Marcos Figueiredo

Seu filho sabe lidar com a inflação?

Os adolescentes de hoje não conviveram com constantes altas de preços: saiba como explicar o que é viver em um país com inflação

Se você tem filhos pré-adolescentes ou adolescentes, provavelmente tem a memória do tempo em que a inflação era um dos principais problemas do Brasil. Lembro que meus pais recebiam o salário e corriam ao mercado para fazer as compras de mês, antes que a alta dos preços corroesse seu poder de compra. Com a estabilidade econômica trazida pelo Plano Real, em 1994, as famílias brasileiras aprenderam a planejar sua vida financeira, o que antes era praticamente impossível.

Os jovens de 2021 já nasceram em um país com a inflação controlada e não estão acostumados a acompanhar as oscilações de preços no dia a dia. Ao mesmo tempo, eles têm muito mais autonomia para fazer seus próprios gastos, em comparação às gerações anteriores. Essa realidade pode se tornar um problema neste momento: as previsões apontam uma alta crescente dos índices de inflação, com a possibilidade de que este cenário se mantenha pelos próximos meses e até mesmo em 2022.

Por isso, é importante conversar com os adolescentes sobre como é viver em um ambiente inflacionário. Pensando nisso, preparei algumas dicas que podem ajudá-los a cuidar do dinheiro nesse cenário de incertezas.

1) Explique o que é inflação
Pode parecer óbvio para nós adultos, mas muitos adolescentes não sabem o que é essa tal de inflação, pois nas últimas décadas ela foi mantida sob controle. Inflação é quando os preços de produtos e serviços praticados em uma economia sobem, em média, de forma constante. Agora, cada vez que compramos alguma coisa, a gente percebe: os preços estão subindo.

O problema é que dificilmente a nossa renda aumenta no mesmo ritmo que os preços. Isso faz com que as pessoas percam poder de compra. Ou seja, elas não conseguem comprar as mesmas coisas com o mesmo salário — ou a mesma mesada. Isso significa que quanto mais a inflação sobe, mais importante é fazer escolhas e priorizar os gastos. Por isso, em um ambiente inflacionário é fundamental não perder de vista a necessidade de acompanhar preços e planejar gastos.

2) Diferencie os tipos de gastos
Em um cenário inflacionário, fazer escolhas na hora de consumir é ainda mais necessário. Para tornar essa tarefa um pouco mais fácil, você pode explicar para seu filho ou filha os tipos de gastos, separando em três tipos: essenciais, necessários e supérfluos.

Para entender o que isso significa na prática, imagine um adolescente que precisa fazer uma refeição na escola uma vez na semana, quando tem aulas no contraturno. Um sanduíche caprichado feito em casa, portanto, seria considerado um gasto essencial. Se a refeição fosse feita em um self-service ou na cantina da escola, diríamos que seria um gasto necessário — aquele que pode ser reavaliado em caso de redução da renda. E se a refeição fosse feita naquele restaurante japonês bacana, classificaremos este gasto como supérfluo.

Dependendo de como cada família estrutura sua rotina, podem haver diferenças na forma como esses gastos são classificados. Os adolescentes que usam transportes coletivos podem ter as despesas da passagem como essenciais. Já o deslocamento com carros de aplicativos pode ser visto como necessário ou supérfluo, conforme cada caso. Um dos principais desejos de consumo dos mais jovens, os games, está na categoria dos supérfluos e deve ser reavaliado quando é preciso cortar despesas.

3) Acompanhem juntos os preços das coisas que mais consomem
A gente costuma ver no noticiário os índices oficiais de inflação, mas é comum esquecermos que esses números são médias de preços. Por isso, vale a pena conversar com os adolescentes da sua família para avaliarem juntos quais despesas sofreram as maiores altas. Compare o gasto no último mês com determinado tipo de despesa com o realizado três meses atrás.

Outro ponto importante a ser observado é que nem sempre a inflação aparece em forma de aumento de preços. Um pacote de bolachas pode continuar custando os mesmos R$ 2,50, mas ter a quantidade reduzida de 200 g para 180 g, por exemplo. Na prática, o consumidor está pagando mais pelo produto, embora o desembolso seja o mesmo.

Isso vai ajudá-los a perceber o impacto da inflação, que é um conceito abstrato, no dia a dia deles.

4) Estabeleça uma mesada adequada ao orçamento da família
Uma das funções de quem educa é impor limites a crianças e jovens. Isso vale para tudo, inclusive para a educação financeira. Por isso, combine um valor semanal para ser usado naquele período. Se os gastos não couberem naquele orçamento, será preciso cortar despesas.

Segundo os maiores especialistas no tema, a mesada é o melhor instrumento para educar financeiramente crianças e adolescentes. Isso porque ela cria uma situação didática de aprendizado na prática. Ou seja, ao dar a mesada você incentiva os mais jovens a lidar com os limites de um orçamento no dia a dia. Comece com um valor baixo, pago semanalmente. Calcule as despesas mais comuns e dê orientações de como o dinheiro deve ser usado. Provavelmente haverá altos e baixos, mas é esta a melhor forma de aprender: entendendo os próprios erros e acertos.

Em resumo

A inflação pode parecer um “bicho estranho” para os mais jovens. Afinal, eles nunca viveram a experiência de variações de preços dentro do mesmo mês. Por isso, diante das previsões dos economistas para os próximos meses, é importante conversar com os adolescentes sobre o que pode ser feito para não estourar o orçamento da família.

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Nota

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