Mulheres x investimentos: brasileiras são confiantes, mas ainda há obstáculos

O Brasil é o segundo país em que as mulheres se sentem mais confiantes na hora de investir. Foi o que disseram 46% das brasileiras entrevistadas em um estudo da Coleman Parkes Research para o BNY Mellon Investment Management. No mundo, apenas 28% das mulheres se sentem assim.

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Se o público feminino investisse na mesma proporção com a qual os homens investem, a indústria mundial de fundos de investimentos poderia ter US$ 3 trilhões a mais sobre gestão no ano de 2021, indica o mesmo levantamento. No Brasil, haveria pelo menos mais US$ 52 bilhões em ativos sob gestão.

Ainda assim, a representatividade feminina no mercado de capitais está aquém do seu potencial. Na bolsa de valores brasileira, por exemplo, somente 23,4% das pessoas físicas que investem são mulheres, um total de 1.171.028, segundo o XP Monitor de janeiro. O número é pequeno, mas trata-se de uma alta de 38,2% em relação a 2020, sinalizando um crescimento.

Segundo o levantamento, existem barreiras que dificultam a entrada do público feminino no mercado de investimentos:

❖ Obstáculos de renda: uma grande porcentagem da população feminina ainda não é independente financeiramente;

❖ Percepção de que investir é arriscado: mulheres têm mais tendência a reservar o dinheiro para emergências e a só investir se ganharem acima de renda “segura”, pelo menos, US$ 50 mil por ano (ou US$ 4,1 mil mensais), segundo a pesquisa;

❖ Falta de confiança: muitas mulheres não se sentem confiantes para investir por falta de conhecimento sobre produtos financeiros e sobre como investir.

Também chamou a atenção na pesquisa o fato de a indústria de fundos ter predominantemente como público-alvo os homens. Quase nove em cada dez gestores (86%) admitem na pesquisa que seus clientes padrões são homens.

Diante disso, o SUNO Notícias consultou especialistas em finanças pessoais para dar dicas de como as mulheres brasileiras podem atingir a independência financeira e a confiança necessária para aumentarem a representatividade na Bolsa.

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Quanto custa a independência financeira?

O termo independência financeira muitas vezes é utilizado de maneira errada – um sinônimo de riqueza, por exemplo -, mas não é disso de que se trata. Ser financeiramente independente é ter uma fonte de renda estável, que permita a organização do dinheiro e das finanças pessoais.

Júlia Abi-Sâmara, fundadora da plataforma “As investidoras” – que tem como objetivo levar educação financeira para mulheres -, diz que a independência financeira também está atrelada a liberdade, ao cuidado com o dinheiro que permita a conquista de um nível de estabilidade e organização financeira, sem ter que se preocupar ou depender de alguém para isso.

“Está muito relacionado a liberdade. Liberdade de poder escolher trabalhar e realizar seus sonhos, sem depender de ninguém para isso! Eu trabalho ensinando mulheres a investir e cuidar do seu dinheiro e, nesse caso, sinto que a independência financeira tem um significado ainda mais forte!”

Iris Sayuri Kazimoto, gerente de produto do Nubank (NUBR33), acredita que o termo tenha mais significado quando pensado em estágios no que diz respeito às mulheres.

“Por muito tempo as mulheres não puderam nem trabalhar, quem dirá ser financeiramente independente. Nesse sentido, o primeiro passo é conseguir ganhar seu próprio dinheiro para então poder controlá-lo e usá-lo como desejar”.

Assim, a primeira busca deve ser por uma fonte de renda: um trabalho formal ou informal, um serviço freelancer, entre outras formas de serviço que sirvam como fluxo de dinheiro frequente e previsível.

“A sociedade não incentivou as mulheres a buscar sua independência financeira e a aprender sobre o assunto”, diz Júlia Abi-Sâmara, fundadora da plataforma “As investidoras”.

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Saber diagnosticar gastos e ganhos

Após ter seu próprio dinheiro, o próximo passo para a independência financeira é diagnosticar o quanto se ganha e o quanto se gasta no mês. Graziela Suman, sócia da Veedha Investimentos, ressalta a importância da clareza no tópico de gastos.

“Muita gente se surpreende quando coloca no papel o quanto gasta. Esse processo de diagnóstico sobre os gastos é fundamental para quem pretende investir”, diz a especialista.

Para esse processo de levantamento dos gastos, algumas dicas são importantes, como dividir em categorias como “gastos fixos” e “gastos variáveis”, criar listas sobre pagamentos de serviços como Netflix, iFood, Uber, além de outros custos que nem sempre são óbvios, entre os quais gastos com presentes de aniversário ou outras festas, salão de beleza, barzinho com amigos, e por aí vai…

Seja com uma planilha no Excel, aplicativo no celular, planner de finanças ou qualquer outra forma de organização de preferência, o que importa de fato é achar uma maneira de listar e compreender todos os gastos mensais, diz Kazimoto.

