Rafael Moreira

O perigo da fixação no CDI como referência de rentabilidade

Embora o CDI seja importante, não deve ser a única métrica a guiar suas decisões financeiras ao longo do caminho.

Uma preocupação muito comum para os investidores é se sua carteira de
investimentos está batendo ou perdendo para algum grande índice de mercado, como
por exemplo, Ibovespa, IFIX ou CDI.

Neste artigo quero focar no CDI, dado que é um índice em alta nos últimos anos e
muito comentado também. Acredito que a grande maioria dos investidores olham para
ele visando comparar e balizar o retorno de sua carteira. E isso é perigoso.
O CDI embora seja importante, não deve ser a única métrica a guiar suas decisões
financeiras ao longo do caminho, pois um foco exagerado nele pode obscurecer
oportunidades e esconder riscos.

Por isso, quero elencar os principais pontos que tornam o CDI, uma métrica perigosa e
errônea para balizar a rentabilidade de carteiras e decisões de investimentos:

  1. É um indicador de renda fixa de curto prazo: O CDI espelha as taxas de
    empréstimo de curtíssimo prazo entre bancos, influenciado diretamente pelas
    alterações na Taxa Selic. Como as decisões sobre a Selic ocorrem a cada 45 dias e
    são tomadas por terceiros – o presidente e os diretores do Banco Central – o retorno
    do CDI se torna imprevisível e dependente de fatores externos. Consequentemente,
    depositar toda a expectativa de rentabilidade no CDI pode não apresentar o melhor
    resultado possível, especialmente considerando diferentes cenários econômicos e
    horizontes de investimento mais amplos.
  2. Não serve como guia para uma carteira diversificada: É importante entender que
    o CDI é um termômetro útil para investimentos de renda fixa, especialmente aqueles
    com foco no curto prazo. Contudo, ao avaliarmos uma carteira que combina ações,
    fundos multimercado, fundos imobiliários, ativos internacionais e outras classes, o CDI
    simplesmente não oferece uma comparação válida. Cada tipo de investimento dentro
    dessa estratégia tem seus próprios objetivos e prazos para entregar uma rentabilidade
    significativa, que geralmente se manifesta em horizontes maiores e de maneiras
    distintas. É justamente essa combinação estratégica, com cada peça trabalhando em
    seu ritmo e potencial, que tem o verdadeiro poder de acelerar a conquista dos seus
    objetivos financeiros.

Veja este exemplo:

evolução de ativos
Evolução de ativos

O gráfico mostra o desempenho de um fundo de investimento em ações chamado
“REAL INVESTOR FIC FIA BOR NIVEL I” (linha verde) com o CDI (linha azul), desde
janeiro de 2014 até janeiro de 2020.

Podemos observar que, no curto prazo, os resultados foram menos favoráveis para o
fundo em ações (linha verde), porém, quando consideramos um horizonte de tempo
maior, investimentos em ações tendem a ser mais rentáveis e vencedores.

  1. Não considera a inflação: O CDI é uma taxa nominal, ou seja, não desconta a
    inflação. O objetivo final de um investimento é preservar e aumentar seu poder de
    compra, algo que o CDI sozinho não garante. Olhando apenas pelo lado nominal o CDI
    nominal pode parecer atraente, mas o que realmente importa para o seu bolso é o
    retorno real. Se a inflação estiver alta, mesmo que o CDI tenha um bom desempenho
    nominal, seu ganho real pode ser muito pequeno ou até negativo, significando que seu
    dinheiro está perdendo poder de compra ao longo do tempo. Olhar apenas para o CDI
    nominal pode te dar uma falsa sensação de ganho.

Veja abaixo esse gráfico:

retornos acumulados do CDI
Retornos acumulados do CDI
  • O CDI nominal teve um crescimento significativo ao longo do período.
  • Ao descontar a inflação, o ganho real do CDI é consideravelmente menor que o
    nominal, mas ainda positivo.
  • Quando o retorno do CDI é convertido para dólares, o ganho acumulado é bem
    pequeno, refletindo as variações cambiais e, em alguns momentos, a desvalorização
    do real frente ao dólar.

Em resumo, o CDI é uma referência útil para entender o custo do dinheiro e a
rentabilidade de alguns investimentos de renda fixa, mas não oferece uma visão
completa e individualizada do desempenho e da adequação dos seus
investimentos. Uma análise completa deve considerar o retorno real, o risco, a
liquidez, o horizonte de investimento, os objetivos financeiros, os benchmarks
adequados, os custos e a diversificação da carteira. Se você precisa de ajuda para
montar ou ajustar seus investimentos, conte com a consultoria da Suno.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Rafael Moreira

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