IPCA-15 abaixo do esperado já é motivo de alívio? Veja o que dizem especialistas
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O IPCA-15 de setembro, divulgado nesta manhã pelo IBGE, mostrou avanço de 0,48% e veio abaixo das projeções do mercado. A surpresa positiva, no entanto, não foi suficiente para mudar um quadro de inflação ainda acima do teto da meta de 4,5% para 2025. Em 12 meses, o índice acumula alta de 5,32%, ante 4,95% em agosto.

A prévia da inflação oficial trouxe uma leitura mista. De um lado, a devolução do bônus de Itaipu provocou salto de 12,2% na energia elétrica e pressionou o resultado. De outro, houve alívio em combustíveis e alimentos, que recuaram em setembro. A composição, de acordo com especialistas, é mais relevante do que o número cheio e ajuda a entender por que o dado divide opiniões no mercado.
Outro fator que também chamou atenção do mercado nesta quinta foi o Relatório de Política Monetária do Banco Central. A instituição elevou de 68% para 71% a probabilidade de a inflação de 2025 superar o teto da meta.
Detalhes do IPCA-15 de setembro
A prévia da inflação divulgada hoje trouxe alguns destaques importantes. O segmento de Transportes recuou 0,25%, com queda de 0,13% na gasolina e alta de 0,15% no etanol. Já Alimentação e bebidas cederam 0,35%, puxadas pela deflação de 0,63% na alimentação no domicílio.
Esse alívio, porém, foi contrabalançado pela disparada da energia elétrica. Para Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, a aceleração já era prevista, mas a surpresa positiva veio dos alimentos. “Olhando a abertura do indicador, tivemos quedas nos preços de alimentos, que recuaram 0,63%. Os demais componentes do IPCA-15 vieram em linha com o esperado”, avaliou.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destacou a melhora qualitativa do índice. “Com serviços desacelerando, alimentos caindo, núcleos desacelerando e difusão desacelerando, esse é um raio X bem melhor do índice”, afirmou.
Ele lembrou ainda que a difusão, que mede o percentual de itens em alta, passou de 57% em agosto para 53% em setembro, reforçando a leitura de um quadro menos disseminado de reajustes.
Apesar do alívio, inflação segue acima da meta
Os números, no entanto, não foram suficientes para afastar preocupações de médio prazo. O Goldman Sachs apontou que as pressões inflacionárias permanecem generalizadas, em especial nos serviços, cujo ritmo anual ainda supera 6%.
“Um cenário de dinâmica inflacionária desafiadora, com expectativas não ancoradas e mercado de trabalho aquecido, exige uma calibração conservadora da política monetária no curto prazo”, avaliou o banco.
O economista-chefe do Bmg reforçou que a atenção deve seguir voltada para os serviços. Segundo ele, a falta de acomodação nesse componente tende a adiar cortes de juros, com possibilidade apenas a partir de janeiro de 2026.
Na mesma linha, Volnei Eyng, CEO da Multiplike, afirmou que o movimento recente foi pontual: “o alívio nos preços foi influenciado pelo bônus de Itaipu nas contas de luz. O recado é de cautela: a trajetória de juros continua dependendo do comportamento da inflação”.
Após a divulgação do IPCA-15 nesta quinta, a leitura oficial da inflação de setembro (IPCA) será divulgada no dia 10 de outubro.