Grana na conta

CEO do Bradesco (BBDC4) relata ‘seca’ em crédito para pessoas jurídicas e espera controle da inadimplência no 3T23

Após um trimestre com lucro de R$ 4,28 bilhões – acima dos R$ 3,75 bilhões projetados pelo consenso Bloomberg – o CEO do Bradesco (BBDC4), Octavio de Lazari Junior, destacou um cenário ainda afetado pelos juros altos no Brasil e pela continuidade da desaceleração na tomada de crédito por parte das pessoas jurídicas.

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Em teleconferência, o executivo destacou que dado o patamar macroeconômico atual, há um “compasso de espera” por parte dos agentes econômicos.

“O que tivemos nesse 1T23 foi uma ‘seca’ na procura por pessoas jurídicas. Crédito das pequenas e médias empresas também não cresceu tanto. Aliado a isso, no primeiro trimestre tivemos pouquíssimas operações no mercado de capitais“, comenta.

“Reafirmamos a preocupação e o cuidado com a inadimplência, de ela até ‘escorregar’ um pouco no segundo ou terceiro trimestre. As novas safras já têm vindo com um nível de inadimplência melhor, e tivemos a preocupação de sermos mais seletivos com crédito. Nas boas operações e os clientes com bom perfil de risco continuamos ‘muito acelerados’, fazendo operações”, acrescenta.

Cotação BBDC4

Gráfico gerado em: 05/05/2023
1 Dia

Nos resultados referentes aos dois trimestre anteriores, o banco havia sangrado após anotar resultados considerados ruins até para os analistas mais pessimistas, chegando a derreter 17% na bolsa no pregão que sucedeu a publicação do resultado do 3T22.

O banco também foi um dos mais afetados no caso Americanas (AMER3), dada a exposição de crédito relativamente alta e o provisionamento exigido após a revelação do rombo contábil na varejista.

Além disso, a exposição ao crédito de pessoas físicas e pequenas e médias empresas – o varejo, mencionado como ‘DNA do banco’ pelo próprio CEO – preocupava analistas.

Segundo Lazari, a expectativa é de que o Bradesco veja uma inadimplência controlada somente no terceiro trimestre deste ano.

“O que você deve observar trimestre a trimestre é uma melhora [das Non-performing loans, ou NPLs]. Se a taxa de juros cair, ela melhora marginalmente. Com relação à inadimplência, deixo claro que ela deve seguir alta neste e no segundo trimestre deste ano. A expectativa é de que no terceiro trimestre ela fique controlada”, afirma.

“As linhas que trouxeram mais problemas de inadimplência foram as de cartão de crédito, pessoa jurídica pequena, capital de giro, e uma boa dose das linhas que usamos para ajudar clientes na pandemia, com prazos maiores. Mas o capital de giro para micro e pequenas empresas e cartão de crédito puxaram a inadimplência”, completa

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Números do Bradesco no 1T23

O banco anotou um lucro recorrente de R$ 4,28 bilhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23). O valor representa uma queda de 37,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas, em comparação ao quarto trimestre de 2022, o lucro cresceu 168,3%.

O consenso Refinitiv apontava que o lucro líquido do Bradesco seria de R$ 3,596 bilhões no período.

A margem financeira total do Bradesco no 1T23 recuou 2,4% em relação aos três primeiros meses do ano passado, alcançando R$ 16,653 bilhões. A margem com clientes aumentou 7,3%, alcançando R$ 17 bilhões, mas caiu 2,9% em relação ao quarto trimestre de 2022.

Já a margem com mercado do banco ficou negativa em R$ 312 milhões entre os meses de janeiro e março de 2023.

A carteira de crédito do Bradesco fechou o trimestre em R$ 879,28 bilhões. O retorno sobre patrimônio (ROAE) do banco ficou em 10,6% no trimestre.

As provisões para empréstimos inadimplentes (PDD) caíram 36% em relação ao quarto trimestre de 2022, quando o banco optou por provisionar o total de seus créditos com a Americanas.

Entretanto, a PDD expandida do trimestre ficou em R$ 9,517 bilhões, um aumento de 96,8% em relação ao primeiro trimestre de 2022.

Analistas da XP destacaram o resultado como “desanimador” e viram uma deterioração na qualidade de crédito. A recomendação da casa é neutra para os papéis BBDC4, com preço-alvo de R$ 18.

“O Bradesco reportou um lucro líquido de R$4,3 bilhões no 1T23, o que representa um aumento de +16% em relação à nossa estimativa e ao consenso do mercado. No entanto, consideramos que o desempenho geral do banco no trimestre foi fraco. A pressão sobre as provisões, o aumento dos NPLs em 80 pontos-base sequencialmente e a redução do índice de cobertura foram os principais fatores que contribuíram para essa fraqueza”, afirma os analistas.

“O lucro líquido do Bradesco foi impactado positivamente pela menor alíquota efetiva de Imposto de Renda. Do lado positivo, o NII com o mercado melhorou e o segmento de seguros manteve seu momento positivo. No lado do portfólio de crédito, o ritmo de crescimento desacelerou e encerrou o trimestre abaixo do guidance para 2023″, acrescentam.

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Eduardo Vargas

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