Sócio e amigo de Warren Buffett, bilionário Charlie Munger, gênio dos investimentos, morre aos 99 anos

O bilionário Charlie Munger, braço direito do investidor Warren Buffett, morreu hoje aos 99 anos em um hospital da Califórnia. Nenhum parceiro de negócios jamais desempenhou um papel secundário melhor do que Charlie Munger. Foi amigo mais próximo e o principal conselheiro de Buffett durante seis décadas.

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Charlie Munger foi uma das mentes mais brilhantes do mercado financeiro do século 20. Ele era vice-presidente da Berkshire Hathaway (BERK34).

De acordo com um comunicado de imprensa da Berkshire Hathaway, o conglomerado foi informado por membros da família de Munger de que “ele morreu pacificamente esta manhã em um hospital da Califórnia”. Ele iria completar 100 anos no Ano Novo. Charles Thomas Munger nasceu em Omaha em 1º de janeiro de 1924.

“A Berkshire Hathaway não poderia ter chegado ao seu status atual sem a inspiração, sabedoria e participação de Charlie”, escreveu Buffett em comunicado.

O amigo e braço-direito de Buffet era reconhecido por tratar dos assuntos de forma direta. Ofereceu visões francas sobre os mercados financeiros globais, mesmo que em seus momentos mais críticos, sempre com muita sabedoria.

Em público, especialmente diante das dezenas de milhares de participantes nas reuniões anuais da Berkshire, Munger cedia espaço a Buffett, deixando o presidente da empresa monopolizar o microfone e os holofotes. Munger rotineiramente fazia a multidão rir, resmungando: “Não tenho nada a acrescentar”.

Natural de Omaha, Munger deixou a Universidade de Michigan para se tornar meteorologista do Exército durante a Segunda Guerra Mundial. Anos depois, lembra a Forbes, ele se formou em Direito em Harvard.

Conheceu Buffett em um jantar em 1959. Munger tinha 35 anos. Entrou na Berkshire Hathaway na década de 1970. Fez parte conselho da Berkshire até sua morte. Também integrou conselhos da editora de jornais Daily Journal Corp. e da varejista Costco.

Munger era “investidor pragmático e filantropo ativo”

Assim como Buffett, Munger era conhecido como um investidor pragmático e “um filantropo ativo que vivia de forma relativamente frugal e doava milhões às universidades”, diz a Forbes.

Como lembra reportagem da CNBC, Munger, que usava óculos grossos, perdeu o olho esquerdo após complicações de uma cirurgia de catarata em 1980.

O investidor foi presidente e CEO da Wesco Financial de 1984 a 2011, quando a Berkshire de Buffett comprou as ações restantes da empresa de seguros e investimentos com sede em Pasadena, Califórnia.

Buffett diz que Munger foi responsável por aperfeiçoar sua estratégia de investimento, passando a favorecer empresas em dificuldades, valendo preços baixos, para obter lucro, e se concentrar em empresas de maior qualidade, mas subvalorizadas, conta a CNBC.

Em 1972 Munger convenceu Buffett a aprovar a compra da See’s Candies pela Berkshire por US$ 25 milhões. Na época o fabricante de doces da Califórnia lucrava US$ 4 milhões. Desde então, a empresa rendeu mais de US$ 2 bilhões em vendas para a Berkshire.

Como escreveu Buffett em 2015: “Esta compra pôs fim à minha busca por investimentos ‘de bituca de charuto’ – empresas medíocres a preços ‘de pechincha’ – e colocou-me na busca de negócios esplêndidos que vendem a preços razoáveis”. Ele acrescentou: “Charlie vinha recomendando esse curso há alguns anos, mas eu aprendia devagar”.

“Munger me afastou da ideia de comprar empresas sem tanto potencial a preços muito baratos, sabendo que havia algum pequeno lucro nisso. Na verdade ele buscava negócios realmente promissores que pudéssemos comprar a preços justos”, disse Buffett à CNBC em maio de 2016.

Buffett apelidou Munger de “abominável ninguém” pela sua ferocidade em rejeitar potenciais investimentos, incluindo alguns que Buffett poderia ter feito de outra forma. Mas Munger, que era fascinado por engenharia e tecnologia, também levou Buffett, com fobia tecnológica, a grandes apostas na BYD, um fabricante chinês de baterias e veículos eléctricos, e na Iscar, um fabricante israelenses de peças para carros.

