Ibovespa cai 0,75%, com meta fiscal e juros dos EUA no radar; Petrobras (PETR4) sobe, Vale (VALE3) cai e CVC (CVCB3) lidera perdas

O Ibovespa fechou a sessão desta terça-feira (16) em queda de 0,75%, aos 124.388,62 pontos, entre a mínima de 123.756,08 e a máxima de 125.315,63 pontos. O volume financeiro do dia foi de R$ 26,3 bilhões. 

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/Lead-Magnet-1420x240-2.png

Em meio ao prosseguimento da pressão sobre o câmbio, que colocou o dólar a R$ 5,2875 na máxima desta terça-feira, o Ibovespa estendeu a série negativa pela quinta sessão, a mais longa para o índice desde outubro, quando também encadeou cinco perdas entre os dias 17 e 23.

Na semana, cede 1,24% e, no mês, 2,90%, colocando as perdas do ano a 7,30%. No fechamento, o Ibovespa foi ao menor nível de encerramento desde 14 de novembro (123.165,76).

Fiscal preocupa investidores

Para além da conjuntura externa desfavorável ao apetite por risco, no Brasil, “o governo tem postergado o déficit zero, sempre falando em aumento de gastos sem contrapartida em receita, o que traz insegurança aos investidores”, diz Raony Rossetti, CEO da Melver. “Somado a isso, o corte de juros nos Estados Unidos, que não começa. Esperavam-se quatro cortes neste ano, depois mudou para três, e muitos profissionais estão esperando agora só um corte, em novembro”, acrescenta.

A probabilidade de o Fed reduzir os juros em apenas 25 pontos-base em 2024 subiu hoje, em meio às falas do presidente da instituição, Jerome Powell, nesta tarde, firmando-se como a mais provável, reporta Maria Ligia Barros, do Broadcast. A chance avançou a 35,6% depois de o dirigente ter iniciado discurso, comparada a 33,9% instantes antes, de acordo com o monitoramento do CME Group. Antes do discurso, esse cenário era quase tão provável quanto a hipótese de cortes de 50 pontos-base, cuja chance caiu de 33,7% para 32,9%.

Powell afirmou hoje que os dados recentes sobre a inflação nos Estados Unidos indicam que vai levar mais tempo até que se tenha a confiança necessária para cortar juros. Em evento no Fórum de Washington sobre a Economia Canadense, Powell ressaltou o “significativo” arrefecimento dos preços no segundo semestre de 2023, mas admitiu que os dados do começo de 2024 apontaram “falta de progressos” adicionais no objetivo de fazer com que a inflação retorne à meta de 2% ao ano.

Em Washington para os encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que uma reprecificação de ativos está em curso no mundo, e que é preciso atenção à inflação nos Estados Unidos e à escalada das tensões no Oriente Médio. “Cenário externo explica dois terços do que está acontecendo no Brasil”, disse o ministro, mencionando em especial a incerteza sobre o Oriente Médio. “Ninguém sabe como o conflito na região vai se desdobrar”, observou Haddad.

Ele admitiu, contudo, ser preciso “explicar melhor o que vai acontecer com as contas públicas no Brasil”. O país, segundo disse Haddad, “está gastando mais do que arrecada há 10 anos” e, “ao gastar mais do que arrecada, o Brasil não consegue crescer”. “Déficit primário vai cair a nível que não é o que nós gostaríamos”, acrescentou o ministro da Fazenda.

Nesse contexto de dúvidas sobre a trajetória do endividamento público no Brasil, em meio a um cenário externo desafiador – com dois conflitos militares em andamento no mundo, na Europa e no Oriente Médio, quando a atenção segue concentrada na inflação e no nível global dos juros -, o apetite por ações se manteve deprimido nesta terça na B3, com Ibovespa no negativo desde a abertura.

“A curva de juros doméstica continuou bem estressada na sessão, com mais pedido de prêmio pelo mercado e vários trechos fazendo máximas, em meio aos temores geopolíticos. Apesar do desempenho do petróleo na sessão quase estável no fechamento, ainda há receio de repique inflacionário a partir dos preços da commodity”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Hoje, o mercado continuou repercutindo a escalada das tensões no Oriente Médio devido ao ataque do Irã contra Israel no fim de semana. 

Além disso, as vendas no varejo nos Estados Unidos superaram as expectativas, o que impulsionou os treasury yields. O Brasil também esteve no foco devido ao afrouxamento da meta fiscal.

Petrobras impede queda maior do Ibovespa

As perdas na carteira teórica do Ibovespa não foram piores porque Petrobras (PETR4) fechou sessão em alta, com as ações preferenciais em alta de 0,46%, cotadas a R$ 39,49. As ações ordinárias da Petrobras (PETR3) tiveram alta de 0,49%, a R$ 41,09

Os contratos do petróleo Brent, com vencimento em junho, encerraram o dia com recuo de 0,02%, a US$ 90,02 o barril na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres.

A Vale (VALE3) amargou uma queda de 0,89%, cotada a R$ 61,64. 

Os grandes bancos fecharam em queda: Banco do Brasil (BBAS3, 1,13%), Bradesco (BBDC4, 1,05%), Itaú (ITUB4, -0,75%) e Santander (SANB11, -0,85%), na mínima do dia no fechamento.

