Guilherme Puim

Como o Neymar e a Copa do Mundo afetam seus investimentos

É esperado que o Catar invista cerca de US$ 220 bilhões e já é considerada a Copa mais cara da história, superando o investimento que o Brasil fez em 2014 em mais de 14 vezes. Como toda essa atenção direcionada para só um lugar pode afetar seus investimentos?

A cada quatro anos, 32 seleções nacionais de futebol competem na Copa do Mundo. Este torneio atrai a atenção de bilhões de fãs em todo o globo.

É esperado que o Catar invista cerca de US$ 220 bilhões e já é considerada a Copa mais cara da história, superando o investimento que o Brasil fez em 2014 em mais de 14 vezes. Os investimentos se concentraram principalmente em infraestrutura como hotéis, transporte subterrâneo, estádios com climatização interna e aeroporto. A expectativa é que 4 bilhões de pessoas consigam assistir a essa Copa. Isso é mais da metade das pessoas existentes na terra.

E como toda essa atenção direcionada para só um lugar pode afetar seus investimentos?

Vou dividir o tema em 2 frentes:

1- Impactos no ambiente de Bolsa;
2- Impactos Econômicos.

E o que podemos fazer para aproveitar melhor as assimetrias geradas e nos afastar dos riscos existentes.

Como o Neymar e a Copa do Mundo afetam as bolsas de valores no mundo?

Na Copa do Mundo FIFA de 2010 na África do Sul, muitos jogos de futebol foram disputados durante os horários de negociação do mercado de ações, proporcionando que o Banco Central Europeu (BCE) pudesse analisar as flutuações na atenção dos investidores no momento dos jogos.

O BCE realizou um estudo consolidando informações sobre a negociação das principais ações nas bolsas de valores de nove países europeus, quatro países da América Latina e um país da América do Norte e África, minuto a minuto e chegaram em 3 descobertas.

1- Em dias de jogos a atividade de negociação cai acentuadamente, especialmente se a seleção nacional for uma das competidoras. Em comparação com as circunstâncias normais do mercado, o número médio de negócios cai 45% se o time nacional está jogando, enquanto o volume cai cerca de 55%.

O declínio na atividade de negociação também é acompanhado por um menor nível de atividade dos formadores de mercado. Durante os jogos da seleção nacional, o número de cotações oferecidas é cerca de 30% menor do que o contrário.

Diferenças percentuais da atividade nas bolsas globais em relação à atividade média no mesmo país, na mesma hora do dia e no mesmo dia da semana para uma amostra de controle abrangendo várias semanas antes e após a Copa do Mundo de 2010. As barras cinzas representam dados para comparação janelas de tempo e as barras pretas para janelas de tempo durante os jogos da Copa do Mundo pela seleção nacional.

Mesmo que haja uma clara heterogeneidade na magnitude desse efeito entre os países, o estudo consegue identificar uma redução em cada um deles. Atenção para como o volume de negociações no Brasil em dias de jogos da seleção diminui vertiginosamente. (barra preta).

2- Em segundo lugar, o BCE indicou como os gols marcados por qualquer equipe levou a um declínio ainda mais forte no número de negociações que chega a ser 5% maior quando a seleção nacional joga. Além disso, descobriram que a atividade do mercado já está significativamente abaixo da referência antes da partida começar, e continua a ser menor durante os 45 minutos após a partida ter terminado. Durante o intervalo, a atividade de negociação se recupera um pouco em comparação com o real tempo de jogo, mas permanece substancialmente menor do que nos dias de referência.

