Como Shein, Shopee e AliExpress viraram um fenômeno no Brasil; entenda em cinco pontos

As notícias em torno da taxação da Shein, Shopee e AliExpress deixaram os consumidores em pânico. Esse temor dos clientes é um dos termômetros de que as varejistas asiáticas tornaram-se um fenômeno no Brasil nos últimos anos. Mas como isso aconteceu? E como isso pode mudar durante o governo Lula? O Suno Notícias explica!

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Segundo um relatório do Itaú BBA, apenas a Shein já domina 27% do e-commerce de roupas e calçados no Brasil e 5% de todo o varejo de vestuário no País. Em 2022, a empresa vendeu quase R$ 8 bilhões no Brasil e quadruplicou de tamanho.

Um dos diferenciais dessas empresas do varejo é que elas apostam no e-commerce cross-border – quando um consumidor compra um produto oferecido por um lojista do exterior.

Apenas em 2022, os brasileiros gastaram mais de R$ 50 bilhões em mercadorias internacionais, especialmente da China e do Vietnã. De acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o volume representa 20% de todo o comércio eletrônico brasileiro.

Enquanto essas empresas ganham espaço, varejistas nacionais argumentam que as asiáticas usam brechas tributárias para vender no Brasil, o que configura, dizem eles, concorrência desleal.

Essa pressão fez efeito e o governo Lula anunciou que acabaria com a isenção de imposto para remessas internacionais de até US$ 50 entre pessoas físicas. Mas o Executivo acabou recuando quando viu a forte reação negativa dos consumidores.

Veja cinco pontos que explicam o fenômeno da Shein, Shopee e AliExpress no Brasil:

Quais são as varejistas asiáticas do momento?

Uma das estrelas deste fenômeno é a chinesa Shein. De acordo com os números do Itaú BBA, de todos os internautas brasileiros que usam diariamente aplicativos de lojas de vestuário, 74% deles acessam o aplicativo da Shein. Em 2021, esse foi o app mais baixado no mercado de moda no Brasil, com mais de 23 milhões de downloads, número superior ao registrado pelas Lojas Renner (LREN3) e Riachuelo (GUAR3).

A Shein virou sinônimo de “bom, bonito e barato” nas redes sociais, pois a empresa segue o conceito de fast-fashion ao extremo: costuma oferecer com muita regularidade peças a preços baixos e novas coleções. O consumismo acaba sendo incentivado também pelas diversas recompensas pela fidelidade do cliente – compras geram descontos que incentivam mais e mais compras.

No ano passado, a chinesa inaugurou uma loja temporária no Rio de Janeiro e outra em São Paulo. Cada uma recebeu mais de 5,5 mil visitantes. Em São Paulo, as filas tomaram as escadas rolantes do Shopping Vila Olímpia e geraram mais de cinco horas de espera, com direito até a briga entre clientes.

A Shopee, por outro lado, é uma plataforma de comércio eletrônico com sede em Singapura que opera em vários países do sudeste asiático e também no Brasil. O aplicativo da Shopee se tornou o mais baixado do Brasil entre as varejistas, e ele bate de frente com empresas locais como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (VIIA3).

A Shopee também tem investido em fortalecer sua marca localmente, com a contratação de famosos como Xuxa e a dupla Barões da Pisadinha para estrelarem campanhas publicitárias. Além disso, também emprega mais de mil pessoas em suas sedes locais.

Outro destaque é o AliExpress, site de compras do gigante chinês Alibaba (BABA34), que recentemente fortaleceu sua operação local tendo deslocado funcionários de outros países, como Turquia, para estruturar os negócios no Brasil. Além de faturar com as vendas dos produtos dos lojistas ligados a sua plataforma, o Ali vende anúncios dentro da sua ferramenta de busca, o que aproxima a empresa do modelo de negócios de gigantes como o Google.

Essas varejistas permitem que vendedores independentes também vendam seus produtos diretamente aos consumidores.

Qual o tamanho das asiáticas no varejo online brasileiro?

Em 2020, a pandemia de Covid-19 teve um impacto significativo no comércio online. Por causa das restrições do isolamento social, muitos consumidores foram forçados a fazer compras pela internet. Um estudo da gestora Canuma Capital mostrou que as vendas online atingiram R$ 260 bilhões em 2021, um avanço de R$ 160 bilhões em relação ao registrado em 2019, antes da pandemia.

Nesse intervalo, as varejistas asiáticas entraram forte no mercado brasileiro. Na fase mais intensa da pandemia, com aglomerações proibidas e estabelecimentos fechados, as compras tiveram de ser feitas pela internet e os prazos de entrega poderiam ser maiores. Essas empresas se destacaram pelos preços baixos, variedade de produtos e tendências, frete grátis e uma entrega não tão demorada na comparação com as lojas locais.