Na assembleia de acionistas da Berkshire em 1998, Munger sentenciou: “Não é assim tão divertido comprar uma empresa da qual se espera realmente que esteja perto de de falir”.

Munger, diz a CNBC, era homem honesto, espontâneo, que complementava os comentários bem-humorados de Buffett. Quando não o fazia, repetia o “não tenho nada a acrescentar”, após uma resposta completa e definitiva de Buffett às perguntas nas reuniões anuais da Berkshire em Omaha. Assim como o seu amigo e colega, Munger era uma fonte de sabedoria nos investimentos e na vida, lembra a CNBC. E como um de seus heróis, Benjamin Franklin, não faltou humor à visão de Munger.

“Tenho um amigo que diz que a primeira regra da pesca é pescar onde os peixes estão . A segunda regra da pesca é nunca esquecer a primeira regra. Ficamos bons em pescar onde os peixes estão”, disse Munger, aos 93 anos, numa reunião da Berkshire em 2017.

Brilhante por mérito próprio

Munger foi um investidor brilhante por mérito próprio. Começou a gerir parcerias de investimento em 1962. Desde então até 1969, o índice S&P 500 ganhou uma média anual de 5,6%. As parcerias de Buffett retornaram em média 24,3% ao ano. O de Munger teve um desempenho ainda melhor, com ganhos médios anualizados de 24,4%.

Enquanto transformava a Berkshire numa holding de seguros e outras empresas, Buffett continuou à procura de negócios medíocres a preços de pechincha. Em vez disso, Munger concentrou-se em grandes empresas a preços aceitáveis, considerando que a sua capacidade de produzir dinheiro no futuro mais do que compensaria o pagamento antecipado de um preço premium.

Ao longo de anos de discussão, Munger convenceu seu parceiro a mudar. “Fui tremendamente moldado por Charlie”, disse Buffett em 1988. “Cara, se eu tivesse ouvido apenas Ben Graham, algum dia seria muito mais pobre.”

Em 2015, Buffett escreveu que Munger lhe ensinou: “Esqueça o que você sabe sobre comprar negócios justos a preços maravilhosos; em vez disso, compre negócios maravilhosos a preços justos”.

A Berkshire “foi construída de acordo com o modelo de Charlie”, acrescentou Buffett.

Formado em Matemática

Charles Thomas Munger nasceu em Omaha, Nebraska, no dia de Ano Novo de 1924. Seu pai, Alfred, era advogado; sua mãe, Florence, era dona de casa e leitora ávida.

Depois de se formar em matemática na Universidade de Michigan, deixou a escola para se alistar no Corpo Aéreo do Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.

Após a guerra, Munger convenceu um reitor da Faculdade de Direito de Harvard a admiti-lo sem diploma universitário.

Os dois homens que dirigiriam a Berkshire Hathaway se conheceram em 1959, quando Munger, que já havia se mudado para Los Angeles, foi a um jantar em sua cidade natal, ao qual Buffett também compareceu. Eles se deram bem instantaneamente e em pouco tempo se tornaram inseparáveis, muitas vezes conversando por telefone várias vezes ao dia.

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Discípulo de Benjamin Graham, Munger foi um dos investidores mais respeitados do planeta. A fortuna de Charlie Munger era avaliada em US$ 2,3 bilhões. Era considerado por muitos como um dos maiores entendedores sobre psicologia e comportamentos na área de investimentos.

Além de ser vice-presidente da Berkshire, Munger foi advogado imobiliário, presidente e editor do Daily Journal Corp., membro do conselho da Costco, filantropo e arquiteto.

Quem foi Charlie Munger

Charlie Munger, nascido em Omaha, Nebraska, em 1ª de janeiro de 1924, deixa nove filhos, entre eles dois enteados. Munger é filho de Alfred Charles Munger, um advogado formado em Harvard, e Florence Munger, neto de Thomas Charles Munger.

Seu avô era juiz do Tribunal Distrital de Nebraska, nos Estados Unidos. Ele gostava de dar sermões à família sobre as virtudes de economizar dinheiro e evitar vícios como bares e jogos de azar.

