Lucas Devito

O prêmio do desconforto

Lembre-se que a “carteira ideal” para você não é a que mais subiu no último mês, mas aquela que vai fazer você alcançar seus objetivos de longo prazo.

Logo que nos interessamos pelo assunto “Investimentos”, a primeira frase que nos deparamos é: monte uma carteira adequada para o seu perfil e sinta-se confortável para o longo prazo!

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Essa é uma premissa básica que eu gostaria de concordar – porém, na prática isso não acontece na maioria das vezes. Não pelo fato de que a carteira não esteja adequada para o perfil, mas pela parte que cita seu conforto em relação aos investimentos.

Disclaimer: Se você entende que não tem perfil para renda variável e sua carteira está alocada 100% em títulos pós-fixados, tudo bem, você está isento nessa discussão. Para os demais, vale a reflexão que vou trazer.

Explico: Em uma pesquisa recente (14/08/23) da XP Investimentos com seus Assessores, observamos o comportamento dos clientes em relação à Renda Variável:

Note que, desde o início do ano, o ímpeto dos clientes por alocação em Renda Variável se manteve baixíssimo, chegando a míseros 9% dos clientes pensando em comprar mais ativos da bolsa brasileira.

“Fenômeno” explicado pela performance do Ibovespa, que foi deplorável até final de abril, conforme imagem abaixo.

Contudo, com a alta da bolsa brasileira a partir de maio, os anseios dos clientes mudaram totalmente. Repentinamente, mas não surpreendente, em junho, os investidores mostraram um enorme apetite para alocação em Renda Variável.

Em outro gráfico, reforçamos a mesma visão de que os investidores estão mais propensos a alocar em ativos de risco (Fundos imobiliários e Fundos de Ações) e menos interessados nos títulos de Renda Fixa, seja via Fundos ou Tesouro. Isso mesmo antes de qualquer sinalização de queda da taxa de juros.

Essa correlação indica que, para nos sentirmos confortáveis com nossos investimentos, queremos sempre estar investidos na classe que está performando melhor nos últimos meses.

Porém, essa estratégia não é a vencedora e com certeza esse comportamento não vai gerar resultados acima da média. Por motivos óbvios, pois você estará copiando exatamente o que a média está fazendo e, além disso, estará sempre “chegando atrasado” e comprando mais caro do que se tivesse vencido seu desconforto e comprado nos meses anteriores.

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Se você quiser sempre seguir a manada, até vai poder ter uma conversa mais prazerosa com seus amigos, dizendo que está investindo nos ativos que mais subiram e que você está com uma performance invejável no último mês. Mas o destino cobra, e vai chegar a hora em que você vai descobrir que fugiu totalmente da sua estratégia, que desbalanceou seu portfólio, que comprou diversos ativos sem saber o real motivo de estar investindo neles, e aí provavelmente será tarde para retomar a rota correta, pois provavelmente você já terá perdido dinheiro pela ilusão do seu conforto psicológico.

Lembre-se que a “carteira ideal” para você não é a que mais subiu no último mês, mas aquela que vai fazer você alcançar seus objetivos de longo prazo. Aquela que seu estômago consegue tolerar o nível de volatilidade. Aquela que vai te manter no jogo por décadas.

Por isso, retomo o parágrafo inicial, com a frase ‘Monte uma carteira adequada para o seu perfil e sinta-se confortável para o longo prazo!’ e digo: tenha cuidado com essa ilusão, pois na sua jornada de investidor, você provavelmente irá ficar muito mais desconfortável com sua carteira, do que “feliz da vida” por estar acertando tudo, e isso quer dizer que você está no caminho certo.

Com o passar do tempo, vivenciando diversos ciclos de mercado e experimentando diferentes sensações, você vai conseguir descobrir a estratégia que realmente funciona pra você e assim ter a confiança em seguir desconfortável por diversos momentos!

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Nota

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Lucas Devito

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