Com a popularidade aumentando, essas companhias investiram em logística, mídia e estabeleceram parcerias com transportadoras e empresas no Brasil para garantir a entrega dos produtos com rapidez e eficiência. O que antigamente levava mais de um mês, passou a ser entregue em questão de dias depois que algumas dessas empresas foram atrás de galpões logísticos perto de grandes centros consumidores.

Essas empresas vendem roupas, acessórios, eletrônicos, brinquedos, artigos de decoração e alguns produtos que os consumidores nem sabiam que existiam. Isso atraiu clientes que buscam produtos que não são facilmente encontrados em lojas físicas no Brasil e por um preço em conta.

Na ascensão do e-commerce nos últimos três anos, o faturamento de sites do exterior disparou: eles tiveram uma alta de 60% em 2022. Essas lojas online já representavam 17% do faturamento do comércio eletrônico brasileiro em 2021. Ou seja, quase uma a cada cinco compras feitas pela internet vieram de fora do Brasil.

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Como as varejistas asiáticas ficaram tão populares?

Ricardo Pastore, coordenador do núcleo de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), diz que existem três pontos centrais na preferência dos brasileiros pelas varejistas asiáticas:

  • preços vantajosos;
  • experiência de compra;
  • e o acesso a novos produtos.

Pastore destaca que a experiência de comprar um produto de fora é algo que também desperta o interesse. E o acesso a novos produtos é o que provoca essa sensação. Segundo o especialista, o Brasil sempre foi uma economia fechada. Há portanto uma carência por produtos e, consequentemente, uma supervalorização dessa experiência.

Juntando a facilidade para comprar online e o estímulo dos próprios aplicativos para fidelizar o consumidor, quem compra um produto de fora aqui no Brasil conclui que “dá para esperar chegar”, ou seja, vale mais a pena pagar barato e tentar controlar a ansiedade do que investir mais dinheiro para comprar aquele produto em um shopping.

A Shein também sabe que uma das melhores maneiras de vender o seu negócio é por meio de seus contatos. A plataforma investe pesado em influenciadores digitais, que se tornam afiliados e também contam com uma série de vantagens para seus seguidores.

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Como as operações dessas varejistas no país podem ser impactadas pelo governo?

Analistas acreditam que o atual crescimento expressivo dessas lojas se tornará mais desafiador com a implementação de regras fiscais mais rígidas no Brasil. E isso pode comprometer a vantagem dos preços baratinhos.

O governo chegou a anunciar que acabaria com a isenção de impostos para compras internacionais de até US$ 50 feitas entre pessoas físicas, calculando um aumento de arrecadação de R$ 8 bilhões por ano. Com a medida, todas as compras passariam a ser taxadas em pelo menos 60%, incluindo o frete. Juntando com possíveis impostos estaduais, especialistas disseram que os preços das mercadorias vindas de fora poderiam dobrar.

Após o anúncio, a repercussão nas redes sociais foi extremamente negativa e, por isso, o governo recuou da iniciativa e decidiu apenas reforçar a fiscalização. Contudo, nunca existiu isenção de US$ 50 para compras online do exterior. A isenção se aplica para encomendas entre pessoas físicas, e não entre pessoas jurídicas e pessoas físicas.

A estimativa de representantes do setor é de que o governo deixe de arrecadar até R$ 14 bilhões por ano com essa brecha. E, com o aumento das vendas, o valor só tende a crescer.

Questionadas pela reportagem, a Shopee e o AliExpress afirmaram que atuam “conforme as regras e os regulamentos estipulados pela lei brasileira”.

A Shopee afirmou que, mesmo com o recuo do governo na mudança da tributação, “continuará seguindo as leis e regulamentos locais e exigirá que os vendedores da plataforma também os cumpram”.

O AliExpress comunicou que continuará “disponível e colaborativo com o Governo e a Receita Federal do Brasil para trabalhar na melhor solução”.

A Shein não retornou até o fechamento da reportagem.

Por que as varejistas brasileiras estão ficando para trás?

Os especialistas ouvidos pela reportagem argumentam que existe uma cultura digital enraizada em lojas como Shein e Shopee, como se elas fizessem parte da essência da internet, o que não ocorre de forma tão eficiente nas varejistas nacionais.

Além disso, há um público local que simplesmente prefere não comprar de varejistas estrangeiras como a Shein, o que pode ser explorado com novas estratégias de marketing.

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Beatriz Boyadjian

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