O primeiro casamento de Munger, aos seus 21 anos, foi com Nancy Huggins Freeman. O casal teve três filhos juntos e se divorciou em 1953. Nancy Freeman morreu em 22 de julho de 2002, aos 76 anos, por causa de um câncer.

Poucos anos após seu divórcio com Nancy Freeman, Charlie Munger casou-se com Nancy Barry em 1956, e seus dois filhos se tornaram enteados de Charlie Munger.

Eles permaneceram casados ​​até a morte de Nancy em 6 de fevereiro de 2010, aos 86 anos. Nancy Barry e Charlie Munger tiveram 4 filhos juntos, e um de seus filhos, chamado Teddy, foi diagnosticado com leucemia aos 8 anos.

Charlie pagou tudo com dinheiro do próprio bolso porque não tinha seguro saúde. Diariamente, ele levava Teddy ao hospital para exames, enquanto cuidava de seus outros dois filhos, no entanto,  aos 9 anos, Teddy faleceu.

Naquele momento da vida, Charlie Munger não tinha um casamento feliz, a falência financeira batia a sua porta e a perda de um dos filhos foi a gota final. Seria tentador desistir de tudo e recorrer aos vícios, mas Charlie não era esse tipo de pessoa, ele se reergueu e  continuou sua jornada.

Investimentos em tempo integral

Após se formar em Direito pela Universidade de Harvard, Munger fundou seu próprio escritório de advocacia em Los Angeles. Esse escritório foi chamado de Munger, Tolles & Olson, e era voltado para o mercado imobiliário.

Em 1965, ele deixou Munger, Tolles & Olson para se concentrar em investimentos em tempo integral. Seus investimentos começaram a produzir uma taxa de retorno anual de mais de 20%. Esse valor era 4 vezes a taxa de juros média do mercado na época.

Durante todo esse tempo, Munger fez amizade com outro investidor de Omaha, que detinha uma estratégia de investimento focada, cuidadosa e com riscos muito bem calculados com visão de futuro esperada.

Desse modo, Charlie Munger se tornou o consultor do outro investidor, adquirindo um negócio têxtil em decadência como holding, a Berkshire Hathaway. Nesse local, seu peculiar amigo era nada menos que Warren Buffett.

Leia o artigo Os princípios de investimentos de Charlie Munger, de Tiago Reis

Warren Buffett e Charlie Munger

Munger e Buffett se conheceram em Omaha, Nebraska, em 1959, em um jantar de boas-vindas de amigos no Johnny Café. Os dois foram apresentados por um médico em Omaha presente na confraternização, que acreditava que os dois se dariam bem.

Após se conhecerem, Munger e Buffett começaram a conversar regularmente. Descobriram que Munger já havia trabalhado na mercearia do avô de Buffett quando eram adolescentes. Eles não se conheceram na época porque Munger era seis anos mais velho que Buffett.

Em 1978, ele foi nomeado vice-presidente da Berkshire Hathaway, onde ele e Buffett trabalhavam juntos desde então. Passou a ser frequentemente referido como sócio de Warren Buffett e seu o “braço direito”.

De 1984 a 2011, Munger atuou como CEO e presidente da Wesco Financial Corporation, uma subsidiária integral da Berkshire Hathaway. Atuou na categoria de seguros, aluguel de móveis e serviços de aço, ajudando a construir uma carteira de ações, avaliada atualmente em mais de US$ 6,4 bilhões.

Além de ser vice-presidente da Berkshire Hathaway, Munger era presidente do Daily Journal Corporation. Ela é uma editora e empresa de tecnologia americana com sede em Los Angeles e diretor da Costco Wholesale Corporation, uma empresa de varejo, sediada em Washington.

Em quase cinco décadas, os dois se tornaram bilionários e, ao mesmo tempo, transformaram a Berkshire Hathaway em uma gigante de investimentos, avaliada em US$ 658 bilhões.

Estratégia de investimento de Charlie Munger

A filosofia de investimento de Charlie Munger se concentra em minimizar o risco, reduzindo sua carteira de investimentos a um número concentrado de ações com as quais ele está muito familiarizado e garantindo que mantenha padrões de investimento altamente éticos, diz o perfil dele na Suno.

