Dólar, Selic, commodities… Conflito em Israel pode ter 5 consequências para a economia brasileira

O conflito em Israel após ataque do Irã contra o estado judeu no último sábado (13) reaqueceu as tensões no Oriente Médio. Com o episódio, a pressão econômica no preços das principais commodities, assim como a inflação mundial, já começa a reagir.

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A região do Oriente Médio é mundialmente uma referência de fonte de petróleo e cadeia de suprimentos global que impacta até mesmo as contas de energia na Europa.

Do lado econômico, Fabio Murad, analista e sócio da Ipê Investimentos, entende que o conflito não deve levar a uma guerra entre Irã e Israel.

“Uma escalada é possível, mas é incerta devido à complexidade da situação por lá”, comenta o analista. Nesse contexto, o especialista adverte que os investidores em busca de proteção do patrimônio podem aplicar em ativos considerados seguros, como ouro e dólar.

“Setores menos dependentes da economia global, como serviços domésticos, podem ser mais resilientes”, lembra.

Segundo Murad, a tensão no Oriente Médio pode levar a um aumento nos preços do barril do petróleo em função de restrições na oferta global, impactando no preço da gasolina no Brasil, como a Petrobras (PETR4. A estatal tende a ajustar seus preços de acordo com o mercado externo.

Além disso, junto com Volnei Eyng, CEO da Multiplike, e André Colares, CEO da Smart House Investments, os executivos apontam cinco principais consequências para o Brasil, na piora do conflito em Israel:

  • Aumento no preço do petróleo;
  • Valorização do dólar;
  • Dificuldade para reduzir a taxa Selic;
  • Impacto nos setores de commodities;
  • Instabilidade nos mercados.

Preço do petróleo vai subir com conflito em Israel?

Caso o embate entre Israel e Irã venha a piorar, restrições na movimentação de petróleo e derivados podem elevar os preços globais dos combustíveis.

Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, o conflito pode impactar o petróleo e o preço dos combustíveis no Brasil diretamente via reajuste da gasolina e também pelo câmbio.

“Caso o petróleo reaja com alta nos preços das commodities energéticas, poderemos ver um espaço ainda maior de defasagem da gasolina. Ou seja, preço interno menor que externo”, diz Angelo.

Nessas condições, a estrategista vê espaço para que a Petrobras fique mais pressionada em realizar algum reajuste no Brasil.

Além disso, o câmbio do dólar, também usado para cálculo da defasagem, acentua o movimento.

“O câmbio impacta todos os bens duráveis, a inflação importada. A cada 10% de reajuste na refinaria, conta-se 18 bps (0,18%) no IPCA”, avalia Angelo.

Como o dólar é impactado pelo Oriente Médio

O estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, também ressalta que o conflito no Oriente Médio pode afetar ainda mais a taxa de câmbio caso haja um escalada das tensões envolvendo diretamente o Irã.

O cenário poderia provocar um movimento de aversão a risco e valorização global do dólar.

“Caso o real continue se desvalorizado, isso geraria efeitos inflacionários e, consequentemente, poderia prejudicar o ciclo de queda de juros que está sendo promovido pelo Banco Central”, afirma Goldenstein.

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Mais consequências do conflito em Israel

Segundo o estrategista-chefe da Warren, apesar da mediana das expectativas dos economistas para a taxa Selic terminal ser de 9,0% até o final deste ano, o mercado de juros futuros já precifica uma Selic final na casa de 10,00% ou 10,25%.

“Se o Banco Central (BC) encerrar o ciclo com uma taxa Selic num patamar ainda bem restritivo, isso geraria efeitos negativos sobre o mercado de crédito e a atividade doméstica”, avalia o especialista.

Com isso, a valorização do dólar pode limitar a capacidade do BC de reduzir a taxa Selic.

Além disso, os setores ligados a commodities, como mineração e agricultura, podem se beneficiar do aumento nos preços das commodities durante conflitos, enquanto que a instabilidade nos mercados financeiros pode crescer, resultando em volatilidade nos preços das ações e outros ativos financeiros.

Como a economia brasileira se defende de intrigas internacionais

Segundo o sócio da gestora Equus Capital, Felipe Vasconcellos, existem cinco fatores que protegem a economia brasileira em relação a outros países, de conflitos internacionais como este do Irã e Israel.

  1. Neutralidade do Brasil: “dentre as 10 maiores economias do mundo, o Brasil é o país com menor risco de participação em conflitos externos da lista.”
  2. População: Com 215 milhões de habitantes, a 7º maior população do mundo, o Brasil possui um grande mercado consumidor com renda per capita crescente e é autossuficiente em boa parte dos produtos básicos que consome, com destaque para alimentos.”
  3. Economia verde: “O Brasil hoje é o país que possui a matriz elétrica mais limpa do mundo graças às fontes hídrica, solar e eólica, sem tanta dependência de parceiros comerciais como é o caso da Europa.”
  4. Agronegócio: “O Brasil é o principal exportador global de diversas commodities agrícolas.”
  5. Juros: “O Brasil está acostumado com crises, inflação, instabilidade e a população está habituada a navegar por mares revoltos. Apesar de o país depender de melhoras no ambiente de juros dos EUA e outras economias desenvolvidas, estamos bem colocados no cenário global”.

Desta forma, como apresenta o especialista, mesmo diante de um conflito internacional, o Brasil tem algumas vantagens internas quando se trata do conflito em Israel e outras crises geopolíticas.

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Camila Paim

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