S&P mantém nota de crédito do Brasil em “BB” com perspectiva estável
Menos de uma semana após a Moody’s revisar a perspectiva positiva para estável na nota soberana do Brasil de “Ba1”, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings informou que mantém a nota de crédito do País em “BB”, com perspectiva estável. Isso significa que a empresa não espera mudanças significativas no rating doméstico num período de aproximadamente dois anos.

Em dezembro de 2023, a agência havia elevado a nota brasileira de “BB-” para “BB”. Na ocasião, a mudança foi respaldada pela aprovação da reforma tributária pelo Congresso Nacional. A perspectiva era de que as mudanças na cobrança de impostos ajudaria a reduzir desequilíbrios fiscais e a melhorar as condições econômicas do País. Senadores e deputados debatem agora sobre a implementação das novas regras.
Com a manutenção desta quinta-feira, o Brasil segue a dois degraus do selo de bom pagador pela S&P,o chamado “grau de investimento“. A equipe econômica tinha a perspectiva de que o País voltasse a ter essa status até o fim do atual mandato do presidente Lula, em dezembro de 2026.
Pela escala da S&P, a próxima nota é a “BB+”, quando um país já é considerado de alta qualidade, mas com risco de especulação. O quadro de grau de investimento da agência contém ainda cinco degraus: “BBB-” (Boa qualidade, mas com menor margem em relação ao “BBB”), “BBB” (Boa qualidade), “A”: (Qualidade alta), “AA” (Qualidade muito alta) e “AAA” (Maior qualidade e menor risco de crédito).
Entre as três maiores que acompanham o rating brasileiro também está a Fitch, com nota de “BB” e perspectiva igualmente estável. Essa posição foi referendada pela agência em junho do ano passado.
Crédito: S&P destaca força de commodities
Em seu relatório, a S&P Global destaca que o Brasil deve manter uma “sólida posição externa” graças a fortes exportações de commodities e ao status do real como uma moeda ativamente negociada, fatores que mitigam a necessidade de financiamento externo. De acordo com a classificadora, a perspectiva estável do rating “equilibra a fraqueza do perfil fiscal do Brasil com a solidez de sua política monetária e setor externo”.
Segundo a S&P, o Brasil é uma economia relativamente fechada e, por isso, “menos vulnerável à volatilidade na política comercial”. Além disso, “a produção recorde de commodities agrícolas e de energia deve resultar num forte desempenho do setor exportador em 2025″, ainda que os preços destes produtos não sejam tão favoráveis quanto em 2023.
“A desaceleração no consumo no Brasil deve ter efeito similar nas importações”, acrescentou a agência, afirmando que os investimentos diretos no país devem financiar integralmente o déficit em conta corrente. A agência, porém, ressalta que há um “grau elevado” de imprevisibilidade em torno das políticas que serão adotadas pelo atual governo dos Estados Unidos, em particular a respeito da imposição de tarifas de importação, e dos potenciais efeitos econômicos disso e das respostas adotadas por outros países.
Recomendação é de ajuste fiscal, mas agência não vê mudanças no curto prazo
Em consonância com boa parte dos analistas de mercado, a S&P Global avalia que, para o rating do Brasil aumentar, serão necessárias iniciativas políticas que elevem os superávits primários e reduzam a rigidez orçamentária. “Em nossa opinião, políticas voltadas à consolidação fiscal promoveriam um ambiente de taxas de juros mais baixas, contribuindo ainda mais para o crescimento econômico”, pontua a S&P.
Por outro lado, a classificadora diz que a nota brasileira pode ser reduzida nos próximos dois anos se a implementação de políticas não conseguir conter a pressão sobre os gastos, levando a um aumento de dívida pública em ritmo mais rápido do que o esperado. “Uma deterioração na sinalização de políticas também poderá afetar os fluxos líquidos de investimento estrangeiro direto e, assim, enfraquecer a posição externa do Brasil”, alerta a agência.
A empresa acredita, no entanto, que ações para ampliar a resiliência das contas públicas não devem ocorrer no Brasil antes das eleições de 2026. “Embora os setores público e privado estejam debatendo ativamente o Orçamento, não há planos de políticas significativas para corrigir a inércia dos gastos do setor público. À medida que o Brasil se aproxima das eleições gerais de outubro de 2026, não esperamos a aprovação de políticas que fortaleçam significativamente o perfil fiscal do país”, afirma a classificadora.
A S&P lembra que, na Constituição brasileira, é necessário amplo consenso em todo o espectro político para aprovar mudanças significativas na legislação. “Isso tende a limitar o ritmo tanto do progresso quanto do retrocesso em políticas”, diz. “A implementação lenta e desigual de políticas, aliada à rigidez orçamentária constitucional, pesa sobre as finanças públicas.”
Porém, no entender da classificadora, a estrutura institucional do Brasil, baseada em amplos freios e contrapesos entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, propicia uma futura formulação de políticas pragmáticas. “Com o tempo — embora não antes das eleições presidenciais do próximo ano —, isso provavelmente levará a iniciativas para combater seu fraco perfil fiscal”, diz a S&P.
Com Estadão Conteúdo