Americanas (AMER3): entenda como rombo na dívida deve respingar em fundos e credores

Em meio a uma crise história no mercado de capitais, a Americanas (AMER3) revelou um rombo bilionário em seus balanços contábeis na semana anterior e agora enfrenta um imbróglio com credores.

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A companhia é uma emissora frequente de debêntures, títulos de renda fixa atrelados a empresas. Esses títulos da Americanas, detidos por alguns fundos e bancos, tiveram uma retração de 50% no valor de negociação – a marcação a mercado – com a crise desencadeada pela companhia.

O cofundador e Head de Investimentos em Infraestrutura da Bocaina Capital, Gabriel Esteca, destaca que esse movimento era esperado após o rombo e gera um impacto significativo nos detentores de fundos. A fala se deu no Gestão Ativa, quadro semanal do YouTube do Suno Notícias com gestores de ativos e profissionais vinculados à Asset Management.

“Quando você tem uma situação dessa como a da Americanas, o primeiro impacto que é uma redução do valor das negociações de mercado. Já na semana passada vimos isso, considerando inclusive que a Americanas é um emissor frequente de debêntures que estão espalhados por muitos fundos do mercado, e que muitos fundos de crédito tinham exposição”, explica.

“Essa situação toda remete ao fato de que aquele valor [de perda] pode ser irrecuperável”, completa.

O especialista destaca que tanto os fundos quanto as agências de risco se atentam a dois pontos quando concedem crédito: Probabilidade do calote e a perda efetiva dada a inadimplência, ou Less Given Default (LGD).

Levando isso em consideração, são firmados instrumentos que impedem a empresa que toma o crédito de se endividar em grandes volumes.

Esteca, da Bocaina, destaca que no caso da Americanas há um grande imbróglio pelo fato de a ter tido seus balanços contábeis questionados.

“No caso da Americanas ou de outras corporações que são emissores frequentes, você tem o que chamamos de covenants. Um dos possíveis é a relação da dívida líquida pelo Ebitda, que é o indicador de endividamento da companhia. Isso mostra quantos anos de geração de caixa você precisa para pagar o estoque de dívida da companhia”, explica.

“Com isso você coloca a obrigação na empresa de não ter um endividamento superior aquele estabelecido previamente. Ou seja, se a empresa romper o covenant, ela fica sujeita a ter sua dívida vencida. Parte do caso da Americanas é esse. A reclassificação contábil levaria à dívida financeira da empresa a explodir, e então ela romperia os covenants de dívida das debêntures”, completa.

Garantia da Americanas era o próprio balanço

Os próprios balanços contábeis, agora questionados, são umas das garantias da emissão de debêntures, dado que a maioria são classificadas como quiografárias.

Essa situação pode levar o credor e o tomador de crédito a um imbróglio complicado.

“Quando o balanço tem um impacto como esse, o credor acaba em uma situação de participação na recuperação judicial ou com acesso aos ativos da companhia em um cenário de falência”, explica.

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Segundo o especialista, debêntures com mais garantias tendem a ser preferíveis em relação a debêntures tradicionais. Os investimentos em infraestrutura da Bocaina, por exemplo, detêm debêntures Sociedades de Propósito Específico (SPEs), que têm mais garantias e dão mais segurança ao credor – neste caso, o fundo da casa.

Nesse caso, fundos da casa como o BODB11 detém debêntures de empresas vinculadas à infraestrutura, um setor considerado promissor pela gestora. As empresas emissoras são, por exemplo, a Rota dos Grãos, o Terminal Portuário Santa Catarina (TESC) e a Hélio Valgas, de energia solar.

“As debêntures com garantias reais, como alienação de imóveis, de ações, ou uma seção fiduciária de recebíveis ou de direitos creditórios, você vê elas como melhorias de crédito. Você tem garantias concretas para executar o crédito, partindo do pressuposto que o balanço da empresa não é o suficiente”, comenta o gestor.

Varejista já enfrenta imbróglio com bancos

Conforme reportado pelo Suno Notícias, o BTG Pactual (BPAC11) está entre os credores com maior exposição à dívida da Americanas. Atualmente ambos estão em uma judicialização do caso, e podem entrar em acordo ou participar da recuperação judicial da companhia, a depender dos próximos capítulos.

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Eduardo Vargas

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