Preocupação com inflação cresce, mas mercado acredita em “ciclo temporário”

Um levantamento recente do UBS constatou que a maioria dos bancos centrais coloca a inflação como a maior preocupação atual, acima da pandemia e do fracasso das nações com relação às dívidas. O tema é o grande tópico de macroeconomia que exerce influência nos mercados, uma vez que os níveis dos índices devem moldar o comportamento das autoridades monetárias.

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Nas últimas semanas, os mercados criaram expectativas sobre o futuro com novas atualizações sobre o tema da escalada dos preços, com holofotes quase sempre centrados nas decisões do Federal Reserve (Fed) sobre a inflação – que têm sido majoritariamente conservadoras, sustentando a tese de um ciclo temporário.

No cenário nacional, o mercado já aguarda uma Selic em escalada após a taxa de juros alcançar mínimas históricas. Apesar de ainda ficar longe dos dois dígitos já vistos, a estimativa é de que a taxa de juros fique em 6,5% até o fim do ano, segundo previsão do Itaú (ITUB4).

O Bank of America (BofA) projeta a Selic em 7%.

Projeções acima da meta apenas em 2021

A projeção do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, segundo o último boletim Focus, do Banco Central, subiu de 6,07% para 6,11% em 2021, na 14ª semana consecutiva.

Para 2022, projeta-se uma taxa de inflação de 3,75%. As previsões para 2023 e 2024 estão em 3,25% e 3,16%, respectivamente.

A estimativa para o do BC para 2021 está acima da meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 3,75% para este ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior, de 5,25%.

A última alta do do IPCA veio em 0,53% referente ao mês de junho, representando um anualizado de 8,35%.

Inflação acima do esperado nos EUA

O indicador de inflação, contudo, veio bem acima do esperado nos Estados Unidos, com alta de 0,9% no mensal ante uma projeção de somente 0,5% – dado que deixou o anualizado em 5,4%, ocasionando perdas nos mercados e criando grandes expectativas sobre em relação às próximas decisões do Fed.

Ainda na tese de um ciclo temporário, o presidente da instituição, Jerome Powell, disse que o índice deve permanecer ainda em níveis altos pelos próximos meses, ao passo que o Fed deve subir os juros em 2022.

“A inflação aumentou notavelmente e deve permanecer elevada nos próximos meses antes de ficar moderada”, ressaltou Powell, em seu último discurso público.

A grande discussão se dá em função do tom mais hawkish das autoridades monetárias – termo utilizado para descrever uma postura, por parte de bancos centrais, de maior austeridade, com demanda controlada, taxas de juros mais altas e, consequentemente, uma inflação menor. Isso também pode custar alguns pontos percentuais do crescimento econômico).

Ajustes nos comunicados do Fed

“No curto prazo ainda vemos uma manutenção da pressão inflacionária recente e uma atividade ainda normalizando seu ritmo”, analisou o time de economistas do BTG Pactual, formado por Álvaro Frasson, Arthur Mota, Leonardo Paiva e Luiza Paparounis, na última quarta (14), após a divulgação do Livro Bege, relatório do Fed que contribui para embasar as decisões monetárias da instituição.

“Esse cenário deve promover ajustes nos comunicados do Fed nos próximos meses. O objetivo é preparar o mercado para mudanças de política monetária (programa de compra de ativos) no próximo ano”, observa a equipe do BTG.

Sem grandes mudanças no horizonte

Apesar do ciclo e das incertezas, especialistas não temem grandes mudanças no horizonte. “Não vejo chance de a inflação virar algo explosivo em outros países, mas ainda temos preocupação com os efeitos da pandemia”, diz Luiz Fernando Carvalho, estrategista-chefe da Ativa Investimentos.

“Começamos a ver na Espanha, Itália e em outros países da Europa, altas pontuais de preços. É difícil prever o quão grave isso deve se tornar, mas certamente teremos contaminação desses números na economia e na política monetária dos países”, complementa.

“Ainda vejo um segundo semestre sem a retirada de incentivos, principalmente na Europa. No Brasil a volatilidade deve vir com a eleição presidencial de 2022.”

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BC lidou com incertezas

Uma das críticas feitas por alguns gestores do mercado era de que o Banco Central no Brasil teria tardado na elevação de juros. No entanto, especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias ressaltaram o cenário de pandemia e de incertezas, que deixavam os gestores de política monetária pisando em ovos.

“O BC reduziu muito a taxa de juros. Se fosse para fazer alguma crítica, e a atuação do BC é difícil e reativa, é perguntar por que se reduziu tanto a Selic, já que a pandemia de Covid era um fator temporário. Agora o BC corre atrás de uma redução que foi muito intensa lá atrás”, analisa João Beck, economista, especialista em investimentos e sócio do BRA, escritório credenciado a XP.

“Sobre essa alta subsequente, de início o BC veio mais comedido, mas não o criticaria nesse sentido, porque tem reagido de forma contundente”, argumenta Beck.

“Começou com uma alta comedida e, quando viu a inflação dispersando outros produtos, saindo do núcleo, aí sim reagiu. No último comunicado, já era um documento mais rígido e ortodoxo”, afirma o economista.

Renda fixa volta ao radar, mas ações mantêm atratividade

Uma das principais consequências da reação dos bancos centrais elevando os juros é o aumento da atratividade de produtos de renda fixa.

Contudo, o mercado de ações deve manter a atratividade, segundo Carvalho, da Ativa, porque ajuda a proteger o investidor da inflação.

“Se você tem empresas saudáveis que repassam preços, a inflação praticamente não atinge o investidor de bolsa. O cenário de inflação, assim, não deve impactar diretamente o Ibovespa“, explica o estrategista-chefe da Ativa.

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Eduardo Vargas

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