Brasil e Argentina: qual a diferença entre moeda comum e única?

Os presidentes do Brasil e da Argentina, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Alberto Fernández, respectivamente, assinaram um artigo no jornal argentino Perfil no domingo (22), em que defendem o início de estudos da criação de uma moeda comum entre os países da América do Sul. A notícia gerou comoção nas redes sociais, com a perspectiva do fim do real. Contudo, uma moeda comum não significa um único câmbio para todos os países do bloco, como acontece na zona do euro.

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O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, diz que esse é o principal ponto de atenção neste momento. “É uma moeda para transações financeiras e comerciais, que visa facilitar o comércio entre os dois países. Na balança comercial, a Argentina representa 5% das nossas importações, na média”, disse, em entrevista ao Suno Notícias.

Na publicação de Lula e Fernández, os dois chefes disseram que decidiram avançar nas discussões sobre a moeda sulamericana “levando à redução de custos operacionais e reduzindo nossa vulnerabilidade externa”.

Moeda comum entre Brasil e Argentina beneficiaria os dois países?

A Argentina sofre atualmente com problemas de reservas cambiais – falta dólar no país. A nação tem uma crise externa muito grande, e isso impossibilita o controle de juros e inflação.

A Argentina viu os preços quase dobrarem em 2022, quando a taxa de inflação anual do país atingiu seu nível mais alto em mais de 30 anos. Os preços ao consumidor subiram 94,8% nos 12 meses encerrados em dezembro.

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“Com problemas de reservas cambiais, há um grande conflito doméstico que não é resolvido há anos. Isso no Brasil é diferente: há uma reserva de bilhões de dólares, e fica protegido, de certa forma, de riscos externos”, aponta Sung.

Diante disso, quem seria beneficiado, principalmente, e dependeria menos do dólar para questões comerciais seria a Argentina. Hoje o país compra produtos mais caros pois custa mais adquirir dólar para transações.

Para o Brasil, na visão do economista, pode haver certa melhora comercial com a moeda comum, mas para políticas monetárias e controle de cotação, se será atrelado ao dólar ou não, é algo que preocupa.

“Há muitas questões a serem estudadas ainda. Como os juros influenciarão essa moeda? A Argentina tem uma inflação de quase 100% e juros altíssimos. O Brasil é um país muito mais estruturado, mesmo com questões fiscais, em relação à Argentina”, pondera.

Na comparação com o euro, que é a única moeda para 19 países, há uma taxa de juros para todas as nações. “Aumentar os juros para a Alemanha pode não ser um grande problema. Enquanto isso, a dívida na Itália é de 150% do PIB – se os juros são elevados, a dívida aumenta”, diz o especialista.

Por fim, Sung avalia que ter uma moeda comum para Brasil e Argentina, paralela com o dólar, não cabe muito na conversa e deve gerar mais problemas para o Brasil do que para a Argentina.

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Beatriz Boyadjian

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