E quando verificado esse tópico, a fundadora de “As investidoras” dá o recado: “De nada adianta alcançar uma renda mensal substancial se você não souber administrá-la. Tenha consciência do quanto você ganha e do quanto gasta, e se possível encontre formas de aumentar sua renda e diminuir seu custo de vida“, diz Abi-Sâmara.

Mulheres buscam por independência financeira
Mulheres buscam por independência financeira. Foto: Pixabay

Busca por metas e sonhos

Não existe idade certa para se investir ou momento da vida para começar a pensar no assunto. A faixa etária de mulheres acima dos 60 anos que investem na bolsa de valores aumentou 50% entre 2019 e 2021, por exemplo.

Isso mostra que cada vez mais o público feminino está tomando posse do seu dinheiro e atingindo a independência financeira. Uma parte importante nessa jornada é olhar para frente e vislumbrar o que se deseja, dizem as especialistas.

“Conhecimento é poder e quanto mais se sabe sobre o tema, mais fácil é o caminho”, diz Iris Kazimoto, gerente de produto do Nubank (NUBR33)

Viagem internacional? Casa própria? Financiamento de estudos? Reforma de imóvel? Seja o que for, cada investimento deve receber um carimbo que indique a sua finalidade no longo prazo. Dessa forma é mais fácil poupar quantias mensais e planejar as metas de curto e médio prazo.

“Faça um planejamento. Crie metas de quanto você quer investir por ano e em quanto tempo quer alcançar seu objetivo final. Isso vai ajudar a estabelecer quais investimentos são melhores para você e quais as ações individuais para conseguir alcançar essa meta”, diz Abi-Sâmara.

A especialista ainda ressalta que, quanto mais cedo se começa, mais perto se está do objetivo final. “O tempo é um grande aliado na busca pela independência financeira: cada passo que você toma hoje tem um grande impacto no amanhã”.

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Poupar e investir são um hábito

Com o próprio dinheiro no bolso, gastos e ganhos organizados e metas planejadas, chega a hora de selecionar o valor a ser poupado e investir, de fato.

Aline Cunha, sócia da Valor Investimentos, explica que separar um valor todo mês para investir não é algo simples e intuitivo para muitas pessoas. Trata-se de um hábito a ser adquirido e é um importante passo para a independência financeira.

E fica o alerta: investir o dinheiro que sobrou no mês não é a mesma coisa que investir o valor planejado para ser poupado. O dinheiro do investimento é um valor fixo que deve ser separado todos os meses, com o objetivo de render em uma aplicação financeira. “O que sobrou” pode se somar a essa quantia, se for do interesse da investidora.

Para ficar mais clara essa relação, Cunha aconselha que as mulheres não deixem o dinheiro do investimento disponível na conta corrente. “Assim que receber o salário, o ideal é retirar a quantia planejada para o investimento e aplicar. Assim, não sobra espaço para a tentação de usar esse dinheiro em outras situações”.

Um importante incentivo para esse hábito de poupar dinheiro é conhecer mais sobre o mundo das finanças pessoais. Kazimoto, do Nubank, afirma que conhecimento é poder e, quanto mais se sabe sobre o tema, mais fácil é o caminho para a independência financeira.

“A sociedade não incentivou as mulheres a buscar sua independência financeira e a aprender sobre o assunto. Essa falta de estímulo fez com que muitas de nós evitassem falar sobre dinheiro, deixando a tarefa de cuidar das finanças para terceiros”, diz Abi-Sâmara.

Para mudar isso, a fundadora de “As Investidoras” acredita que é importante as mulheres falarem mais sobre investimentos com outras mulheres para desmistificar o tabu de que investimentos são algo que só os homens entendem.

“Buscar conhecimento e criar um planejamento são extremamente importantes, mas o que vai realmente fazer a diferença é colocar tudo isso em prática”, conclui.

Liberdade e confiança para as mulheres

São muitas as etapas e algumas bastante trabalhosas, mas, depois de vencer todos os obstáculos, a missão da independência financeira não acaba aí.

“É um erro achar que ao atingir a independência financeira não precisamos mais nos preocupar com as finanças e os investimentos – isso pode te levar a perder tudo o que foi conquistado. É importante continuar observando os gastos e cuidar para mantê-los dentro de um padrão de vida sustentável”, diz a fundadora de “As Investidoras”.

Segundo Abi-Sâmara, o objetivo dos investimentos é alcançar outras fontes de renda para que o dinheiro não seja um problema na hora de tomar decisões de médio e longo prazo, principalmente.

Por isso, o planejamento continua sendo importante mesmo após atingir todos os passos e deve continuar sendo uma tática aliada às finanças pessoais. É por meio desse caminho que mais mulheres podem ter confiança e liberdade para suas escolhas financeiras, garantem as especialistas.

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Monique Lima

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