Juan Macedo

Desvendando o mistério: o enigma do prêmio das ações

Você já se perguntou por que os investidores exigem retornos maiores ao investir em ações, em comparação com investimentos ditos mais seguros?

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Algumas respostas óbvias incluem, risco de volatilidade, risco de perda permanente de capital ou talvez maior risco total de mercado nas ações. Porém, no conhecido estudo de Jeremy Siegel, que abrange mais de 200 anos, fica claro que as ações apresentam consistentemente um grande prêmio sobre a renda fixa em diversos países. Esse é o intrigante “enigma do prêmio das ações”.

No mundo dos investimentos chamamos de “prêmio” um retorno adicional que os investidores podem receber ao assumir determinados riscos ou adotar estratégias específicas. No contexto deste texto, de maneira simplificada, o prêmio das ações é calculado ao subtrair o retorno total dos títulos públicos do retorno total das ações.

Nas fronteiras da economia e das finanças, o enigma do prêmio de ações nos desafia a entender por que as ações oferecem consistentemente retornos maiores do que o esperado, mesmo sendo investimentos teoricamente mais arriscados.

Em sua obra, J. Siegel argumenta que uma carteira diversificada de ações não só supera a inflação, mas também é mais segura do que títulos governamentais considerando o retorno real de longo prazo. É pouco intuitivo pensar que as ações, em contraposição aos títulos públicos de longo prazo, nunca tenham oferecido um retorno real negativo aos investidores em períodos de 17 anos ou mais. Embora possa parecer mais arriscado, acumular riqueza em ações com o objetivo de preservar o poder aquisitivo, se mostrou o investimento de longo prazo mais seguro nesse aspecto.

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Os economistas têm se debruçado sobre esse mistério há anos. A aversão a perdas e o monitoramento constante dos retornos são fatores que entram na equação de forma negativa. E se os investidores avaliassem suas escolhas apenas a cada dez anos? O prêmio das ações seria bem menor, indicando um forte efeito do emocional do investidor sobre o tamanho desse prêmio.

A negociação frenética de ações também entra em cena. Um estudo aponta que investidores que negociam com frequência obtêm retornos menores. A confiança excessiva dos investidores pode explicar esse efeito. E não para por aí: efeito manada, aversão a perdas, disponibilidade (tomada de decisão baseada em eventos mais recentes) — todos esses comportamentos influenciam o prêmio das ações.

Em uma revisão mais recente, de A. Robson e H. Orr, os autores apresentam modelos estatísticos complexos para propor que evolutivamente, o ser humano é mais avesso ao risco agregado – o risco total associado a um grande conjunto de ativos financeiros, do que ao risco idiossincrático – aquele que se origina de coisas particulares a uma empresa ou investimento específico. E isso pode ajudar a explicar o enigma do prêmio das ações pois gera anomalias na precificação destas.

No cruzamento entre finanças e psicologia humana, o enigma do prêmio das ações ainda gera muitas discussões. As finanças comportamentais iluminam o caminho, revelando como nossa mente influencia decisões de investimento e a dinâmica do mercado. Ao explorar essas dimensões psicológicas, pesquisadores e profissionais podem abrir novas portas para decifrar esse enigma e ampliar nosso entendimento dos mercados financeiros.

E nós, enquanto investidores? Que lições devemos extrair a partir da discussão sobre esse enigma?

Em primeiro lugar, o autoconhecimento desempenha um papel fundamental. Reconhecer a constante influência de nossos vieses emocionais é crucial, pois esses vieses têm o potencial de prejudicar os retornos de nosso portfólio. Portanto, é de suma importância estabelecer uma estratégia de investimento clara, fundamentada em abordagens como o método de “valuation de ativos” e a aplicação de margens de segurança.

Após a escolha do ativo que pretendemos adquirir, é altamente benéfico compartilhar nossas ideias com terceiros e promover discussões acerca dos possíveis riscos e fragilidades associados à nossa tese de investimento.

Além disso, é essencial buscar informações provenientes de fontes confiáveis, a leitura de obras literárias e artigos, como os mencionados anteriormente, também contribui para a compreensão das barreiras cognitivas que podem desviar nossa estratégia, bem como para a absorção das estratégias de investimento que resistiram ao teste do tempo, resultando nos melhores desempenhos possíveis.

Referências:

  1. Siegel, Jeremy. Investindo em ações no longo prazo, Ed. Bookman, 2015.
  2. Barber and Odean, Trading Is Hazardous to Your Wealth: The Common Stock Investment Performance of Individual Investors, Journal of Finance, (2000).
  3. A. Robson and H. Orr, Evolved attitudes to risk and the demand for equity. PNAS (2020).
  4. Bernartzi and Thaler, Myopic Loss Aversion and the Equity Premium Puzzle. Quaterly Journal of Economics (1995).

Panorama Mensal de Fundos – Agosto 2023
https://conteudos.xpi.com.br/fundos-de-investimento/relatorios/panorama-mensal-de-fundos-agosto-2023/

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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