Copom deve aumentar taxa Selic para 13,75%; mercado prevê outra alta em setembro

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil iniciou nesta terça-feira (2) a primeira sessão da reunião de política monetária que deverá definir a nova Selic, ou taxa básica de juros. Na próxima e última sessão, que ocorrerá amanhã (3), a instituição planeja divulgar a decisão.

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A expectativa que predomina no mercado é de que a taxa básica de juros (Selic) será elevada em 0,50 ponto-percentual, levando para 13,75% ao ano: 49 das 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, do Estadão, estimam essa alta. Apenas uma casa projeta alta de de 0,25 ponto e outra vê o BC mantendo o atual patamar de 13,25%. O consenso Refinitiv, que inclui 34 instituições, vai na mesma linha: aguarda aumento de 0,5 ponto percentual na Selic.

Esta é a visão, por exemplo, das instituições BTG Pactual (BPAC11), Goldman Sachs, UBS, Suno Research, Blue3, BNP Paribas e Itaú Unibanco (ITUB4), consultadas pelo Suno Notícias

As sinalizações do Copom no seu último encontro, realizado em junho, serviram de base para formar as expectativas quase unânimes do mercado em relação ao aumento dos juros. “Para a próxima reunião, o Comitê antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude”, afirmou a instituição no comunicado de junho.

O BTG Pactual acredita que o Copom vem reconhecendo melhoras econômicas acima do esperado no Brasil, e antecipa desaceleração nos próximos trimestres. A decisão mais viável, nesta quarta (3), seria subir a Selic para 13,75%. Para os analistas do banco, a principal mensagem desse ajuste “veio na forma de sua estratégia de política monetária: uma taxa Selic mais alta por mais tempo, para aproximar a inflação da meta no horizonte de política relevante”.

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De acordo com um relatório do Itaú Unibanco, não há indícios de que a decisão do Copom seja diferente do esperado: “A crescente incerteza da conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo e seus impactos ainda a serem observados, demandaria cautela adicional em sua atuação”.

Por sua vez, o BNP Paribas afirmou que “a recente deterioração das perspectivas fiscais do Brasil, as expectativas de inflação mais altas para 2023 e 2024 e os números de atividade econômica melhores do que o esperado são consistentes com uma política monetária mais rígida por mais tempo, em nossa opinião”.

“A alta de juros leva em consideração as decisões do Banco Central de acordo com os diversos segmentos da economia”, diz Vitor Nery, analista de Renda Fixa e Fundos Listados da Blue3, escritório da XP. “Este novo aumento, no entanto, não é muito relevante, pois já tivemos ajustes de cerca de 2% historicamente no Brasil. A política monetária observa o valor já sofrido pela economia brasileira, pois os setores já entenderam que os impactos de uma taxa alta de juros, apesar de reduzir possivelmente a inflação, pode causar também a redução do PIB.”

No início da pandemia, a taxa de juros chegou a níveis bem mais baixos, ficando cerca de 2%, em contraste com os 13,25% de hoje.

Selic pode ser elevada novamente em setembro

De acordo com os especialistas das instituições financeiras consultadas pela SUNO Notícias, o ciclo de alta da Selic pode parar na próxima reunião, com possibilidade de retorno em setembro.

O Goldman Sachs prevê que o Copom indique outro aperto monetário em setembro, que pode ser de magnitude idêntica ou inferior, mas com a possibilidade de altas adicionais de maior nível. “Ou seja, há uma probabilidade razoável de que o aumento de quarta-feira seja a última de um longo ciclo que começou em março de 2021 quando a taxa de juros estava em apenas 2,00%”, disse o banco.

Os economistas do Itaú acreditam também que “a autoridade monetária deve qualificar que uma eventual alta adicional seria implementada em menor ritmo (0,25 ponto)”.

Risco fiscal, inflação e cenário macro internacional

Gustavo Sung, Economista-Chefe da Suno Research, também prevê alta de 0,5 ponto percentual para este Copom de agosto. “As medidas fiscais aprovadas – redução de alíquotas para diversos bens e PEC dos Auxílios – deterioram o cenário fiscal do país e dificultam o trabalho do BC. Tais medidas pioraram as expectativas de inflação para o horizonte relevante”, explica Sung.

