Guide se joga no ‘oceano’ dos agentes autônomos e busca peixes fora do radar BTG-XP

O mercado de agentes autônomos no Brasil está a pleno vapor, e a Guide não pretende ficar parada nessa corrida. A plataforma de investimentos controlada pelo grupo chinês Fosun ambiciona expandir o portfólio de assessores de investimentos, mas sem entrar na terra de ninguém.

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Dados da Ancord, citados em relatório da consultoria AAWZ, apontam para um crescimento do número de assessores de aproximadamente 300% nos últimos cinco anos. A ampliação foi tracionada pela queda da taxa básica de juros (Selic), mudança cultural e crescimento da classe média. A aposta da Guide é que a mudança veio para ficar.

A empresa espera abocanhar uma parte do lucrativo mercado, mas desviando da guerra entre BTG Pactual (BPAC11), XP e companhia. A estratégia da Guide é elevar os incentivos ao pessoal de casa e para a prospecção de potenciais assessores, quem não é, mas pensa em ser.

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Mesmo assim, Alexandre Cassiani, Head do B2B, da corretora, pontuou que, se a oportunidade fizer, “vamos colocar proposta e vamos para cima”.

A empresa desfruta hoje de uma carteira com cerca de 400 agentes autônomos. Até dezembro deste ano, o plano é elevar esse número em 50%.

Veja a entrevista de Alexandre Cassiani, Head do B2B da Guide, ao SUNO Notícias.

 

Guide se joga no 'oceano' dos agentes autônomos e busca peixes fora do radar BTG-XP
Alexandre Cassiani, Head do B2B na Guide Investimentos. Foto: Divulgação

O mercado de agentes autônomos está super aquecido. Que panorama é possível fazer hoje?

Durante muito tempo a figura do agente autônomo foi esquecida, e pelas próprias corretoras. Hoje, ela vive o seu auge. Ela encontrou o modelo de negócio. Atualmente, há uma carência a qual casa com o cenário macro econômico.

O País tinha antes taxas de juros na casa de 20% e ninguém precisava tomar muito risco para ter um retorno satisfatório. Hoje, a taxa Selic a 3,5% fez pessoas se movimentarem, uma tendência que começou antes na verdade, já no início do ciclo de quedas.

Isso casa com o conceito das plataformas, de oferecer uma prateleira mais ampla de produtos. O brasileiro tem, em geral, pouca educação financeira, então a figura de um assessor casa perfeitamente.

Temos um cenário de juros baixos, uma oferta de produtos ampla, mas as pessoas não sabem como consumir, investir corretamente. O assessor acaba sendo fundamental para isso.

Consequentemente, se trouxe o aquecimento do mercado, principalmente depois da chegada de novas plataformas, o que fez com que houvesse uma concorrência e um olhar mais forte para esse tipo de profissional.

A CVM soltou em 202o um estudo no qual a autarquia argumentou em favor do fim do vínculo obrigatório de um AAI a uma única instituição. Qual a sua visão sobre o assunto?

Vivemos hoje em um mercado no qual se ganha pela prestação de serviço. A questão da exclusividade veio por uma questão de acompanhamento para as corretoras e para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em relação às operações. É mais fácil gerenciar quando há um agente autônomo a distribuir valor mobiliário por uma única instituição.

Isso foi lá atrás. Hoje, o mercado se moveu. As tecnologias, sejam da B3 (B3SA3), sejam das corretoras, permitem o fim dessa restrição. Pelo cenário atual, não faz sentido haver uma exclusividade regulatória sobre a distribuição de valor mobiliário.

Isso não quer dizer que não terão agentes autônomos e corretoras que vão continuar a trabalhar com exclusividade, mas contratual, negociada entre as partes. Nem todos desfrutarão de estrutura e perfil para se plugar a mais de uma instituição, tampouco desejar possuir mais de uma plataforma para depois ter de gerenciar clientes e consolidar o portfólio. Nem todos terão essas características.

Ao mesmo tempo, outros enxergam isso como uma oportunidade para, por exemplo, atender clientes que eventualmente já estejam ligados a uma casa.

É positivo para o mercado. Faz naturalmente com que todos os players tenham de se desenvolver e melhorar a prestação de serviço.

Quais são os planos da Guide para o segmento de agentes autônomos?

É um segmento importante para a corretora. Tem uma relevância grande.

