Cristiano Ronaldo e Pogba “boicotam” os patrocinadores da Eurocopa: quem paga pelos danos?

Na última segunda-feira (14) o campeão português da Juventus Cristiano Ronaldo retirou da mesa da coletiva de imprensa da Eurocopa duas garrafas de Coca-Cola (COCA34), colocando-as de lado e dando um simples conselho ao pegar um garrafa anônima: “Beba água”.

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O gesto de Cristiano Ronaldo gerou uma forte queda das ações da gigante americana de bebidas, que perdeu US$ 4 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões) em capitalização.

Na última terça-feira (15), durante a coletiva de imprensa após a vitória da França sobre a Alemanha, o francês Paul Pogba imitou o gesto e durante a cerimônia de entrega de prêmios ao “melhor em campo” retirou da mesa uma garrafa de cerveja da patrocinadora Heineken.

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Pogba motivou seu ato dizendo que é muçulmano, e que por isso estaria proibido de beber, ou patrocinar, bebidas alcoólicas. Pena que a garrafa de Heineken em cima de sua mesa fosse do tipo “zero álcool”.

Essas atitudes, aparentemente simples, dos campeões esportivos, geraram um verdadeiro terremoto financeiro.

Os patrocinadores pagaram cerca de US$ 500 milhões para a UEFA para aparecer durante o Campeonato da Europa.

O faturamento para o Euro 2020 foi de US$ 2 bilhões, US$ 100 milhões a mais do que os US$ 1,9 bilhões registrados na edição de 2016.

Os patrocínios representam cerca de um quarto do volume de negócios. Como patrocinadores oficiais, 12 empresas multinacionais associaram seu logotipo ao evento:

  • Alipay,
  • Booking,
  • Coca Cola,
  • FedEx,
  • Gazprom,
  • Heineken,
  • Hisense,
  • Qatar Airways,
  • TakeAway,
  • TikTok,
  • Vivo,
  • Volkswagen.

Essas empresas não somente pretendem obter um retorno financeiro do evento esportivo, como não receber danos econômicos vindo de seus participantes.

Por isso, o caso da Coca-Cola é emblemático e deixou muitos executivos bastante enfurecidos. E já se fala em pedidos de danos.

Mas de quem seria a responsabilidade em casos como esses? Dos jogadores ou da UEFA?

Cristiano Ronaldo e Pogba não deveriam ser responsabilizados

Nos casos Cristiano Ronaldo vs. Cola-Cola e Pogba vs. Heineken, as questões relativas aos direitos de imagem pessoal dos jogadores e aos direitos comerciais transferidos pela UEFA, que controla todo o processo de venda e gestão de eventos publicitários, se entrelaçam.

Durante e após os jogos, a UEFA paga às Federações os prêmios de participação no evento (que para o vencedor pode chegar a US$ 28 milhões e que proporcionam um bônus garantido de US$ 9,5 milhões a todas as seleções).

A relação jurídica relevante é, portanto, entre UEFA e as Federações nacionais.

Ou seja, os jogadores não assinam acordos específicos com a UEFA para divulgar os patrocinadores do torneio.

No entanto, são as federações nacionais que devem garantir um comportamento adequado aos seus jogadores.

Por exemplo, Cristiano Ronaldo não poderia ter se apresentado na coletiva de imprensa com uma camisa do designer Pepsi, por exemplo, pois teria sido multado.

Já que nem CR7, nem Pogba, fizeram algo desse tipo, para os dois jogadores não é possível falar de quebra de contrato, e nem indenizações.

Não há dúvida, porém, de que os dois patrocinadores sofreram um dano “indireto” de imagem, ou seja, não relacionado com o descumprimento direto de uma obrigação contratual.

Mas a Coca-Cola e Heineken só poderão processar os jogadores caso seja comprovado um comportamento malicioso. Por exemplo se Cristiano Ronaldo tivesse atuado com a intenção específica de prejudicar a Coca Cola, talvez até mesmo tendo um acordo com um concorrente direto.

Um cenário que parece improvável. Pois os dois jogadores agiram por motivos pessoais (saúde e religião) perfeitamente relacionados com suas imagens.

Como fica para a UEFA?

A UEFA, por sua vez, poderia ser responsabilizada por falhas na exposição da marca, que tinha que ser colocada em cima da mesa.

Entretanto, mesmo nesse caso, muito dependerá das obrigações contratuais da organização com os patrocinadores.

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Ou seja, dificilmente pode se acusar de descumprimento a UEFA tendo organizado a coletiva de imprensa para a qual as Federações nacionais têm a liberdade total de trazer quem bem entendem.

Apenas as Federações podem obrigar os jogadores a determinados comportamentos.

Portanto, é possível teorizar uma ação judicial “em cascata”: Coca-Cola e Heineken contra a UEFA, UEFA contra as Federações e as Federações contra os jogadores.

Mas essa situação também é muito pouco provável.

O caso de Cristiano Ronaldo e Pogba deixa o mercado do futebol internacional muito mais complicado. Os patrocinadores pensarão duas vezes antes de desembolsar valores milionários. E os contratos de patrocínio certamente ficarão ainda mais rígidos do que já são.

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Carlo Cauti

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