Lucas Pedrosa

O Brasil não caminha para a estagflação: por que podemos ser mais otimistas

A estagflação tão aguardada, que coloca medo em todos, provavelmente não ocorrerá

O brasileiro está sendo bombardeado todos os dias com reportagens de grandes redes de comunicação e artigos de formadores de opinião do mercado sobre a “inescapável estagflação” – a ideia de que o Brasil irá vivenciar um período de baixo crescimento econômico aliado a altas taxas de inflação no próximo ano.

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Isso por conta da política de aumento da taxa Selic pelo Banco Central, aliada à baixa oferta e posterior expansão do consumo esperada ao fim da pandemia.

Entretanto, estas expectativas talvez estejam sendo superdimensionadas e a estagflação tão aguardada, que coloca medo em todos, provavelmente não ocorrerá. Recordo-me que logo no começo da pandemia do coronavírus, eu falava para os mais chegados sobre a inflação. Dizia que seria de dois dígitos e que chegaria ao Brasil e aos países que fecharam o comércio.

Afinal, estava acontecendo uma supressão gigantesca de oferta, com o fechamento de todos os serviços não essenciais, assim como também, a população perdeu renda e ao mesmo tempo
elevou consubstancialmente sua taxa de poupança.

Estes fatores, em um primeiro momento, fariam com que houvesse pandemia e ao mesmo tempo não existisse inflação. Todavia, com a reabertura do comércio, a expectativa da vida voltando ao normal e o aumento da confiança do consumidor, a economia se reaqueceria rapidamente, enquanto a oferta de bens e serviços levaria um tempo maior para se recompor.

Afinal, é muito fácil fazer uma determinada atividade produtiva parar, mas fazê-la voltar a funcionar como antes, depois de muito tempo operando bem abaixo do seu nível normal, é uma tarefa hercúlea. Assim, haveria no médio prazo uma inflação que eu acreditava à época que chegaria a dois dígitos – pouco mais de 10%.

Essa análise era bem trivial. Para testar sua validade empírica, bastaria observar o que ocorreu com a economia mundial nas duas Guerras Mundiais.

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Durante os conflitos, assim como ocorreu com a pandemia, a produção de bens e serviços não essenciais foi suprimida, fazendo com que os esforços produtivos se direcionassem para as
necessidades da guerra. Com a guerra, a população, que não tinha certeza sobre seu futuro, decidiu elevar a sua poupança e isso contribuiu para que não houvesse inflação significante durante o conflito.

Contudo, ao fim das guerras, a taxa de consumo voltou aos patamares normais, enquanto a produção de bens e serviços levou algum tempo para “pegar no tranco”. Isso causou inflações de dois dígitos à época para a maioria dos países afetados pelos conflitos.

Atualmente, o medo de estagflação voltou a assombrar o brasileiro – a ideia de que vai haver um crescimento menor da economia e uma inflação maior. Todavia, creio que essa análise está sendo por demais pessimista.

O principal ponto de acreditação no baixo crescimento para o ano que vem é o nível da taxa Selic. A taxa serve para controlar a inflação. Então, em uma situação de enfraquecimento da inflação, essa taxa voltaria a baixos níveis e um dos grandes fatores que barraria o crescimento seria derrocado. Daí, ao mesmo tempo, se teria uma situação de bom crescimento aliado a uma baixa inflação.

Sendo assim, o ponto de debate nosso aqui é um: a inflação será controlada ou não nos próximos meses?

Apesar de muitos responderem “não”, irei em linha contrária. Acredito que a inflação ficará mais controlada nos próximos meses e isso garantirá um crescimento moderado e uma inflação  reduzida.

Um dos motivos em que embaso essa crença é o fato dos setores de alimentação, bebidas e transportes terem quase 40% de peso no cálculo do IPCA. Além de que, alimentação e transporte são insumos básicos de qualquer cadeia produtiva. Desta forma, o encarecimento desses insumos tem influência em provocar uma “inflação de rebote” nos demais setores.

