Grana na conta

‘Dificilmente teremos outro caso como o da Americanas (AMER3)’, diz ex-diretora da CVM

Desde quarta-feira (11), o mercado financeiro se prepara para mais um baque a qualquer momento. Isso porque a Americanas (AMER3) revelou inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões e, até então, não se sabe o que houve de fato na contabilidade da empresa. Mas será que este é um caso comum a ponto de ser repetido? Segundo Luciana Dias, ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “é difícil falarmos em um novo escândalo dessa proporção”.

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Em entrevista ao Suno Notícias, Luciana explica que ainda não é possível saber o que aconteceu na Americanas. “As informações são muito opacas. Inconsistências contábeis podem ser geradas basicamente por três fontes diferentes e ainda não sabemos quais delas terão relação com os problemas identificados pelo ex-CEO Sergio Rial”, disse. São elas: falta de controles internos, políticas contábeis conservadoras ou erradas, ou fraudes.

Rial, que permaneceu no comando por nove dias, não esclareceu qual é a origem dos problemas encontrados. Mas questiona-se se o assunto poderia ter sido trazido por meio de denúncias, como ele pode ter sugerido no texto publicado no LinkedIn na terça-feira (17).

“Não apenas denúncias por fraude, mas de falta de controle interno ou políticas conservadoras. O que mais apavorou o mercado foi a saída de Rial após nove dias no cargo. Ele foi contratado com o objetivo de uma virada operacional na companhia, de crescimento, e a expectativa era grande”, avaliou Luciana.

Quem deixou passar os R$ 20 bilhões da Americanas?

Segundo Luciana Dias, a CVM tem se manifestado sobre a contabilidade da Americanas desde 2016. A autoridade exemplificou os casos necessários para análise e as razões pelas quais o julgamento contábil poderia se dar de uma maneira errada para inflar o estoque ou Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia.

“Essa é uma discussão que deve ser feita com o auditor. Não acredito que a CVM poderia ter sido mais prescritiva, de maneira que não há um consenso a respeito disso no âmbito internacional também. A autoridade alertou o mercado sobre o caráter problemático do assunto e a necessidade de sua discussão”, analisou a ex-diretora da Comissão.

O problema é mais complicado do que parece. Segundo a especialista, não há uma ‘receita’ de como essas operações devem ser contabilizadas. Há diversas maneiras, desde que reflitam de maneira mais fidedigna possível a real situação financeira da companhia. Por isso, muitas vezes, há espaços para julgamentos.

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Na visão de Luciana, a supervisão da CVM poderia ter adiantado a questão e tratado de maneira mais educativa. “Talvez o problema não teria tomado toda essa proporção que estamos vendo”, comentou.

No caso da PricewaterhouseCoopers (PwC), responsável pela auditoria, Luciana acha “muito difícil que não se tenha discutido a política contábil”. “Isso é muito padronizado. A empresa de auditoria presta atenção no que os reguladores estão falando e coleta informações. A auditoria auxilia a companhia a entender opções contábeis. Acho muito difícil essa discussão não ter ocorrido.”

Caso da Americanas pode se repetir?

O anúncio da Americanas veio como um choque aos investidores da companhia. Não à toa, na visão de Luciana, mas com poucas chances de se repetir.

Com o baque, muitas empresas já estão se adiantando para analisar e soltar comunicados sobre suas políticas contábeis em relação a essas operações.

“É arriscado dizer que teremos uma cascata de más notícias no setor de varejo. Isso porque as companhias têm se mostrado abertas a discutir contabilidade. Depois de um caso como esse, os auditores internos e externos, além do próprio regulador, devem reforçar seus serviços. Acho difícil falarmos em um novo escândalo da proporção vista na Americanas”, apontou Luciana Dias.

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Beatriz Boyadjian

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