Diante das incertezas, o Copom não deverá encerrar o ciclo de alta de juros nesta reunião, acredita Sung. “Desde o último Comitê, há um pessimismo maior com o cenário internacional, o cenário inflacionário brasileiro não cedeu, o risco fiscal e as expectativas para o IPCA pioraram”

O economista da Suno observa:  “Internacionalmente, as pressões inflacionárias globais continuaram. A inflação continua sendo o principal inimigo das principais economias. EUA registram uma alta de 9,1% e, Zona do Euro, 8,6% – ambos no acumulado de 12 meses. Para combater esse problema, os Banco Centrais estão elevando as taxas de juros. Uma boa notícia, houve uma leve reversão dos preços de diversas commodities. Em julho, o petróleo está mais perto dos 100 dólares. O minério de ferro, milho e soja caíram.”

O quadro doméstico inspira cuidados, apesar de alguma melhora em indicadores: “O IPCA-15 registrou leve alta de 0,13% em julho, a menor variação mensal desde junho de 2020. No acumulado de 12 meses, a inflação está em 11,39%. Apesar dessas quedas, o índice de difusão continua acima dos 67%. Isso mostra que a inflação segue disseminada pela economia.”

Mas o principal fator, que deve influenciar o cenário do Copom, argumenta Sung, são as medidas fiscais recém aprovadas pelo Governo e pelo Legislativo.

“Primeiramente, os malabarismos fiscais aumentaram a incerteza quanto ao risco fiscal do país no médio e longo prazo. O pessimismo dos investidores levou o câmbio a um patamar mais elevado. Caso se mantenha, pressionará os preços internos”, explica ele.

“O risco fiscal elevado exige um prêmio de risco maior por parte dos investidores, pressionando o juro. Pelo lado da demanda, tanto as reduções das alíquotas tributárias, quanto os benefícios fiscais, como o aumento do Auxílio Brasil, serão fatores que devem sustentar a economia no terceiro trimestre”, acrescenta.

“Economia mais aquecida pressiona os preços, o que eleva a inércia inflacionária para 2023 e leva a um arrefecimento mais lento dos preços. Vale lembrar que, no ano que vem, alguns impostos que foram zerados – o PIS/Cofins e Cide sobre a gasolina –, voltam a incidir. Isso pode pressionar os preços na bomba.”

Tem mais pressão fiscal: “Muitos candidatos sugerem manter o Auxílio Brasil em R$ 600. Como rearranjar dentro do orçamento essa despesa permanente, será um ponto que pode gerar volatilidade. E é mais um fator que pode deteriorar o cenário inflacionário. Em suma, todos os pontos levantados pioraram as expectativas de inflação para 2023 e 2024.”

Diante desta piora de cenário, “para que o Banco Central não perca a sua credibilidade e não desancore as expectativas dos agentes, a autoridade monetária deve elevar o juro em 50 bps.” E conclui: “Como ainda há grandes incertezas pela frente – estado da economia, expectativas, cenário internacional, inércia inflacionária, preços industriais, dos alimentos e de serviços -, esperamos que ele não indique o fim do ciclo da taxa de juros. A nossa expectativa é de que o Copom sinalize novos aumentos em menor magnitude. Para a reunião de setembro, nosso cenário é que a Selic chegue a 14,0% a.a. e se mantenha até o fim do ano. Para 2023, possíveis quedas poderão vir apenas no segundo trimestre.”

Inflação pode ter maior impacto

Segundo o Itaú, as crescentes incertezas para as projeções da inflação dos próximos meses, sobretudo de curto prazo, tornam-se mais evidentes com as recentes reduções de impostos promulgadas pelo governo. “Neste sentido, será especialmente importante acompanhar a evolução das expectativas de inflação até a decisão do Copom, uma vez que, neste estágio do ciclo, uma nova piora substantiva nas projeções para o horizonte relevante de política monetária pode levar o comitê a sinalizar esta alta adicional para setembro”, comentou o banco.

O Goldman Sachs disse em relatório que seus economistas esperam que o Copom, mediante sua política monetária, continue enfatizando o ambiente de incerteza fora do normal que a economia nacional está enfrentando atualmente.

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Jorge C. Carrasco

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