Facebook mira exemplo chinês para rentabilizar operação do WhatsApp

O anúncio do início da possibilidade de enviar e receber dinheiro pelo WhatsApp deve movimentar o mercado. Além de mexer com as ações da Cielo (CIEL3), a nova estratégia do app no Brasil tem como inspiração o que já ocorre na China com o aplicativo WeChat e deve colocar a plataforma de mensagens como novo player financeiro.

No início da nova operação, o usuário terá a possibilidade de usar cartões de débito, ou que têm função de débito e de crédito, Visa e Mastercard dos bancos Nubank, Sicredi e Banco do Brasil. A transferência será intermediada pela Cielo e será sem taxas para os usuários Pessoa Física (PF).

As operações entre pessoas e empresas poderão ser feitas em débito e crédito. Já de pessoa para pessoa, o pagamento funcionará apenas na modalidade débito. Nas transações realizadas em débito, a pessoa receberá o valor em um dia e nas transações de crédito o valor cairá na conta em até dois dias.

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Facebook mais banco e menos rede social

O negócio deve dar início a uma nova frente de trabalho do Facebook, dono do WhatsApp, e fazer com que a empresa se torne também um player de pagamentos digitais -business que Mark Zuckerberg namora há pelo menos cinco anos, mas que nunca engrenou.

Não à toa, as transferências de dinheiro serão realizadas por meio e com a proteção da plataforma chamada Facebook Pay -que deve ser o centro de toda nova operação desse tipo.

Para gerar receita, dado que a transação entre pessoas físicas será gratuita, o WhatsApp cobrará uma taxa de 3,99% sobre o valor da transação de empresas que utilizem contas no WhatsApp Business. O percentual é maior do que o cobrado pelo débito pelas maquininhas, que gira em torno de 2%.

Para o professor da administração da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), José Sarkis Arakelian, apesar de ser maior, a cobrança atual, entretanto, não é a principal estratégia de receita da empresa para o longo prazo.

“Nesse momento, ela tende a se tornar uma processadora de cartões relevante e ter uma participação no mercado de fintechs. Mas não é aí que vão ganhar grandes receitas. O objetivo é se transformar em padrão de mercado”, disse ele.

“Seguramente não é o foco do Facebook monetizar o negócio por meio de taxas mais elevadas no PJ. Eu tenho pouca dúvida que o objetivo do Facebook é colocar uma base muito maior funcionando, tanto de PF quanto de PJ, e uma futura monetização com percentuais muito menores é muito mais interessante”, afirmou Arakelian.

WhatsApp pode, finalmente, conseguir gerar receita

Além de o início de uma operação bancária, há também a ideia de, finalmente, fazer algum dinheiro com o WhatsApp, empresa comprada pelo Facebook em 2014 por cerca de US$ 16 bilhões.

Como um dos principais mercados do WhatsApp no mundo e com cerca de 45 milhões de pessoas sem acesso ao sistema bancário tradicional, o Brasil foi o primeiro país a receber a novidade sobre o meio de pagamento, que deve entrar em funcionamento nas próximas semanas.

Inicialmente, o plano do Facebook era abrir o WhatsApp a receber receitar de publicidade, assim como a própria rede social ou o Instagram, também do grupo, por exemplo.

Como o serviço gratuito ainda possui uma barreira de mercado pequena e concorrentes grátis, como o Telegram, o Facebook nunca conseguiu levar à frente o projeto de ganhar dinheiro com o popular “Zap zap”.

“O WhatsApp  não consegue colocar em prática o modelo de anúncios muito pelo próprio modelo de negócio, no qual se você soltar anúncio, automaticamente as pessoas se afastariam”, disse Arakelian.

 

Saiba mais: Cielo (CIEL3) fecha parceria para pagamentos via WhatsApp no Brasil

Dessa forma, como meio de pagamento, o aplicativo poderá contar com uma fonte de receita importante, principalmente em um momento desfavorável ao Facebook, que depende massivamente de publicidade para seu modelo de negócios.

A crise causada pelo coronavírus (covid-19) também deve influenciar negativamente os resultados do Facebook neste ano. Além disso, a empresa está sob o olhar atento de das autoridades dos Estados Unidos e da Europa, que avaliam possíveis práticas anticompetitivas da empresa de Mark Zuckerberg.

No ano passado, a gigante de tecnologia registrou uma queda no lucro de 16%, passando de US$ 22,112 bilhões para US$ 18,49 bilhões, resultado muito influenciado pela alta nos custos operacionais da empresa.

WeChat é utilizado como meio de pagamento na China

O aplicativo WeChat era para os chineses o que o WhatsApp é para nós, brasileiros: a plataforma de comunicação mais utilizada no país, com mais de um bilhão de usuários.

Mas, para além disso, como forma de rentabilizar a operação, o WeChat, que pertence ao conglomerado chinês de mídia digital e telecomunicações Tencent, passou a oferecer serviços financeiros à população.

Não demorou para o aplicativo se tornar um grande sucesso também nesse setor. Em diversos locais do país é possível comprar produtos e serviços apenas transferindo o montante pelo WeChat, onde empresas pagam um pequeno percentual nas transações.

Mesmo no Brasil, diversos empresários que possuem contato com fornecedores chineses, por vezes, são abordados por questionamentos acerca da possibilidade de fechar acordos financeiros pelo WeChat.

Com isso, o dono do WhatsApp também tenta fechar novos mercados à gigante chinesa.

“O Facebook sabe que não vai entrar com o WhatsApp na China, mas ele também não quer que o WeChat entre nos demais locais onde o WhatsApp está”, disse professor da administração da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), José Sarkis Arakelian.

Vinicius Pereira

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