A maior alta do Ibov foi da Eztec (EZTC3), +3,68% a R$ 14,37. PETZ (PETZ3)(PCAR3), +2,80% a R$ 3,67  e MRV (MRVE3), +2,64% a R$ 6,61, completam o top 3. Weg (WEGE3) também subiu: 3%.

Na ponta negativa do índice Bovespa, CVC (CVCB3) lidera as perdas com -5,56% a R$ 2,00, seguida por Alpargatas (ALPA4), -4,70% a R$ 8,51 e Cogna (COGN3),-4,21% a R$2,05%.

Em dia de queda do Ibovespa, Bolsas de NY fecham mistas

As Bolsas de Valores dos Estados Unidos refletiram ainda a cautela com relação aos acontecimentos do fim de semana em Israel, em situação movediça no Oriente Médio que traz receio quanto a efeitos inflacionários sobre os custos de energia, no momento em que o mercado já havia atrasado, a princípio de junho ou julho para setembro, a expectativa quanto ao início dos cortes de juros nos EUA pelo Federal Reserve, o BC americano.

  • S&P 500: -0,21%, aos 5.051,41 pontos;
  • Dow Jones: +0,17%, aos 37.798,97 pontos;
  • Nasdaq: -0,12%, aos 15.865,25 pontos.

As bolsas asiáticas fecharam em baixa significativa nesta terça-feira (16), em meio às persistentes tensões no Oriente Médio e após divulgação de dados econômicos mistos da China.

Na Oceania, a bolsa de Sydney acompanhou o mau humor generalizado. O índice australiano S&P/ASX 200 amargou queda de 1,81%, a 7.612,50 pontos, atingindo o menor patamar em quase dois meses.

As bolsas da Europa fecharam em queda nesta terça-feira, com os principais índices acionários do continente encerrando o dia no vermelho. As quedas foram expressivas, refletindo os temores de uma escalada das tensões no Oriente Médio após os ataques do Irã a Israel no fim de semana. Os investidores estão preocupados com uma possível resposta de Israel e as consequências disso. 

O índice Stoxx 600 caiu 1,58%, para 497,92 pontos, com as perdas lideradas pelos setores de mineração, que acumularam queda de 3,1%, e pelo setor bancário, que caiu 2,6%. O Dax de Frankfurt caiu 1,44% para 17.766,23 pontos, o CAC 40 de Paris caiu 1,40% para 7.932,61 pontos, e o FTSE de Londres caiu 1,82% para 7.820,36 pontos.

Hoje, o dólar à vista fechou em alta de 1,61%, a R$ 5,2688, após oscilar entre R$ 5,1985 e R$ 5,2875

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

Maiores altas e quedas do Ibovespa hoje

O que movimentou o Ibovespa hoje?

Para Pedro Marinho Coutinho, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, hoje foi um dia de aversão a risco, com o mercado refletindo o receio de que o Fed não derrube os juros em breve. 

“A economia americana continua muito forte e, agora, temos a questão geopolítica, esse conflito Irã-Israel que estourou e não sabemos o tamanho disso, se isso vai continuar, se não vai”, afirma Coutinho. 

O analista explica que o mercado já especula a manutenção e tem um grande receio de que o Fed tenha que aumentar juros ao longo do tempo para que essa inflação tenha convergência para os 2%. 

Por outro lado, o Banco Central Europeu deve cortar juros em junho. “Temos outros bancos centrais iniciando o ciclo de corte. Aqui a gente tem o nosso Copom agora com o mercado especulando se o ciclo vai continuar ou não com a mesma força que estava”, diz Coutinho.

No dia de hoje, por conta de toda essa questão fiscal, os ativos cíclicos estão performando mal, em sua grande maioria, como Assaí, Alpargatas e Hapvida.

A Eztec, que veio com dados operacionais sólidos, subiu na casa dos 4%. “A MRV também trouxe os dados operacionais, que o mercado acabou não achando tão bons, com medo da queima de caixa, mas como a empresa está muito barata no mercado hoje, o papel acabou subindo e virou para o lado positivo”, explica Coutinho.

Além disso, Coutinho vê a curva de juros passando por um estresse em função dos próximos movimentos do Copom. O mercado está especulando sobre as próximas ações do Copom, a mudança de meta, questões fiscais e outras incertezas, o que tem gerado bastante movimento. Além disso, há um estresse na curva de juros americana devido a essas instabilidades, afetando o cenário global. Agora, o mercado aguarda as próximas declarações e decisões de Powell, do Fed, além dos próximos dados econômicos e desdobramentos da guerra.

Em outro desdobramento do dia, desfavorável para a Bolsa brasileira, “na China um conjunto de novos dados indicou que a recuperação do país permaneceu irregular”, destaca a Guide Investimentos, em nota. “O PIB do primeiro trimestre e os investimentos fixos superaram as previsões, porém, as vendas do varejo e a produção industrial ficaram aquém do consenso. A agência de estatísticas do país alertou que as bases para uma economia estável ainda são frágeis, face aos crescentes ventos contrários do exterior. E o setor imobiliário caiu mais de 1,5%, com os preços de novas residências na China em sua maior queda em quase nove anos no último mês

Último fechamento do Ibovespa

O Ibovespa fechou a sessão de segunda-feira (15) em queda de 0,49%, aos 125.333,89 pontos. 

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/04/1420x240-Planilha-vida-financeira-true.png

Vinícius Alves

Compartilhe sua opinião