3- E em terceiro lugar, o BCE mostra que a formação de preços é afetada durante as partidas de futebol.
Assumindo que a formação de preços nos mercados de ações globais, em média, deve mudar apenas marginalmente. Considerando que os mercados bolsistas nacionais são mais susceptíveis de serem afetados, o BCE testou, se, e como a correlação entre os retornos do mercado de ações nacional e global mudam durante as partidas da seleção nacional. Em média, esse movimento é reduzido em um pouco mais de 20%, e é menor em mais de 40% se os retornos no mercado global forem relativamente pequenos (e portanto, menos salientes). A comparação sugere que o futebol gerou níveis relativamente altos de desatenção, o que coincidiu com atualização menos frequente dos preços das ações. Em consonância com isso, o Banco Central Europeu também encontrou um declínio significativo de cerca de 20% na dispersão dos retornos das ações individuais, o que seria esperado se os mercados precificassem apenas informações relativamente salientes (como notícias globais) e negligenciacem informações como, notícias específicas da própria ação.

O BCE conseguiu concluir por meio de um estudo amplo o que nós brasileiros já imaginávamos: O mercado de ações está mais preocupado com o gol do Neymar e com o hexa do que com notícias pertinentes às companhias no período da Copa.

Portanto evite fazer transações em dias de jogo da seleção, a probabilidade da sua ordem ficar pendurada no book de ofertas e não ser executada, ou agredir muito o preço já que não tem volume de negociação suficiente, são altas. Já que, para alguém querer comprar tem que existir a contraparte da venda. O mercado fica mais suscetível a manipulações de mercado, também.

Como a Copa do Mundo afeta a economia?

Independentemente da edição do torneio, a Copa do Mundo é um evento esportivo capaz de impactar diversas economias pelo mundo. Em geral, a maioria dos efeitos são sentidos pelo país sede – principalmente com os investimentos em infraestrutura. Mas setores como o de varejo, turismo e alimentação tendem a aumentar significativamente no período e há estudos que apontam para um crescimento adicional médio de 1,2% no PIB das cidades-sede. A análise dos resultados indica, entretanto, que o impacto positivo desses investimentos depende da capacidade de financiamento privado e das necessidades de realocação do gasto público.

Os jogos atraem ainda a atenção de bilhões de espectadores de mídias pelo mundo. Assim, empresas patrocinadoras das seleções e do torneio podem ganhar exposição e atrair novos negócios.

Uma pesquisa do banco Goldman Sachs aponta que os mercados dos países campeões tiveram uma melhora de desempenho em quase todas as ocasiões desde 1974, com um índice médio 3,5% superior ao benchmark global.

O que fazer?

Tenha uma estratégia definida: Independentemente do evento que ocorrer – e ocorrerão muitos – o investidor consciente que tem uma estratégia definida através de uma alocação de capital construída em volta do seu perfil de risco e objetivos adequados ao seu horizonte de investimento terá uma margem maior para redirecionar o portfólio através de novas compras ou vendas, se for o caso.

“Você só descobre quem está nadando pelado quando a maré é baixa”. – Warren Buffet.

Não caia em vieses: é fácil se deixar levar pelo efeito manada, andar com a manada traz sensação de segurança aos animais (e por isso o ser humano também se sente confortável o fazendo), mas, em contexto de investimentos, pode ser perigoso. Nem sempre a decisão da maioria estará certa. Continue seu plano sem distrações.

Tenha mentores no mercado: É importante que, em qualquer situação que você não domine, ter o acompanhamento de especialistas para fortalecer ou corrigir algum posicionamento que talvez você não esteja enxergando por não dominar a fundo o tema.

Buscar um mentor é o primeiro passo para iniciar bem no mercado, busque por pessoas que não tenham conflitos de interesse, que tenham resultados e que acima de tudo tenham valores e princípios parecidos com os seus.

 

Referências:
Estudo BCE sobre a Copa da África 2010
https://www.ecb.europa.eu/pub/pdf/scpwps/ecbwp1424.pdf;

Impactos econômicos dos investimentos da Copa do Mundo 2014 no Brasil
https://www.scielo.br/j/ee/a/PNxNHQMB3RJfBd5w7wqPKvk/?lang=pt#:~:text=Os%20resultados%20apontam%20para%20um,equivalente%20a%20158%20mil%20empregos.

Esta matéria foi escrita pelo time da Suno Consultoria. Para conhecer melhor este serviço da Suno, clique aqui

Nota

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