Ibovespa azeda com cenário político e atividade local fraca; Vale (VALE3) sobe mais de 2%

Após abrir entre ganhos e perdas, procurando dar continuidade à alta na véspera, o Ibovespa perdeu o fôlego e opera em queda na tarde desta terça-feira (3). As preocupações que afligem os investidores vêm de Brasília, de dados fracos da economia local e ruídos do exterior.

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Antes mesmo de Nova York abrir em alta, o índice Ibovespa já cedia, diante de preocupações com movimentações políticas e risco fiscal. Lá fora, há temores de investidores com o teto da dívida dos Estados Unidos, cuja suspensão expirou, e ainda em relação à possibilidade de alta dos juros americanos já em 2022.

Além disso, novas medidas restritivas da China geram incertezas, especialmente para países emergentes. Com isso, as Bolsas estadunidenses migraram para o negativo.

No Brasil, tensões políticas foram renovadas, após a instauração de inquérito administrativo pelo TSE e o envio de notícia-crime ao STF contra o presidente Jair Bolsonaro pelas declarações infundadas de fraude no sistema eleitoral e ameaça à realização das eleições.

Futuro dos precatórios pesa sobre o Ibovespa

Dúvidas fiscais no Brasil também incomodam os investidores, diante da expectativa de que o governo envie ao Congresso ainda nesta semana a MP que reestrutura o Bolsa Família, com o valor podendo subir a R$ 400. As incertezas ainda em relação aos precatórios continuam.

Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, mesmo com provisão conservadora, “estimamos que precatórios chegariam a R$ 57 bilhões”. Porém, disse que não será necessário mexer no teto de gastos.

Em meio ao impasse Guedes, disse que a equipe econômica está discutindo com Congresso e a Justiça um indicador de correção dos precatórios.

Guedes disse que o Estado brasileiro não tem capacidade para o pagamento dos precatórios, valores devidos a empresas e pessoas físicas após sentença definitiva na Justiça, programados para 2022.

Mas, segundo ele, propor o parcelamento de parte dessas dívidas em até dez anos não é um calote. “Devo, não nego; pagarei assim que puder”, afirmou.

De acordo com o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, investidores temem o afrouxamento de regras fiscais para acomodar maiores gastos no ano de eleições. “No front político, decisão do TSE de abrir investigação contra o presidente Bolsonaro alimenta o quadro de permanente cautela”, afirma em nota o economista.

“O temor de rompimento do teto de gastos, essa questão institucional, com o Bolsonaro falando que se não tiver voto impresso, a eleição de 2022 será uma fraude, o risco político, tudo incomoda, afasta o investidor, principalmente o estrangeiro, que tende a não se sentir atraído nem mesmo com a expectativa de alta da Selic em um ponto amanhã pelo Copom”, avalia Fabio Fernandes, sócio-fundador da Delta Flow Investimentos, escritório plugado ao BTG Pactual.

Produção industrial permanece estável em junho

A produção industrial, calculada pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM), apresentou variação nula (0,00%) em junho em comparação a maio, depois de reportar uma alta de 1,4% no mês imediatamente anterior.

Na série sem ajuste sazonal e em relação ao mesmo mês de 2020, a atividade industrial continuou registrando avanço de 12%, em boa parte ainda refletindo efeitos-base favoráveis produzidos pela queda do índice após o choque da primeira onda de infecções.

Na opinião da Guide Investimentos, a produção industrial de junho decepcionou frente às expectativas. “Assim como em outros momentos, a capacidade produtiva da indústria continua sendo restringida por gargalos de oferta. Isto é, a escassez global de insumos, assim como o próprio encarecimento de matérias primas e materiais básicos.”

Contudo, mesmo que o resultado geral da indústria tenha sido zerado, “impressiona a continuidade da expansão na produção de bens de capital”, comenta Alejandro Ortiz Cruceno, economista da corretora.

“A consistente e forte expansão da categoria emite dois sinais distintos, mas sem dúvida positivos.”

Forte alta da Vale não impede queda do índice

Nem mesmo a alta superior a 2% nas ações da Vale (VALE3), em reação à elevação do minério de ferro no mercado futuro chinês, impede o Ibovespa de cair.

Já o declínio superior a 1% do petróleo no exterior pesa sobre os papéis da Petrobras (PETR4), que cedem mais de 1%. A Americanas (AMER3) lidera as baixas, com queda de mais de 4%.

Além disso, as palavras ditas hoje pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, não aliviam. Ele disse esperar votar a reforma administrativa na Casa até o fim de agosto. “Com a aproximação do calendário eleitoral, temos obrigação de entregar matérias estruturantes até novembro.”

Aversão ao risco aumenta entre os investidores locais, com cenário político e econômico cada dia mais complicado”, cita Regis Chinchila, da Terra Investimentos. Segundo ele, o TSE e STF subindo o “tom” contra movimentos políticos do presidente Jair Bolsonaro também pesam.

Depois de subir forte, Itaú (ITUB4) passou a ceder, levando junto ações do setor na Bolsa. O banco informou aumento em seu lucro de 55,6% no segundo trimestre para R$ 6,54 Bilhões.

O dado veio dentro do esperado. Apesar de demonstrar otimismo maior com 2021 em meio à reabertura da economia e a vacinação, o Itaú preferiu manter as projeções já divulgadas ao mercado, reforçando que, apesar da consolidação do movimento de recuperação, o ambiente e a concorrência são desafios importantes.

Essa ponderação é vista com cautela por investidores, ainda que a expectativa de seja de alta de 69% no lucro do Bradesco (BBDC4), cujo resultado sai após o fechamento da B3, que terá ainda o balanço da XP.

Às 12h23 desta terça, o Ibovespa cedia 0,40%, aos 122.028 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a cair quase 1,5%.

(Com informações do Estadão Conteúdo)

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Jader Lazarini

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