Entendemos que é um mercado o qual possui grande oportunidade para crescer, e não só quanto ao popular “rouba monte” — tirar um assessor de outra instituição —, mas ao aumento no número de profissionais. São pessoas as quais eventualmente deixam o banco ou posições que não estão diretamente ligadas ao mercado de capitais para se tornarem agentes autônomos.

Se compararmos o Brasil a outros países, como os Estados Unidos, o mercado de AAIs ainda é muito insignificante em tamanho. Há uma diferença muito grande.

Também entendemos que há uma capilaridade grande. O modelo traz liberdade para conseguirmos expandir ao Brasil inteiro. De Norte a Sul, onde entendermos que faz sentido, vamos buscar profissionais.

Continuamos a trabalhar na expansão. Para este ano, temos o objetivo de registrar um forte crescimento no número de assessores. Hoje, temos na casa de 400 agentes autônomos vinculados a nós pretendemos mostrar um aumento de 50% dessa base ao final do ano.

Como a Guide pretende atrair esses profissionais?

Gosto de separá-lo em três nichos. O primeiro é dos parceiros já vinculados à Guide, os quais temos incentivado fortemente para realizar a expansão. Estimulamo-nos financeiramente para prospecção e atração de profissionais, treinamos os escritórios desde essa etapa de prospecção até o gerenciamento de pessoas e fomentamos o desenvolvimento através da universidade.

O segundo modo de atuação é no qual nós fazemos a sondagem de profissionais, via LinkedIn, marketing, parceiros. Esse braço contempla aqueles que desejam mudar de chave e se tornar agentes autônomos. Entendemos, portanto, o momento da pessoa para saber se ela tem o necessário para empreender e ser dona do próprio negócio ou se vamos indicá-la para um de nossos escritórios.

O terceiro movimento é o do “rouba monte”, isto é, a prospecção de agentes autônomos insatisfeitos com o parceiro atual e estão dispostos a abrir uma negociação para mudar.

Um diferencial, independente do nicho, é o apoio aos escritórios para o desenvolvimento naquilo em que têm como objetivo. Não determinamos o modelo de negócio. Eles se tornaram agentes autônomos exatamente para ter essa liberdade. O que fazemos é entender o modelo de negócio de cada um e o suportamos dentro dele.

A Guide pretende “nadar com os tubarões”, ir brigar com XP e BTG, ou buscar escritórios de menor porte?

Sempre fizemos aquisições de escritórios. Vários dos que temos hoje vieram de outras instituições. Isso não parou. Vamos continuar. Somos criteriosos na utilização dos recursos e dos incentivos.

Naturalmente, onde temos visto uma oportunidade são os escritórios que têm tamanho, uma geração de receita, mas estão fora do radar dessa disputa de preço, principalmente entre BTG e XP. São escritórios com de cerca de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões, os quais muitas vezes ficam de fora dessa agressividade de prospecção. Esse é um nicho para o qual temos olhado de perto.

E se encontrarmos uma oportunidade para um escritório de R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões, que faça sentido, vamos colocar proposta e vamos para cima.

O que é possível esperar para o mercado de agentes autônomos no curto prazo?

Esse é um mercado que está mudando muito e vem se desenvolvendo muito rapidamente.

Esse profissional está limitado a distribuição de fundos, de renda fixa e Bolsa. Uma oportunidade grande é a de ampliação do leque de atuação, com eventualmente outras classes de serviços e produtos. Distribuir, na figura do agente autônomo, ativos de seguro, previdência, câmbio, etc. Esse é um movimento que pode acontecer.

Continuamos em uma tendência de ampliação porque os bancos têm reduzido a quantidade de agências e as pessoas têm exigido um atendimento cada vez mais um atendimento melhor quanto a investimentos. O agente autônomo, quem é focado 100% em investimento, traz um diferencial em relação a um outro profissional que atua em demais mercados, como crédito e seguros.

Como disse, é possível que a figura do agente autônomo evolua para isso, mas o jogo seria invertido. Esses produtos se tornaram acessórios, não o core.

Outra coisa que pode mudar, quando olhamos em comparação com o mercado americano, é a forma de cobrança e remuneração. Hoje, o Brasil praticamente todo recebe rebate. Na Guide, desde 2013, temos um modelo de cobrança com um fee sobre o patrimônio do cliente.

Além disso, tem a questão do tamanho. Em breve, teremos, 15 mil, 20 mil agentes autônomos. É uma tendência que continua. Há um oceano muito grande, e a Guide com certeza quer navegá-lo.

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Arthur Guimarães

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