Especialistas repercutem o Copom: “Comunicado surpreende pelo tom conservador”

O Copom (o Comitê de Política Monetária do Banco Central) manteve, como aguardado, a taxa Selic no mesmo patamar das últimas sete reuniões. A expectativa do mercado, no entanto, era por uma sinalização no comunicado do BC sobre corte de juros nas próximas reuniões, o que não ocorreu. Analistas mostraram-se surpresos: esperavam um comunicado mais otimistas e sinais de corte da Selic.”

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Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, analisa a decisão sobre o Copom: “O tom do comunicado sobre a taxa Selic veio mais hawkish que o esperado. Mas suave, se comparado aos comunicados das reuniões anteriores. Mas o Copom, no comunicado, reforçou que segue adotando ‘cautela e parcimônia’, muito por causa do processo desinflacionário ser mais lento que o previsto, e também pelas expectativas de inflação ainda estarem bastante desancoradas, o que pede vigilância do Comitê, para ainda manter os juros no patamar atual.”

Alves, contudo, chama a atenção para o fato de o comitê ainda não sinalizar que teremos corte de juros na próxima reunião: “O que vai contra o que o mercado esperava e revela o tom hawkish do comunicado. Mas, na minha visão, o cenário atual está melhor que o esperado e isso deve se materializar em corte em algum momento no ano de 2023.”

Alves observa que o Copom destacou “as pressões inflacionárias globais que seguem fazendo peso no Brasil, e no mundo, e tem contribuído também para a alta de preços locais.”

Ficou como ponto de atenção, diz ele, a “dúvida” em relação ao desenho final do arcabouço fiscal que ainda vai ser aprovado pelo Congresso Nacional, e como ele vai impactar em relação às expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação.

“A falta de convergência para a meta inflação no mundo, em especial no Brasil, as incertezas sobre a crise bancária nos EUA, e o nível de crescimento das economias, ‘obrigaram’ o Comitê do BC a manter a Selic no patamar atual, como já era esperado pelo mercado”, argumenta.

Ele conclui: “Na minha opinião, devemos ter a manutenção da Selic na próxima reunião em agosto, em que deve haver a sinalização de quando o corte pode ocorrer. Ao que tudo indica e como não houve sinalização neste comunicado, esse corte se dará muito provavelmente na reunião de setembro. O Copom está bem assertivo no discurso e não vai mudar agora.”

Comunicado do Copom surpreende pelo seu conservadorismo, avalia economista-chefe da CM Capital

O comunicado que se seguiu ao término da reunião do Copom surpreendeu o mercado por seu conservadorismo, escreveu em nota enviada ao Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.

“A instituição, é verdade, retirou do documento a oração que mencionava que, embora com menor probabilidade, existia sim alguma chance de um novo aperto monetário. Apesar desta retirada, ela não fez sinalização sobre evolução futura da taxa de juro e muito menos sobre uma eventual queda da taxa na próxima reunião. Portanto, isso que era esperado pelo mercado não aconteceu”, observou a economista.

A economista chama a atenção ainda para o fato de o BC ter verificado que houve uma queda nas expectativas inflacionárias, tidas pela instituição como cruciais para movimentos subsequentes nos juros.

“No entanto, essa magnitude, como ela foi vista, não foi suficiente para o BC fazer essa sinalização. Então nós temos uma situação em que o BC entende que o movimento de conversão das expectativas inflacionárias começa a acontecer, há uma maturação fiscal positiva por conta da tramitação adiantada do arcabouço fiscal no Congresso Nacional, mas que não é suficiente para sinalizar queda”, disse a economista da CM Capital, para quem o BC mantém a porta aberta para a manutenção da Selic no atual patamar por mais tempo.

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Caio Megale, da XP: Copom deixa portas abertas para possível e cauteloso corte em agosto

Caio Megale, economista-chefe da XP, pondera: “O comitê mencionou alguma melhora nas perspectivas de inflação, o que, a nosso ver, abre as portas para um possível corte na próxima reunião. Ao mesmo tempo, apontou que o cenário continua exigindo cautela e parcimônia, o que significa que o primeiro corte de juros não será agressivo.”

Megale observa: “O Copom ainda descreveu o ambiente global como ‘desafiador’, com os bancos centrais enfrentando uma inflação resiliente. No campo doméstico, vê desaceleração da atividade econômica e medidas subjacentes de inflação acima da meta – embora reconheça que a inflação ao consumidor caiu recentemente.”

Complementa: “A projeção do Copom para a inflação de 2023 caiu de 5,8% para 5,0%, enquanto a projeção para a inflação de 2024 caiu de 3,6% para 3,4% (estimávamos 5,1% e 3,3%, respectivamente).”

