IRB (IRBR3): polêmicas, bônus e “short” marcam história recente

A companhia de resseguros IRB Brasil (IRBR3) passa por uma turbulência que, após contestações, uma política de bônus arrojada e polêmica, e uma aposta contra as ações, derreteu o valor de mercado da companhia na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo.

Se fosse uma luta de boxe, o mercado estaria aplicando mais um golpe na resseguradora, que chegou a tentar contra-atacar, mas parece que depois de sucessivos erros, chegou próxima a finalmente encerrar a luta.

Os rounds dessa disputa podem ser divididos em partes que, aos olhos dos investidores, trouxeram problemas à companhia e devem levar a atual gestão a enfrentar problemas futuros.

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A combinação que levou às ações do IRB a quase beijar a lona foi dura: uma indicação de venda das ações por uma gestora, problemas com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e renúncia de um executivo importante, além de o desmentido da empresa de Warren Buffett sobre investimentos na empresa.

Política de bônus da IRB é pano de fundo

O pano de fundo que dá o tom do que vem ocorrendo com a IRB, que tem como principais acionistas Bradesco Seguros (15,2%), Itaú Seguros (11,1%) e BlackRock (5,1%), é uma política de bônus milionária prometida aos gestores da companhia de resseguros.

Tal política prometia distribuir cerca de R$ 61,9 milhões a diretores caso o desempenho no período 2018-2021 fosse positivo à empresa pode ter acelerado a tomada de decisões -que acabaram se mostrando errôneas, segundo fontes ouvidas pelo SUNO Notícias.

A política de bônus por desempenho da empresa, de acordo com analistas, não é comum no Brasil e já trouxe polêmicas em outros tempos, dado o gatilho para problemas e manipulações contábeis que pode gerar.

“Isso é algo preocupante. Se os gestores fizeram tudo isso para tentar manter o bônus, pode trazer problemas até mesmo criminais aos envolvidos”, disse uma fonte em condição de anonimato. O bônus, aprovado em assembleia de acionistas, seria pago no dia 30 de junho de 2021.

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O  bônus estava atrelado ao desempenho do preço da ação, sendo pago 50% em dinheiro e 50% em ações da própria companhia a três executivos: presidente; vice-presidente executivo financeiro e de relação com investidores; e o vice-presidente executivo de riscos e compliance.

Segundo a IRB, “o valor de referência da ação será a média do preço de fechamento da ação nos pregões do mês de maio de 2018, ponderado pelo volume diário de negociação. Em 01 de junho 2021, será apurado o valor médio do mês de maio de 2021, utilizando o mesmo critério do valor de referência”.

Dessa forma, com a necessidade de manter o preço das ações em alta, a atual diretoria pode ter tomado decisões que levaram a empresa às condições negativas, como vemos a seguir.

“Short” da Squadra iniciou turbulência

O período de relativa tranquilidade da IRB começou a mudar quando a gestora Squadra Investimentos divulgou dois relatórios afirmando que havia montado uma posição vendida ou “short” da IRB. Nesse tipo de operação, a gestora espera as ações caírem para lucrar.

Com a posição já montada, a gestora divulgou dois relatórios, um no dia 2 e outro no dia 9 de fevereiro, apontando possíveis problemas contábeis na gestão da resseguradora.

A análise da gestora se baseia em uma disparidade encontrada pelos gestores da Squadra acerca do lucro recorrente e do contábil da IRB e que, apesar de não ter sido algo manipulado, seria resultado de ganhos “extraordinários” e “não recorrentes”.

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A gestora indicava que a resseguradora apresenta, principalmente no último trimestre, uma rentabilidade mais elevada do que real. Por consequência, muito maior do que os pares do setor.

O mercado se dividiu em relação a divulgação. Enquanto parte entendeu a montagem de posição e pós divulgação de relatório normal, algo comum no exterior, outra parte entendeu como uma maneira de tentar manipular o mercado.

De qualquer forma, o início do primeiro round foi negativo para a IRB, que viu o preço das suas ações despencarem cerca de 30% em poucos dias.

Contra-ataque da IRB e turbulência da CVM

A IRB não se deixou encurralar, contudo. No ringue, partiu para cima do oponente Squadra. Logo após a divulgação do relatório da gestora, a IRB protocolou na CVM, que regula o mercado, uma reclamação contra a Squadra.

No ato, a IRB acusou a Squadra de ter manipulado os preços com informações privilegiadas. Para a resseguradora, a Squadra não poderia publicar análises de investimentos, pois seria uma gestora recursos e não uma casa de análise.

Em outra ponta, a IRB realizou conversas privadas com investidores -como forma de acalmar ânimos no mercado e segurar o preço dos papéis na B3.

A CVM, por sua vez, passou a pedir explicações à empresa dos motivos de as informações não terem sido divulgadas a todo mercado.

Saiba mais: CVM abre processo administrativo contra a IRB Brasil (IRBR3)

Em um golpe que pareceu em si mesmo, a IRB também teve de ouvir um pedido da CVM sobre maiores explicações da saída do presidente do conselho de administração, Ivan Monteiro.

Polêmica e posição de Buffet

Enquanto a luta entre IRB e Squadra parecia estar no intervalo, um fato novo surgiu no horizonte. O jornal O Estado de S. Paulo publicou que a Berkhsire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, teria triplicado sua posição na IRB.

Saiba mais: Berkshire Hathaway desmente compra de ações da IRB Brasil (IRBR3)

A informação foi confirmada por diretores da IRB em reunião com analistas do mercado financeiro.

O suposto approach de um dos investidores mais conhecidos do mundo agradou o mercado. As ações da IRB subiram cerca de 7% no dia e a empresa voltou a ganhar valor de mercado.

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O que parecia uma ganhada de fôlego excepcional durante a luta, contudo, se mostrou mais um golpe potente na IRB. Na terça-feira (3), a Berkhsire Hathaway divulgou uma nota negando que fosse acionista da empresa.

Além disso, a gestora também afirmou que “a Berkshire Hathaway não é atualmente um acionista da IRB, nunca foi acionista da IRB e não tem intenção de se tornar acionista da IRB”, disse, em nota, a gestora.

O jornal, por sua vez, divulgou que o anúncio de investimentos por parte da Berkshire, que se mostrou falso, foi realizado por um executivo da empresa e confirmado por outros diretores.

A notícia parece ter dado o último tom desse embate. Nessa quarta-feira (4), os papéis da IRB chegou a cair cerca de 30% e, segundo fontes do mercado ouvidos pelo SUNO Notícias, a CVM deve abrir mais um processo para investigar a conduta da empresa. No aguardo dos próximos rounds.

Vinicius Pereira

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