Lucas Ramiro

Conflitos de interesse no mundo dos investimentos

Conhecendo os conflitos, fica mais fácil identificar instituições e profissionais que buscam um relacionamento saudável com clientes

Os investidores não têm outra escolha senão lidar com o mercado financeiro. No entanto, é lamentável perceber que muitos investidores não recebem a assistência necessária em suas negociações, o que os faz perder chances de se beneficiar completamente. Adquirir um entendimento mais profundo de como a indústria de investimentos funciona é fundamental para aumentar seus lucros e principalmente reduzir seus custos.

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O problema é que o que é bom para essas instituições não é necessariamente bom para os investidores e vice-versa. Há três atividades principais: negociação, banco de investimento e banco comercial. Como negociadores, os agentes do mercado ganham uma comissão (ou spread comercial) por reunir compradores e vendedores. Bancos de Investimento organizam a compra e venda de empresas inteiras por terceiros, subscrevem novos títulos e fornecem aconselhamento financeiro. Bancos comerciais têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, às pessoas físicas e terceiros em geral.

As instituições financeiras desempenham funções importantes para a nossa economia: captam investimentos para empresas em expansão e fornecem liquidez aos mercados. No entanto, não é difícil observar conflitos de interesses e orientação de curto prazo. Os investidores não precisam condenar os agentes do mercado por isto, desde que permaneçam conscientes disso e ajam com ceticismo e cautela em suas negociações.

Um dos principais conflitos de interesse consiste na remuneração tradicional, que se dá na forma de taxas e comissões. As comissões de corretagem são cobradas em cada negociação, independentemente do resultado para o investidor. As taxas bancárias de investimento e de subscrição também são cobradas antecipadamente, muito antes de o sucesso ou fracasso final da transação ser conhecido.

Obviamente não há nada de errado em prestar um serviço e cobrar uma taxa. Médicos, advogados, contadores e outros profissionais são remunerados dessa forma; a sua remuneração não depende do resultado final dos seus serviços. O que quero dizer é que os investidores devem estar conscientes das motivações das pessoas com quem fazem negócios; as taxas e comissões criam claramente uma tendência para transações frequentes e não necessariamente lucrativas.

É comum que embora muitas vezes seja melhor para os investidores possuir títulos do Tesouro ou ETFs (baixo custo), os corretores são financeiramente motivados para vender produtos com comissões altas

Os corretores também têm um incentivo para realizar negociações excessivas de curto prazo e favorecer subscrições em detrimento de transações no mercado secundário, pois quanto mais transações e maiores as taxas, melhor.

Há também o bizarro caso dos fundos de ações monoativo. Você pode investir diretamente em uma ação qualquer, pagando apenas a taxa de corretagem (atualmente existem corretoras que isentam a cobrança) ou ter a exposição a essa mesma ação investindo em fundo que possui apenas esta ação em carteira, mas que cobra do investidor uma taxa administrativa (muitas vezes mais alta que fundos ativamente geridos, que ao menos demandam trabalho dos seus gestores, o que pode justificar em partes o custo). Parece óbvio que a primeira opção é muito melhor, mas ao observarmos os bilhões ainda sob gestão em fundos monoativo, fica claro que muitos investidores ainda não tomaram esse conhecimento, afinal as empresas não obrigam os clientes a comprarem esses produtos.

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Algumas empresas ou corretores mais perspicazes podem alertar seus clientes sobre essa desvantagem instruindo-os a migrar seus recursos para exposições mais inteligentes, não necessariamente por altruísmo, mas certamente para conquistar a fidelidade do cliente evitando que no futuro se decepcione ao tomar conhecimento dessa armadilha, evitando o desgaste ou quebra da relação.

Ao atuarem como banqueiros de investimento e também como corretores, as empresas criam os seus próprios produtos para vender. A subscrição de ações ou títulos gera altas taxas para um banco de investimento. Estes são compartilhados com corretores que vendem os títulos subscritos aos clientes. A comissão mais elevada sobre novas subscrições proporciona um forte incentivo aos corretores para vendê-las aos clientes

Em contrapartida, as comissões recebidas pelos corretores em transações no mercado secundário, que envolvem a revenda de títulos de um investidor para outro, são muito menores.

Durante o Bull Market os investidores devem redobrar sua atenção, são concluídas muitas mais subscrições em mercados de alta do que em mercados de baixa. Da mesma forma, os corretores fazem mais negócios e têm clientes mais satisfeitos num mercado em ascensão. Mesmo os títulos mantidos em estoque para facilitar a negociação tendem a aumentar de preço durante os mercados em alta. Quando um analista ou corretor expressa otimismo, os investidores devem encarar isso com cautela.

As inovações no mercado financeiro tendem a ser boas para as instituições, mas más para os clientes. Novos produtos constantemente são criados. Ocasionalmente, essas ofertas resolvem os problemas financeiros dos emitentes e satisfazem as necessidades dos investidores. Na maioria dos casos, porém, atendem apenas às necessidades da indústria, ou seja, à geração de taxas e comissões. Os intermediários financeiros, banqueiros de investimento e investidores institucionais são os que mais se beneficiam das inovações nos mercados financeiros ganhando taxas e comissões sem risco.

Para isso, tanto os compradores como os vendedores devem acreditar que serão beneficiados no curto prazo, ou a inovação não sairá do papel, as consequências a longo prazo de tais inovações, contudo, podem não ter sido consideradas cuidadosamente.

O Mercado Financeiro pode ser hostil aos investidores. Você não tem escolha a não ser fazer negócios lá, mas deve estar sempre alerta. O comportamento padrão de qualquer empresa é perseguir a maximização do interesse próprio; a orientação geralmente é de curto prazo. Isso deve ser reconhecido, aceito e tratado. Há inúmeros outros conflitos que não foram citados, o importante é adquirir a malícia e o senso crítico. Se você fizer negócios tendo essas advertências em mente, poderá prosperar.

O tom mais duro desta mensagem é apenas para mostrar ao investidor a necessidade de obter um mínimo conhecimento sobre a dinâmica do mercado e os incentivos para seus agentes.

Conhecendo os conflitos, fica mais fácil também identificar as instituições e profissionais que buscam um relacionamento mais saudável e duradouro com seus clientes.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Lucas Ramiro
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