Antonio van Moorsel

Estados Unidos em recessão técnica. Será?

Pela definição clássica de manuais de economia, a contração da atividade em dois trimestres consecutivos, como ocorreu nos EUA, representaria uma recessão. No Brasil é assim. Entretanto, nos Estados Unidos a definição é mais complexa

Em julho, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou a primeira leitura do PIB referente ao segundo trimestre de 2022 da economia norte-americana. O indicador apontou a contração de 0,9% no período, em termos anualizados, e contrariou a mediana das previsões de analistas, que apontava para crescimento de 0,4%.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240-Banner-Home-4.png

Como a atividade econômica encolheu 1,6% nos três primeiros meses do ano, a maior economia do planeta apresentou dois trimestres consecutivos de retração, um critério normalmente utilizado por economistas para definir uma recessão técnica. Todavia será que os Estados Unidos estão de fato em recessão?

Pela definição clássica de manuais de economia, a contração da atividade em dois trimestres consecutivos, como ocorreu nos EUA, representaria uma recessão. No Brasil é assim. Entretanto, nos Estados Unidos a definição é mais complexa e cabe ao National Bureau of Economic Research (NBER), ou, em tradução livre, Departamento Nacional de Pesquisa Econômica, declarar oficialmente a condição.

A organização, por sua vez, realiza uma análise mais ampla, considerando um universo extenso de indicadores como, por exemplo, emprego, renda pessoal, setor de serviços e produção industrial, além da variação trimestral do PIB.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

Por esta ótica, a economia norte-americana não está em recessão, mesmo após a segunda queda consecutiva no Produto Interno Bruno. As leituras recentes dos indicadores referentes ao mercado de trabalho surpreenderam positivamente, reforçando a resiliência da demanda doméstica americana. O payroll, por exemplo, registrou a criação de 528 mil vagas no mês passado, superando a expectativa do mercado. Em paralelo, a taxa de desemprego recuou para 3,5%, retornando ao nível de fevereiro de 2020 – antes da pandemia de covid-19.

O conjunto de informações disponíveis até o momento afasta a percepção de recessão no curtíssimo prazo. Entretanto, é importante salientar o tempo verbal: não estar em recessão (no presente) é diferente de não estará em recessão (no futuro).

Caros leitores, por fim vou deixá-los com a sugestão de análise alternativa sob outra perspectiva. Considerando a complexa conjuntura macroeconômica atual, fomentada por uma sobreposição de choques – pandemia, guerra e mudança de política monetária mundo afora – a maior economia do mundo entrar em recessão com juros entre 2,25% e 2,50% pode não ser tão ruim quanto parece, apesar da manchete negativa. Se os Estados Unidos forem capazes de, com este nível de juro nominal, desaquecer a atividade e desinflacionar a economia norte-americana, é um “preço” (juro) baixo para atenuar esse ambiente demasiadamente perturbado. Ou seja, poderia ser pior.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Controle-de-Investimentos.png

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Antonio van Moorsel
Mais dos Colunistas
Piter Carvalho Começou o rali de fim de ano da Bolsa?

Será que já começou o rali de final de ano na Bolsa de Valores? Sim, e não precisou esperar dia 25 de dezembro para ele começar. Ano passado, por exemplo, ele começou ...

Piter Carvalho
Piter Carvalho Sonho de verão

O Brasil tem feito sua lição de casa e se esforçado para passar de ano, mesmo que seja com nota seis. O país conseguiu caminhar bem com o novo arcabouço fiscal que ent...

Piter Carvalho

Compartilhe sua opinião