Kria, plataforma de investimento em startups, cresce 4 vezes em 2021 e espera mais

Recentemente, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) atingiu a marca de 4 milhões contas de pessoas físicas. O número de investidores subiu para 3,4 milhões. Entretanto, por mais que o mercado de capitais tenha caído nas graças do público, o acesso a startups ainda está engatinhando. Com sete anos de estrada, o Kria quer surfar esse crescimento.

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Da mesma forma que em cinco anos o número de investidores na Bolsa cresceu aproximadamente 500%, o acesso às empresas mais disruptivas do mercado também está em ascensão. O Kria cresceu 400% de 2021 para 2020 e prevê que a expansão desse mercado é um caminho sem volta.

Quando surgiu em 2014 — ainda enquanto Brota Brasil –, eram poucas as aceleradoras e os fundos institucionais que olhavam para o Brasil. “Identificamos que as startups podem gerar muito valor para quem investir no começo”, diz Camila Nasser, sócia-fundadora e CEO do Kria, em entrevista ao Suno Notícias.

Via de regra, a vida de uma startup passa por crescer de forma acelerada, acumulando valor e o sonho final é ser adquirida por um player em vários múltiplos, ou abrir capital.

O Kria funciona como uma plataforma de investimento em startups, onde empresas de até R$ 10 milhões de faturamento anual fazem captações, abrindo a base acionária para interessados.

“Quem entra só no IPO perde a construção desse valor”, afirma a executiva. Desde que iniciou as operações, o Kria já fez mais de 10 exits (encerramento do ciclo de uma startup, ao ser vendida após sua consolidação). 

Criação de valor antes mesmo da regulamentação

O Kria passou a atuar diretamente com equity crowdfunding quando essa categoria de investimentos não era nem conhecida por aqui.

“Antes mesmo de a CVM regularizar esse mercado, passamos a distribuir e acompanhar as ofertas públicas de startups. Desde então, já fizemos mais de 100 processos de ofertas.”

A “formalização” veio em 2017, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou a Instrução 588.

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A instrução normativa da autarquia regulamentou as ofertas públicas de valores mobiliários para empresas de pequeno porte.

Desde então, as ofertas que giravam em torno de R$ 100 mil a R$ 200 mil, atingiram o tíquete médio de R$ 2,5 milhões, segundo os números do Kria.

A plataforma, que não se entende como um marketplace de startups, mas sim um venture capital digital, conseguiu esquematizar seus negócios nesses últimos anos e é a empresa que mais registrou exits. A segunda maior, realizou quatro fechamentos de sucesso, menos da metade.

O desenvolvimento do mercado é resultado de métricas assertivas

Existem histórias bonitas, mas o cemitério de empresas também é povoado. Segundo Nasser, já foram algumas as empresas que vieram à falência e, consequentemente, levaram embora o capital dos investidores.

“Os investimentos feitos nessas empresas foram a zero, assim como elas. Essa é a característica do venture capital. Isso é comum, é o risco que se corre e pode acontecer.”

Entretanto, isso tende a acontecer cada vez menos com a curadoria cada vez mais afiada, tanto do Kria como do mercado como um todo.

A análise de uma startup passa por diversas etapas. No caso do Kria, quando a análise dá na etapa pré-operacional da startup, gira em torno de aspectos subjetivos. Um deles é o “intangível” do fundador: qual é a visão dele, o conhecimento, preparo e gana de fazer dar certo.

Mas só isso não é suficiente. Também importante é o product market fit, ou seja, o produto estar bem inserido no mercado, com capacidade de escalabilidade. 

“A segunda etapa é a tração do negócio”, comenta a CEO. “Nesse sentido, as métricas são receita, ou então se a empresa ainda não foca em receita, olhamos para a base de clientes, Custo de Aquisição de Clientes (CAC) e o valor do tempo de vida dos clientes (LTV, na sigla em inglês).”

Casos de sucesso do Kria

O Kria diz que essas etapas foram acertadas na maior parte dos casos, mas cita especialmente alguns. O primeiro deles é a Conta Quanto, um dos exits.

Trata-se de uma plataforma focada no open finance, que conecta o futuro das soluções financeiras aos bancos, empresas e usuários através de inteligência de dados.

“Foi um caso que abrimos a exceção e investimos na fase pré-operacional, isso porque o fundador é fantástico. Sabia tudo sobre open banking, antes mesmo dele ser discutido no Brasil”, comentou a executiva ao Suno Notícias.

Dois anos depois, o open banking passou a ser falado por aqui e a empresa recebeu um aporte da Kaszek, um dos principais fundos de venture capital do Brasil, do Itaú e investidores globais. Quem investiu na fase embrionária teve um alto retorno. Alguns investidores, inclusive, continuam na base acionária.

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Outro caso é Leuven (CBCA). A cervejaria artesanal tem planos de abrir capital na Bolsa dentro de três anos — possivelmente dentro do Brasil.

“É o caso mais emblemático de equity crowdfunding. Possui uma comunidade de mais de 1.000 investidores e, em pesquisa recente, 93% diz que já recomendou o investimento para alguém e aumentou o consumo das cervejas depois que passou a investir.”

O Kria também é uma startup. Afinal, como ganha dinheiro?

Embora as atividades do Kria ocorram na esteira da facilitação do acesso ao mercado de capitais, sobretudo de ativos alternativos, que saem do senso comum, a plataforma em si é uma startup. Aliás, um pouco diferente disso.

“Enxergamos o Kria como uma fund tech. É uma empresa que está querendo inovar em um setor que foi por muito tempo pouco inovador. Esse ainda é o problema do venture capital: pouca inovação.”

Segundo a executiva, a empresa veio ao mercado com o objetivo de inovar esse processo, redistribuindo o valor gerado por esses negócios. “Ainda em um escopo pequeno, é uma forma de reequilibrar o capitalismo e a geração de valor no acesso ao mercado de capitais.”

O Kria foi a primeira empresa do Brasil a realizar uma captação via equity crowdfunding. Hoje, são cerca de 300 investidores na base acionária, resultado de múltiplas rodadas de investimento.

Para sustentar as expectativas, o Kria formulou a forma de ganhar dinheiro. Hoje, há uma “taxa de sucesso” nos exits realizados. Caso o retorno ao fim do ciclo da startup supere cerca de 15% em rentabilidade anual, há a incidência da cobrança de 5% a 15% sobre o retorno líquido.

Além disso, há a cobrança de uma porcentagem de cobrança na captação dos recursos, no início da relação com as startups. Um projeto recente trouxe à tona a atuação do Kria como SaaS (software as a service), oferecendo sua plataforma tecnológica para novos players.

“Estamos criando um novo mercado de acesso, caminhando para os ativos alternativos. Esse escopo está crescendo e isso é essencial para que o mercado se desenvolva”, afirma a fundadora do Kria.

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Jader Lazarini

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