e capturar crescimento global diversificado”, diz ele.
Na sua opinião, o Brasil, apesar dos riscos fiscais domésticos delicados, tem se mostrado resiliente em meio à valorização das commodities e fluxo de capitais. Índia, por sua vez, cresce aceleradamente, atraindo investimentos em tecnologia e infraestrutura. América Latina oferece opções variadas, embora com volatilidade política mais acentuada.
“Logo, é uma via recomendada, desde que com gestão ativa e seleção criteriosa de países e ativos”, afirma.
O contexto exige estratégias flexíveis, com foco em resiliência, hedge e diversificação global. “Carteiras robustas no Brasil aproveitarão commodities e renda fixa indexada, com posição tática em dólar e ouro para mitigar riscos externos”, conclui.