Banco do Nordeste (BNBR3) quer desinchar Estado e prega transparência, diz CEO

O Banco do Nordeste (BNBR3) recentemente tomou a atenção do noticiário. Não apenas por ser o maior responsável pela concessão de microcrédito produtivo orientado no Brasil, com 92% de market share, mas também pelos ruídos políticos que o rondam — embora as perspectivas da instituição sejam muito maiores que isso.

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Romildo Rolim, então presidente do Banco do Nordeste, foi destituído do cargo no fim do mês passado, em um imbróglio político encabelado pelo PL, partido de apoio de apoio do governo de Jair Bolsonaro.

Para o lugar dele, Anderson Possa assumiu a cadeira de forma interina. Após 20 dias à frente das operações da empresa, Possa contou em entrevista ao Suno Notícias que é estritamente técnico, então não quer se envolver em polêmica.

Nesse sentido, quer melhorar a governança corporativa do BNB, investir em tecnologia e apostar no fomento cada vez maior do desenvolvimento da região nordestina.

“Estamos realizando um diagnóstico em todas as áreas do banco para melhorar nossa eficiência operacional e, assim, nosso índice de eficiência“, comentou Possa.

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O re-IPO que não aconteceu

Logo após a chegada da pandemia ao Brasil, ainda no primeiro trimestre do ano passado, o Banco do Nordeste informou ao mercado que faria uma nova oferta de ações, como uma espécie de re-IPO.

Atualmente, o banco avaliado em R$ 6,06 bilhões possui baixa liquidez no mercado, e a oferta subsequente de ações (follow-on), movimentando cerca de R$ 2 bilhões, poderia mudar isso. Contudo, os planos mudaram.

O banco informou, na última quarta-feira (20), que suspenderá, momentaneamente, o processo de uma eventual nova emissão de ações. De acordo com o executivo, a visão do banco frente à necessidade dos recursos mudou, e nada mais que isso.

“Quando começamos a discutir a operação no mercado tínhamos a preocupação quanto à pandemia. O BNB não sabia como ficaria o balanço, uma vez que trabalhamos com pequenos empreendedores, que sofreram com o coronavírus.”

Segundo Possa, foi entendido naquela época que seria prudencial realizar essa colocação de R$ 2 bilhões no mercado, tendo em vista que problemas de inadimplência estavam no radar do mercado. “Isso não se verificou. Os números no ano passado foram históricos.”

A aplicação para micro e pequenas empresas (MPEs) atingiu o maior patamar da história. O microcrédito, por sua vez, teve aplicação de R$ 15 bilhões. “Sendo que atuamos apenas nos nove estados do Nordeste, norte de Minas Gerais e norte do Espírito Santo.”

“Sem a necessidade, não tem porquê acrescentar mais R$ 2 bilhões na estrutura de capital, que está boa, embora sem folgas”, citou o presidente em exercício.

Itaú BBA, BTG Pactual, Bradesco BBI, Bank of America e UBS-BB haviam sido escolhidos para coordenar a oferta do banco. As atividades, por ora, estão paralisadas.

Banco do Nordeste prega transparência, encerra parceria com ONG e abre processo competitivo

O ex-presidente Rolim foi destituído após o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pedir sua demissão em ofício enviado à Casa Civil.

O pedido de destituição, segundo Costa Neto, foi resultado de um contrato mantido pela diretoria do banco com uma Organização Não-Governamental (ONG) na casa de R$ 600 milhões anuais.

O contrato refere-se a um Termo de Parceria com o Instituto Nordeste Cidadania (Inec) para a operacionalização do Crediamigo, uma das principais bandeiras do Banco do Nordeste.

Ele é o maior programa de microcrédito produtivo orientado da América do Sul, com mais de 2,24 milhões em clientes ativos e cerca de 3,5 milhões de empréstimos no ano passado.

Com a decisão do banco, o vínculo entre as instituições, que foi iniciado em 2003, termina em 31 de dezembro deste ano.

Sem polêmica

Em encontro com o presidente Jair Bolsonaro, Possa ouviu que o banco deveria fazer um “processo transparente”. “Ninguém falou em partido político. Não é isso que nos move neste processo, mas sim implementar um processo público de escolha para um valor tão alto.”

O presidente do Banco do Nordeste reitera que não aceita que o processo deixe de ocorrer “à luz dos princípios constitucionais que regem a administração pública.”

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O processo público de credenciamento, pensado em meses de trabalho e que possui mais de mil páginas, levou ao edital que está vigente.

O processo deve ser finalizado até o dia 30 de novembro, para que ao menos três novas parcerias passem a vigorar a partir da virada do ano.

Governança corporativa e Estado enxuto são alvos do Banco do Nordeste

A prioridade número 1 do Banco do Nordeste, no momento, é melhorar a governança corporativa. Abrindo o processo público desta escolha é o primeiro passo para isso.

“Para mim, não importa se antes esse processo de escolha era feito sem licitações, mesmo que a lei autorizasse. Não estava aqui para saber. A partir de hoje, acreditamos que seja melhor assim.”

Nesse sentido, o executivo argumenta que o banco hoje possui 6,7 mil funcionários, mas que a operação do microcrédito demanda mais do que isso.

“Não faz sentido contratar uma empresa pública, trazer sete mil pessoas para o banco e inchar o Estado. Isso não é do nosso interesse. A gente quer desinchar o Estado, é o contrário. Então, sim, faz sentido terceirizar a operacionalização da concessão desse crédito. Mas, a inteligência do programa é toda do Banco do Nordeste. Se não era, deveria ser e será.”

Em menos de um mês após sua posse, Passa disse que o Banco do Nordeste fará uma modernização no que se refere a sistemas e processos, “de forma a trazer agilidade e realocar os profissionais em áreas com maior aderência estratégica”.

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Jader Lazarini

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