Megale nota também: “O último parágrafo do comunicado é fundamental. Por um lado, o Copom antecipa que o processo atual de desinflação tende a ser ‘mais lento’, em meio a expectativas desancoradas. Assim, cautela e parcimônia permanecem cruciais. Por outro lado, diz que a estratégia de manter a taxa Selic nos níveis atuais por um longo período ‘tem sido adequada’ para assegurar a convergência da inflação, ao invés de “ser capaz de” como na declaração anterior. A nosso ver, é um sinal de que manter a taxa Selic estável à frente não é necessariamente o plano do comitê.”

E conclui: “De fato, o Copom afirmou que os passos futuros da política monetária serão dependentes dos dados, mencionando a dinâmica da inflação corrente, as expectativas de inflação, o hiato do produto, etc. Além disso, a autoridade monetária retirou a seção sobre o cenário alternativo em que não hesitaria em retomar o ciclo de aperto caso o processo desinflacionário não ocorresse conforme o esperado. Em resumo, acreditamos que a estratégia do Copom é manter as taxas estáveis por mais algum tempo ou iniciar um afrouxamento monetário gradual em breve. Assim, vemos a declaração de hoje consistente com o nosso cenário base (desde abril), que considera um corte de 0,25pp em agosto, seguido de cortes de 0,50pp até a taxa Selic atingir 11,00% ao final do 1T24.”

“Mercado esperava maior flexibilidade do Copom”

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, comenta: “O Copom cumpriu o que dele era amplamente esperado, manteve a Selic em 13,75% e ajustou a comunicação com a retirada do trecho sobre a possibilidade de ‘retomar ciclo de ajuste’. Porém, ao que parece o mercado tinha um otimismo, talvez até certo ponto exagerado, de que o comitê indicaria um viés de queda dos juros. Como de praxe, não cravou o momento do início do ciclo de afrouxamento monetário e pareceu mais preocupado em reforçar as incertezas e necessidade de ‘paciência e serenidade’, visto que o processo desinflacionário ‘tende a ser mais lento’ e que as expectativas ‘permanecem desancoradas'”.

Nishimura finaliza: “Acredito que o mercado esperava maior flexibilidade e reconhecimento de um cenário mais benigno, mesmo que nas entrelinhas, como é de costume deste tipo de comunicado. Para quem estava comprado na expectativa de redução da Selic já em agosto, pode ter sido um balde de água fria. Neste caso, amanhã a curva de juros pode refletir a comunicação mais conservadora. Coincidência, ou não, a ponta cura da curva do DI apresentou alta ao final da sessão desta quarta-feira.”

Analistas veem cortes da Selic em setembro – e não em agosto

Com a desaceleração da inflação com os dados de indicadores como os do IPCA, agentes e analistas do mercado já viam corte de juros em agosto. O comunicado desta quarta, no entanto, não dá essa sinalização. Especialistas já veem cortes somente na reunião de setembro do Copom.

“Que o Copom já observa encaminhamento desinflacionário para baixar a taxa Selic não há dúvida. Retirou o trecho do comunicado em que ‘não hesitaria em retomar o ciclo de alta caso fosse necessário’ e isso é bom, mas o IPCA de maio ainda não é suficiente para sinalizar ‘quando’, pois os Núcleos ainda desaceleram moderadamente”, observa Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Corretora

“É muito provável o ciclo ser iniciado em setembro com corte de 0,5%, com a disponibilidade do IPCA-15 na próxima semana e os IPCA’s de junho e julho. O Copom está implacável em ver uma desinflação contundente, de fato no Núcleo, e a ancoragem das expectativas para prazos mais longos.”, diz ele.

“No comunicado [o Copom] destacou que ‘antecipa-se uma retomada da inflação 12 meses no 2º semestr’ e que ‘diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta’, além da incerteza residual sobre o Arcabouço Fiscal no Congresso e impactos sobre as expectativas”, lembra o economista.

“Nesse trecho fica evidente sua determinação: ‘A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia. O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.’”

Adriana Dupita, economista sênior da Bloomberg Economics, concorda: “A linguagem do banco central revela – não apenas pelo que fala, mas também pelo que omite – que a instituição se prepara para cortar juros, embora não necessariamente já em agosto.”

Ela explica: “O BC dá sinais de estar prestes a cortar quando remove a referência à possibilidade de uma alta, às projeções sob juros contantes, e à avaliação que o BC faz dos passos da política fiscal até agora. Por outro lado, o Copom parece tentar conter as expectativas de um corte iminente ao sinalizar como pré-condição para o corte a queda na inflação esperada e subjacente. Em suma, o Copom não sinaliza mas também não fecha a porta para um corte em agosto: vai depender de novas boas notícias nestas variáveis.”

Com Agência Estado

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Marco Antônio Lopes

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