Charlie Munger emitiu as seguintes declarações sobre por que mantém sua estratégia de investimento simples: “Ao permitir-nos entender melhor o que estamos fazendo, a simplicidade pode melhorar o desempenho” e “Se algo for muito difícil, recorremos a outro. O que pode ser mais fácil do que isso? Somos apaixonados por tornar as coisas simples.”

Apesar de as estratégias de investimento de Charlie Munger e Warren Buffett serem bastante similares, Munger enfatiza um elemento particular, o comportamento humano. Para ele, o comportamento de um investidor pode afetar o comportamento de outros investidores.

Em outras palavras, uma determinada notícia pode fazer com que milhões de investidores comprem ativos de um determinado setor e vendem de outro, o que pode resultar em uma extrema volatilidade do mercado.

Este é um efeito muito semelhante ao efeito bola de neve, no entanto, acontece através de um nível psicológico. Por essa razão, Munger sempre trouxe a racionalidade, foco e paciência na gestão de seus investimentos.

Reunião anual da Berkshire

Todos os anos, Warren Buffett e Charlie Munger se reúnem na reunião anual da Berkshire, que se tornou um dos maiores conglomerados do mundo, contando com a presença de alguns de seus acionistas, para poderem ouvir a  sabedoria da dupla.

Desse modo, a Berkshire Hathaway estabeleceu o padrão para reuniões anuais, que se tornou um dos eventos mais famosos no mercado financeiro. Além de definir os rumos da empresa para os próximos anos, a reunião serve para que os demais acionistas possam aprender com os investidores mais respeitados do mundo.

O encontro com Warren Buffett e Charlie Munger fornece diversos insights sobre empresas, mercados, economia, governança corporativa e diversos outros assuntos das duas lendas vivas dos investimentos. Além disso, é uma excelente oportunidade para fazer networking.

“Inflação é ‘perigo enorme’ e razão para a queda de democracias”

Em entrevista ao americano Yahoo! Finance em janeiro de 2022, Munger disse que a inflação é um dos caminhos pelos quais as democracias morrem, citando como exemplos desde países latino-americanos até a Alemanha na década de 20 do século passado.

“É provavelmente o maior perigo de longo prazo que nós temos – com exceção de uma guerra nuclear”, afirmou o investidor.

Sobre a atuação do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), no combate ao aumento de preços nos Estados Unidos, Munger avalia que a resposta dos governos nas democracias modernas é sempre descomunal.

“Mas dessa vez a resposta foi maior do que jamais foi na história dos Estados Unidos. Simplesmente jogaram dinheiro no problema e eles, provavelmente, estavam certos em temer o que iria acontecer. Francamente, acho que eles ‘sobrefizeram’ o conserto”, afirmou o sócio de Buffett.

“Eles jogaram tanto dinheiro e tão rápido que está difícil para restaurantes encontrarem pessoas para trabalhar. Mas eu não critico, é difícil tomar estas decisões sob pressão”, ressalvou.

investidor lendário e sócio de Buffett, que se aproximava dos 99 anos, também se manifestou favorável às alternativas energéticas renováveis, em detrimento da exploração da indústria de hidrocarbonetos.

“Sou a favor de conservar os hidrocarbonetos em vez de usá-los o mais rápido possível. E sou a favor de toda essa nova capacidade de produção de energia solar e eólica, agora que ela ficou tão eficiente”, disse.

Segundo Munger, mesmo se não houvesse problemas de aquecimento global, ele ainda teria a mesma posição que vê no governo americano, o incentivo massivo pelo uso de fontes renováveis de energia. “Acho que isso seria inteligente, simplesmente pelo fato de economizar petróleo”, disse.

“Petróleo tem diversos usos químicos, para fertilizantes e química em geral. É coisa preciosa. Eu não me importo que parte grande disso fique debaixo do chão – é um bom lugar para guardar”, afirmou. Para o investidor, explorar o petróleo o mais rápido possível é como se livrar de riquezas naturais, como o solo fértil de Iowa (norte dos EUA).

“Amo a ideia de conservar os recursos naturais. Todos serão utilizados eventualmente e não estou com pressa”, disse Munger.

Com Estadão Conteúdo

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Marco Antônio Lopes

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