O consumo de itens do setor de alimentação e bebidas se manteve relativamente constante desde o começo da pandemia, devido a sua inelasticidade no que diz respeito à renda e aos preços – quando a renda ou os preços dos alimentos mudam, ainda assim a sua demanda muda pouco. O setor de transportes, entretanto, tendeu ao aumento conforme se foi saindo da pandemia, afinal, ocorreram mais viagens.

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Todavia, o aumento de consumo no setor não é expressivo o suficiente para justificar o aumento elevado do preço. Além do mais, o setor de transporte também é um insumo da cadeia de produção de alimentos e bebidas, assim, o aumento de um provoca uma inflação de rebote no outro.

A inflação no setor alimentício, que acarreta forte pressão na inflação nacional medida, em partes, se deve ao aumento do dólar, isto é, com a desvalorização do real, a exportação de alimentos e bebidas aumenta, fazendo com que a oferta interna desse bens seja menor, elevando o preço.

Para os combustíveis, o aumento está relacionado ao dólar. Se o dólar aumenta, o custo da importação de combustíveis para uso nos transportes também aumenta, alimentando a inflação.

Todavia, a desvalorização do real frente ao dólar pode ter chegado ao fim. Diante de toda a turbulência que se vive, as expectativas para as reformas e a eleição do ano que vem, o câmbio já resta precificado pelo mercado. Afinal, o câmbio esperado para o fim do ano que vêm está em linha com a nossa taxa atual.

Assim, diante dessa situação, a grande aposta no retorno de uma inflação ano que vem seria um cenário eleitoral imensamente instável, coisa que o mercado já resta precificado e não precisamos nos preocupar.

Desta forma, podemos dizer que não vamos ter num futuro próximo, aumento expressivo do dólar, o que acabará segurando o recrudescimento inflacionário de então. Isto, aliado ao recente aumento das taxas de juros pelo Banco Central, tendem a segurar a inflação.

Além do mais, outro argumento dos que apostam na estagflação é o fato de que no retorno completo ao normal, com o fim da pandemia, o consumo aumentará expressivamente e a oferta não corresponderá em aumento. Todavia, essa é uma análise que precisa de maior aprofundamento.

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Com o fim da pandemia, o setor de alimentação e bebidas tende a continuar na mesma toada, devido a sua inelasticidade. Para o setor de transportes, muitos acreditam num aumento da demanda, contudo, vale lembrar que as mudanças no sentido de home office e reuniões de negócios por videoconferências são coisas que muito provavelmente vieram pra ficar.

Assim, as viagens a negócio ou transporte para o trabalho tendem a continuar aproximadamente com a mesma demanda da atualidade, o que não sobrecarregaria o setor. Todavia, de fato, a tendência do uso dos transportes para o turismo de lazer pode aumentar.

Nessa situação, haveria mais uso da capacidade hoje ociosa no transporte aéreo, assim como mais utilização da ociosidade do setor hoteleiro, não precisando necessariamente um aumento de oferta para suprir o aumento de demanda.

Além do mais, o grande carro-chefe da retomada da economia pós-pandêmica é o setor de shows e eventos. O setor hoje resta praticamente ocioso, entretanto, terá sua capacidade utilizada no seu retorno. Assim, parte da renda que estava em poupança ou estava sendo destinada para outros setores, será direcionada para um setor que está, no momento, com ociosidade.

Ademais, o retorno do turismo de lazer e do setores de shows e eventos poderá contribuir significantemente para o crescimento do PIB brasileiro no ano que vem.

Desta forma, muito provavelmente a inflação será de fato alta somente neste ano, entretanto, no ano que vem, ela tenderá à voltar para dentro da meta. Da forma semelhante, o PIB tenderá a ter um crescimento ano que vem, embora ainda pequeno.

Claramente, gostaríamos de poder esperar mais, no entanto, um crescimento mais robusto da economia brasileira só vira após realizadas as grandes reformas institucionais e econômicas.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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