Fundos de ações revelam estratégias em meio às incertezas; entenda o cenário

A inflação brasileira desacelerou em junho, com o IPCA subindo 0,24%, mas segue acima do teto da meta e pressiona as decisões do Banco Central, que optou por manter a Selic em 15%. Diante disso, gestoras de fundos de ações continuam adotando uma abordagem cautelosa, priorizando carteiras voltadas à economia doméstica, com foco em empresas resilientes e com fundamentos sólidos.

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A estratégia, que já vem sendo praticada por casas como Fator e AZ Quest, tem como base a leitura de que, em um cenário de inflação ainda resistente, fiscal fragilizado e incerteza externa, vale mais apostar na qualidade dos ativos do que em grandes tendências macroeconômicas.

Seletividade defensiva, inflação no radar e foco no mercado local

No fundo Fator Absoluto FIC FIA, o primeiro semestre fechou com alta acumulada de 25%, bem acima do Ibovespa (+15,4%), impulsionado principalmente por papéis ligados à economia doméstica. Os destaques positivos vieram de setores como infraestrutura (Marcopolo), bancos (BTG, Bradesco) e consumo (Mercado Livre, Track&Field e Lojas Renner).

A gestora segue com postura conservadora. “As taxas de juros de curto prazo e as curvas de juro real embutem perspectiva de esfriamento da economia, o que nos mantém cautelosos”, destaca o relatório.

Ao mesmo tempo, a Fator admite que os dados recentes “mais favoráveis nos índices de preços” podem permitir uma antecipação de cenário de corte de juros, mas isso dependerá da reancoragem fiscal e da disposição dos investidores de antecipar esse movimento.

Em termos de alocação, o fundo realizou trocas pontuais em junho: vendeu Kepler, Track&Field, Cyrela e Direcional, e reforçou posições em Lojas Renner, Santander, Multiplan, Rumo e JSL. Ao final do mês, a exposição líquida era de 97,4%, com maior peso em bancos (22,8%) e utilities (11,8%).

Outras gestoras reforçam o mesmo diagnóstico

Na AZ Quest, a estratégia também tem priorizado o equilíbrio entre risco e qualidade. O portfólio mescla empresas voltadas à economia interna com setores defensivos como energia elétrica e bancos. “Empresas de baixa qualidade a gente não vai adicionar no portfólio, nem se tiverem um beta alto”, disse João Mamede, analista da casa. A visão da AZ Quest para o segundo semestre é “cautelosamente otimista”.

Pressão fiscal e cenário internacional ainda travam cortes

Apesar de alguns sinais técnicos positivos no IPCA e da queda do dólar no semestre (-12%), o cenário macroeconômico segue pressionado por riscos fiscais internos e pela instabilidade global. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, deve enviar uma carta ao ministro Fernando Haddad explicando por que a inflação ficou fora da meta, o que reforça o compromisso com o controle inflacionário, mesmo diante da desaceleração recente dos preços.

Além disso, o governo federal discute mudanças significativas na tributação de investimentos, com impactos potenciais sobre o comportamento de alocação no segundo semestre.

“Encerramos o semestre sob um ambiente carregado de incertezas, mas com um fluxo consistente de capital estrangeiro e valorização de ativos domésticos”, resume a carta da Fator.

Em um ambiente onde a expectativa de corte de juros depende diretamente da reancoragem fiscal, as gestoras seguem apostando no básico: qualidade, disciplina e foco no Brasil, com a inflação ainda no centro das atenções.

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Maíra Telles

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