Novo CRA da gigante das proteínas atrai atenção: vale entrar na oferta da MBRF (MBRF3)? Veja análise
A nova emissão de CRA da MBRF (MBRF3) tem movimentado o mercado de renda fixa e colocado os holofotes sobre a gigante formada a partir da união entre Marfrig e BRF. A companhia, agora uma das maiores plataformas globais de proteína animal, atua em 117 países e combina três grandes frentes de receita: carne bovina nos Estados Unidos, carne bovina no Brasil e operações avícolas da antiga BRF. Essa estrutura integrada, segundo analistas, coloca a empresa em posição de destaque num setor historicamente volátil.
O relatório da EQI Research atribui nota de crédito de 60% à MBRF, uma avaliação considerada neutra, mas ancorada por fundamentos relevantes. A casa destaca que a diversificação entre proteínas e regiões ajuda a suavizar os efeitos típicos dos ciclos de oferta e demanda, que costumam impactar margens e previsibilidade financeira. Em momentos de pressão em determinados mercados, a companhia tende a compensar o desempenho em outras geografias ou linhas de produção, reduzindo a volatilidade do caixa e fortalecendo o perfil de crédito da nova gigante do setor .
Outro ponto ressaltado pelos analistas é a expansão da operação Halal em parceria com o fundo soberano saudita PIF. O aumento de escala nesse segmento, considerado estratégico globalmente, pode elevar margens ao longo dos próximos anos, além de reforçar a presença da empresa em um mercado que cresce de maneira consistente e tem barreiras de entrada elevadas. Essa combinação de diversificação e crescimento direcionado ajuda a explicar o interesse dos investidores pelos novos títulos ofertados.
O que sustenta o crédito da mbrf
O acesso privilegiado aos mercados de capitais, tanto no Brasil quanto no exterior, é um dos pilares citados pela EQI Research. Para uma companhia com grande intensidade de capital, conseguir refinanciar dívidas em diferentes condições de mercado reduz riscos operacionais e fortalece a liquidez.
Ainda assim, a empresa enfrenta desafios importantes. A ciclicidade continua sendo uma característica inevitável do setor de proteínas, e os resultados mais recentes mostram isso: o ciclo avícola no Brasil entrou em fase de reversão, pressionando spreads e margens, enquanto a operação de bovinos nos Estados Unidos atravessa um dos momentos mais adversos do ciclo, reduzindo capacidade de geração de caixa. Os analistas afirmam que uma eventual normalização pode melhorar significativamente o perfil de crédito da companhia, mas reconhecem que o curto prazo exige cautela .
Indicadores financeiros e riscos da emissão
Os dados consolidados dos últimos doze meses até o terceiro trimestre de 2025 revelam uma empresa que cresce, mas ainda opera sob pressão. A receita líquida alcançou R$ 162 bilhões, enquanto o EBITDA ajustado somou R$ 13,4 bilhões, com margem de 8%.
O lucro líquido de R$ 2,73 bilhões marcou uma virada relevante após anos de resultados negativos. Do lado da estrutura de capital, a dívida bruta atingiu R$ 63,7 bilhões, apoiada por caixa de R$ 22,6 bilhões e liquidez corrente de 2,1 vezes. Já a dívida líquida chegou a 3,1 vezes o EBITDA, um nível elevado, mas coerente com o histórico da empresa. O índice de cobertura de juros ficou em 1,5 vez, refletindo o ambiente operacional ainda desafiador .
Para a EQI Research, as taxas do CRA já incorporam o risco relativamente baixo da MBRF, mas as séries longas indexadas ao IPCA seguem atrativas em um cenário de juros em queda. Esses títulos, porém, exigem tolerância à marcação a mercado. Assim, o CRA pode ser interessante para quem busca renda real e aceita conviver com a ciclicidade típica do setor e a sensibilidade própria das durations longas.